BC corta juro em 1 ponto e frustra o mercado

O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) foi conservador e decidiu, no final da tarde de ontem, cortar a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em apenas 1 ponto percentual, para 16,5% ao ano. Trata-se da sétima queda de juros consecutiva nos últimos sete meses e da menor taxa desde abril de 2001.

Apesar de esperada por boa parte dos analistas de mercado, a decisão desagrada aos empresários. O presidente da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), Armando Monteiro Neto, havia dito, anteontem, que o corte de 1 ponto seria ?uma grande frustração?.

?Tendo em vista a convergência da inflação para a trajetória das metas e as perspectivas favoráveis para a evolução da atividade econômica, o Copom decidiu, por unanimidade, fixar a taxa Selic em 16,5% ao ano, sem viés?, informou o Copom, em nota do BC.

Juros menores significam custos mais baixos para as empresas investirem e para os consumidores irem às compras, dois fatores que poderiam ajudar a combalida economia brasileira a iniciar uma recuperação firme em um momento de aumento do desemprego e queda da renda.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas por um país) cresceu só 0,4% no terceiro trimestre em relação ao segundo. Todas as previsões, inclusive as do próprio governo e do FMI (Fundo Monetário Internacional), apontam para um crescimento próximo de zero neste ano.

Além disso, ainda há dúvidas sobre o fôlego da leve recuperação detectada nos últimos meses. A produção industrial do País recuou em outubro, após se recuperar nos meses anteriores.

Um último fator que torna a decisão do Copom frustrante são os dados de inflação, que mostram que os preços estão sob controle e poderiam dar espaço para uma atitude mais ousada sem que houvesse risco de um aquecimento da demanda superior à capacidade do setor produtivo. De acordo com o IBGE, o IPCA (índice que serve de base para o cálculo das metas de inflação) ficou em 0,34% em novembro.

Neste mês, a tendência de preços desaquecidos se manteve até agora. Na primeira quadrissemana de dezembro, a Fipe apontou inflação de apenas 0,22% em São Paulo. Já a Fundação Getúlio Vargas divulgou que o IGP-M (principal índice de preços no atacado) subiu apenas 0,27% na primeira prévia de dezembro.

O corte de 1 ponto, entretanto, era defendido pela maioria dos analistas de mercado, segundo boletim semanal divulgado pelo BC nesta segunda-feira. Para esses analistas, seria adequado que o BC observasse os efeitos dos últimos cortes das taxas de juros antes de tomar decisões mais ousadas.

Empresários criticam a ?timidez?

Embora tenha ficado dentro da expectativa do mercado, o corte de um ponto percentual na taxa Selic foi considerado pouco para empresários e economistas. Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, a medida foi muito tímida para a retomada da trajetória de crescimento do Brasil. ?Há uma crença fundamentalista insistente na política monetária do Banco Central. O dogmatismo exacerbado impede que se vislumbre o crescimento por outra ótica, que não a do controle da inflação pelas elevadas taxas de juros?, declarou.

Rocha Loures comentou que a elevada taxa de juros distorce o câmbio, prejudicando as exportações, detém investimentos e provoca sobrecarga no orçamento público. ?O juro alto causa impacto desfavorável no crédito, afeta o consumo e corrói a renda das famílias. É uma trava para o desenvolvimento?, afirmou. Para o presidente da Fiep, é uma contradição manter altas taxas de juros quando o Brasil precisa crescer para gerar emprego e renda. ?Se o PIB crescer 3,5% em 2004, não teremos uma política de empregos sustentável. Precisamos crescer o dobro para diminuir o desemprego?, avalia.

O presidente do Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon/PR), Norberto Ortigara, disse que a redução ficou dentro da expectativa de mercado, porém destacou que a decisão do Copom foi ?absolutamente conservadora?. ?A queda reforça a tendência de levar a taxa de juros para um nível mais decente, mas ainda continua muito tímida?, considera, acrescentando que há espaço para uma diminuição de mais 2 ou 3 pontos percentuais sem que isso represente pressão inflacionária.

?O Brasil continua pagando juros à toa. As contas públicas estão ficando caras sem necessidade porque não há risco de fuga de capitais, a captação externa está boa, as contas estão em dia e conseguimos mais um colchão no FMI?, cita Ortigara. Para ele, poderia haver uma redução mais audaciosa dos juros ?até para referendar o discurso do presidente para os empresários, incentivando a investir na produção?.
Na opinião do analista de mercado Marcelo Martenetz, da SM Consultoria Econômica, o principal objetivo do corte da Selic foi facilitar a tomada de crédito.

?O governo facilita as compras de final de ano e dá um segundo start para o aquecimento da economia?, analisa. No entanto, ele aponta que com a melhora nas vendas, há um risco de pequena inflação, já que os preços podem subir. De qualquer forma, salienta, a queda na Selic representa um alívio nos juros do cheque especial e do cartão, que mesmo assim continuam acima de 100% ao ano. ?Por outro lado, para quem aplica o dinheiro, a poupança e os fundos de investimento vão render menos?.

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