Dos campos de algodão às salas de concertos

Juarês De Mira, cantor paranaense que se dedica ao estudo e pesquisa sobre a musica negra norte-americana, e a pianista Analaura de Souza Pinto estarão apresentando o recital Negro Spiritual e Folksongs no dia 27 de março às 11 horas, no Guairão.

O concerto faz parte do projeto Teatro para o Povo do Centro Cultural Teatro Guaira. A entrada é franca, mas o público pode participar de uma campanha em prol do Pequeno Cotolengo, levando um quilo de alimento não perecível.

No repertório os grandes arranjadores Harry T. Burleigh, Rosamond Johnson, Lawrence Brown, Hall Johnson e os compositores Jerome Kern e George Gershwin e canções como Ol’ Man River, Swing Low Sweet Chariot, I Got Rhytm, Sometimes I Feel.

O programa terá algumas das mais consagradas canções do Negro Spirituals e de compositores que muito usaram da temática da musica negra. Os Spirituals constituem um dos mais amplos conjuntos de canções folclóricas norte-americanas. São a fonte inspiradora de grandes compositores e deram origem ao blues ao jazz, ao gospel.

Também influenciaram seguidas gerações de músicos em todo mundo. Cantores como Grace Bumbry, Leontyne Price, Jessye Norman, Kathleen Battle, Barbara Hendricks, Simon e outros fizeram e fazem recitais e gravações com grande sucesso.

História

Em 1619, vinte e duas pessoas que foram capturadas e trazidas da África, aportaram em Jamestown – Virgínia e rapidamente foram vendidos como escravos. Deles foi roubado, sua língua, família, e grande parte de sua cultura; ainda assim seus opressores não puderam remover a sua música, que era a expressão da alma deste povo.

Ano após ano esses escravos e seus descendentes aceitaram o cristianismo que era a religião de seus senhores. Do contato que tiveram com as histórias bíblicas nasceu os Negros Spirituals ou Plantations Songs, um poderoso gênero que se tornou um dos elementos mais significativos da música americana.

Nestas melodias simples eles expressaram o modo como eram tratados; suas labutas, suas dores, a brutalidade e a opressão a que eram submetidos, mas também expressava a sua fé, esperança e alegria.

Eles estavam proibidos de falar ou de fazer instrumentos musicais como o tambor que usavam freqüentemente na África para se comunicar, mas lhes era permitido cantar o que quer que sentissem.

Este cantar transformou-se num valioso instrumento de expressão e numa forma de atenuar a cruel e brutal vida de escravo. Utilizaram então os shouts (dança sagrada), os "hollers" (gritos) – que era um grito musical longo, subindo e descendo e atingindo o falsete-, que evoluíram para o Spiritual e para as Works Songs.

Usavam também as canções como códigos para se comunicarem, particularmente quando se planejava fugas ou reuniões secretas. As primeiras informações sobre o uso destes códigos foram encontradas na autobiografia do abolicionista Frederick Douglass e posteriormente obtidas com depoimentos de ex-escravos.

O Spiritual era criação espontânea e, sem acompanhamento de instrumentos, e recebia adornos de modo a melhor servir aos cantores. Tem-se registro de aproximadamente 600 dessas canções. Entretanto, a tradição oral na transmissão e a proibição aos escravos educados a lerem ou escreverem significou que muitos se perderam.

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