Polêmica

Escolas cívico-militares: sindicato de professores protesta antes de consulta pública no Paraná

Cartazes com frases contrárias ao modelo cívico-militar têm ocupado espaços em escolas da rede estadual do Paraná. Foto: Divulgação/Grupo Tias do Zap

Marcada para esta terça e quarta-feira (28 e 29), a consulta pública que determinará a adesão de novas escolas estaduais de ensino regular ao modelo cívico-militar está sendo precedida por disputas no Paraná. O sindicato que representa os professores intensificou o discurso contra a proposta de ampliação no estado que lidera o número de unidades cívico-militares: por enquanto, são 206 escolas operando no modelo, com cerca de 121 mil estudantes matriculados.

LEIA MAIS – Curitibano com milhões de seguidores é exemplo ao ajudar desconhecidos com os mais variados presentes

O governo Ratinho Junior (PSD) foi às redes sociais explicar o funcionamento do projeto, destacando que a escolha pelo modelo será definida pela comunidade escolar e enfatizando as características das cívico-militares que, em sala de aula, permanecem com autonomia no projeto pedagógico. A diferença está fora da salas de aula, onde “os militares da reserva atuam como monitores do comportamento dos alunos e podem auxiliar na elaboração de projetos extraclasses; com valorização da cidadania e respeito e mais segurança”, destaca a administração estadual. De acordo com a Secretaria da Educação do Paraná, itens elencados em panfletos distribuídos em portas de escola, assinados pela APP-Sindicato, tratam-se de “falácias”.

LEIA AINDA – Paraná pode ter mais 127 escolas cívico-militares em 2024; estado é líder no modelo

Um dos materiais, denominado “O que acontece nas escolas cívico-militares do Paraná?”, traz uma lista de notícias atribuindo ao modelo citado casos de ameaça de morte, exclusão, abuso de autoridade e assédio sexual. Outro com o título “Diga não às escolas cívico-militares” atribui à inserção do modelo o fechamento do ensino noturno nas escolas, além de sugerir que a disciplina – uma das bandeiras nessas unidades – será “baseada no medo e não no respeito”.

Para o diretor de Educação da pasta paranaense, Anderfábio Oliveira, os materiais trazem mentiras acerca da implementação do modelo. Segundo ele, a mudança vai ocorrer de forma democrática e visa, especialmente, a melhoria contínua do ensino no Paraná, aliada à questão comportamental. “O modelo já foi implementado em regiões de alta vulnerabilidade e a gente teve melhora na disciplina e, inclusive, no entorno dessas escolas, como menos tráfico de drogas e outras questões que trazem sérias consequências à comunidade escolar. É um ponto que precisamos considerar. Além disso, é claro, tivemos o retorno dentro de sala”.

VIU ESSA? Escolas de Curitiba têm matrículas abertas para novos alunos; saiba até que dia

No que tange a sala de aula, aliás, Oliveira faz questão de desmentir outra declaração do sindicato de professores. O diretor reiterou que as escolas que adotaram o modelo cívico-militar tiveram destaque positivo no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “Nós temos uma melhora na frequência, na questão disciplinar, no protagonismo juvenil e no ensino. Dentre as 206 escolas do modelo, 80% apresentaram aumento no Ideb. Nós publicamos isso e é a verdade”, reforçou.

Critérios para votação de modelo das escolas

A consulta pública desta semana que acontece no estado do Paraná engloba a participação de professores, funcionários, pais de alunos matriculados e estudantes com mais de 16 anos.

Para votar, é preciso apresentar um documento pessoal com foto. Os responsáveis terão direito a um voto por filho menor de idade matriculado na escola. Votará somente um responsável por Código Geral de Matrícula (CGM) do estudante. O resultado da votação será divulgado dia 5 de dezembro.

Impacto na oferta de ensino noturno é outra crítica do sindicato

Segundo a APP-Sindicato, a provável mudança de modelo nas 127 escolas que passam pela consulta pública poderá impactar em 8 mil estudantes da rede estadual do Paraná, que estudam no período da noite para poder trabalhar ao longo do dia. “Não há possibilidade do modelo cívico-militar coexistir com a modalidade do ensino noturno. A carga horária e a organização pedagógica, semelhante ao de uma escola integral, inviabiliza a disponibilização de aulas à noite”, argumenta Luiz Damasceno, assessor de Comunicação do sindicato.

Segundo Damasceno, todas as escolas que hoje ofertam a modalidade, bem como a Educação de Jovens e Adultos (EJA), e estão em processo de consulta, já foram comunicadas sobre o encerramento. “Nas 16 escolas militarizadas em Curitiba e que possuem registros no Ideb e no Censo Escolar no período, o número de alunos com mais de 18 anos matriculados caiu em 653. E foram eliminadas 962 vagas no ensino noturno, extinguindo a oferta em todas as escolas. Já entre as 127 escolas em vias de serem militarizadas, são quase 8 mil matrículas que podem ser extintas”, diz.

Em contraponto, o diretor da Secretaria de Educação afirma que um dos critérios para que a escola esteja na lista da consulta pública é que ela não seja a única na região que faz a oferta do ensino regular. Nessas escolas, caso sejam alteradas para cívico-militares, Oliveira esclarece que vai haver oportunidade de continuidade dos estudos, de maneira gradativa.

“Quem está estudando nessas escolas não será prejudicado. O estudante está estudando no primeiro ano, ano que vem ele vai fazer o segundo, isso não há dúvidas. Como a escola não é única no município, ele terá a opção de buscar outro estabelecimento que oferte o ensino médio noturno, na modalidade que ele precisa”, explica ele.

Campanha nas portas das escolas

Em diversas escolas da rede de ensino do Paraná, manifestações contra as escolas cívico-militares têm tomado muros e portas com cartazes e frases a favor do ensino regular. Foi o caso do Colégio Estadual Gelvira Corrêa Pacheco, na capital paranaense. Por lá, Rossano Boeing Santos conta que tentou expressar a vontade pela escola cívico-militar, mas foi destratado por uma das professoras.

“A professora veio falar comigo e passei a gravar. Mas não retruquei, está tudo no vídeo. Ela veio falar inúmeras coisas e revoltada por eu ter opinião diferente. O diretor da escola estava no mesmo tom da professora, só não fez o barraco, mas questionou se eu era pai de aluno. Eu faço parte da comunidade e tenho direito de me manifestar”.

Segundo Santos, professores têm intimidado quem se apresenta favorável ao modelo cívico-militar. “Não estou fazendo nada ilegal. Da mesma forma que estou fazendo meu trabalho, que eles façam o deles. O que não podem é impedir a manifestação democrática e essa professora foi para cima de mim, por isso gravei”.

Você já viu essas?

Denúncia de crime ambiental para derrubada de centenas de árvores em Curitiba
Denuncie!

Denúncia de crime ambiental para derrubada de centenas de árvores em Curitiba

Bar raiz em Curitiba “captura” clientes por horas; Comida boa, cerveja gelada e proteção do Papa
Clássico!!

Bar raiz em Curitiba “captura” clientes por horas; Comida boa, cerveja gelada e proteção do Papa

“Uber” para caminhoneiros, empresa de Curitiba fatura milhões
Inteligência

“Uber” para caminhoneiros, empresa de Curitiba fatura milhões

Whatsapp da Tribuna do Paraná
RECEBA NOTÍCIAS NO SEU WHATSAPP!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.