Obras na Visconde de Guarapuava reacendem debate sobre asfalto em ano de eleições

Foto: Lineu Filho

A mais recente licitação de asfalto em Curitiba, que inclui a Avenida Visconde de Guarapuava, vai completar o pacote de 400 quilômetros de pavimentação prometidos pelo prefeito Rafael Greca (DEM) na campanha de 2016. A visibilidade da obra – que teve início em 10 de março, em uma das maiores e mais importantes vias da cidade – colocou o tema em destaque, mobilizando cidadãos e políticos em críticas e elogios aos projetos.

Naquele dia, o deputado estadual e pré-candidato à prefeitura de Curitiba Fernando Francischini foi até a Visconde de Guarapuava gravar um vídeo para mostrar o congestionamento na via, e afirmou que é uma “obra eleitoreira” e não tão necessária, já que “o pavimento está em boas condições”.

Também criticou a data, dizendo que a prefeitura esperou o retorno das aulas. Dias antes, o próprio prefeito politizou o assunto ao discursar na abertura dos trabalhos legislativos, em 3 de fevereiro. “O Greca só faz asfalto, diz a inveja, esta senhora perversa, cuja língua, de tão grande, se parte em duas agulhas e fura os olhos”, afirmou.

Nas sessões seguintes, vereadores reclamaram do que consideraram desrespeito do prefeito. Para Dalton Borba (PDT), a declaração foi um ato de “deselegância e arrogância”, além de “absolutamente desnecessário”, afirmando que na Câmara Municipal há “divergências de ideias, e não de pessoas”. Professora Josete (PT), por sua vez, lamentou o tratamento dispensado aos vereadores, que não têm o papel de sempre concordar com as ações do Executivo. “Nós temos que ser respeitados dentro de nossa função. Cada vereador que sobe a esta tribuna e faz uma crítica, é no sentido de contribuir”, argumentou.

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Em meio aos questionamentos, o líder do governo na Câmara, Pier Petruzziello (PTB), lançou uma campanha nas redes sociais com o mote “#nãoésóasfalto” para destacar o que considera realizações da prefeitura em diversas frentes, como saúde, educação e abastecimento. O fato é que a prefeitura intensificou os investimentos em ações urbanas de revitalização e implantação de pavimentação, como forma de atender à demanda expressa pela população (veja infográfico ao final da matéria, com o mapa das ruas que receberam alguma intervenção).

Em 2017 e 2018, a gestão de Greca destinou, respectivamente, 2,5% e 2,6% das despesas totais nas subfunções de infraestrutura e serviços urbanos. Em 2019, o percentual subiu para 3,36%. Em 2020, ano de eleição municipal, os desembolsos com pavimento devem se manter altos.

Segundo o secretário de Obras, Rodrigo Rodrigues, a intenção é bater a meta de 400 km pavimentados no meio do ano e manter as obras durante o ano todo. “Precisamos fazer mais, tamanha à necessidade que a malha viária de Curitiba tem apresentado”, afirmou. Na consulta pública da Câmara Municipal para o orçamento de 2020, por exemplo, das 1.547 sugestões feitas, 17% eram de obras públicas, como asfalto – o tema ficou em segundo lugar, atrás apenas de segurança (24%).

No plano de governo lançado por Greca na disputa eleitoral de 2016, ele assumiu o compromisso de “pavimentar 400 quilômetros de rua, tornando Curitiba 100% asfaltada”. Segundo Rodrigues, isso não é possível no momento, devido ao crescimento da cidade. “A cidade é um ser vivo. A cada mês, ela cresce, novas construções surgem. Isso faz com que a periferia vá aumentando. Vai surgindo a necessidade de pavimentação. Temos cerca de 240 km de ruas de saibro”, ponderou.

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A gestão de Beto Richa e Luciano Ducci (2009-2012) também investiu na pavimentação de obras. Conforme dados dos relatórios de gestão, foram 691,1 quilômetros de vias pavimentadas, em um total de 1.426 ruas.

Critérios técnicos

Segundo Rodrigues, as críticas de realizar obras no período letivo, ou mesmo em ano eleitoral, não procedem. “Não podemos deixar que ano eleitoral prejudique a cidade. Além disso, há um cronograma legal a ser seguido. A implantação de pavimentação em substituição ao saibro, por exemplo, só está sendo feito agora porque o novo entendimento do Tribunal de Contas, do fim de 2017 para cá, é para um projeto para cada rua. Até então se fazia um projeto básico único. Agora, como temos os projetos todos em mãos, estamos executando”, afirma. Ele também diz que a verba para infraestrutura urbana é de uso específico, e que não seria possível tirar de uma área para aplicar mais em saúde ou educação, por exemplo.

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A definição das vias a serem pavimentadas também atende a critérios técnicos, diz Rodrigues. “O critério se dá principalmente por onde há equipamentos públicos, hospitais, postos de saúde, escolas e linhas de ônibus, como forma de beneficiar o maior número de pessoas. Não adianta investir recursos em uma rua sem saída. As obras vão priorizar eixos de ligação e onde há maior volume de uso”, explica.

Na Visconde de Guarapuava, por exemplo, trafegam 19 linhas de ônibus. “A última recuperação completa da avenida foi em 2000. Ela já estava prestes a entrar em colapso, tanto que a gente começou pela pista da direita, tamanha as rachaduras no asfalto. Com as chuvas de março já iria estourar e a necessidade de tapa-buraco seria imensa”, acrescenta.