Casos são monitorados

Casos de reinfecção de covid-19 ainda são uma incógnita para a Prefeitura de Curitiba

Teste coronavírus covid-19
Sangue coletado para passar por teste que detecta o coronavírus. Foto: Pedro Ribas/SMCS

Depois do primeiro caso de reinfecção pela covid-19 confirmado em Curitiba, pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), da assessora parlamentar Roberta Freyesleben, 39 anos, surge a dúvida sobre o número que investigações que estão sendo feitas para detectar mais ocorrências como a da assessora. A prefeitura estima um percentual de reinfecção de 0,65% na capital, entre os pacientes positivados para a covid-19, número semelhante ao de um estudo publicado, na semana passada, pela revista científica “The Lancet”. No estudo que se chegou a percentual, pesquisadores de Copenhague, na Dinamarca, acompanharam mais de 4 milhões pessoas com suspeitas de terem a doença e que foram submetidas a testes do tipo RT-PCR (exame sorológico). A prefeitura entende que esses dados do estudo se refletem em Curitiba. 

Significa que, dentro de uma média diária de 1 mil novos casos por dia, por exemplo, o número de reinfectados oscilaria entre 6 e 7 pacientes apresentando a doença de novo. No último boletim divulgado pela prefeitura, na quarta-feira (23), Curitiba tinha 166.314 casos confirmados. Aplicando a porcentagem de 0,65%, seriam cerca de 1.081 casos de reinfecção. Apesar do percentual obtido na Dinamarca dar um horizonte para projeção da reinfecção, a infectologista Marion Burger, coordenadora do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, explica que o momento atual da pandemia não permite um estudo aprofundado para acompanhar esses casos e realizar a confirmação da reinfecção.

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“Vivemos um momento de apagar incêndio para salvar vidas. Lá atrás, quando se começou a falar em casos de reinfecção, era um objetivo identificá-los para acompanhar se havia novas variantes do vírus. Porém, seria preciso que os laboratórios públicos e privados estivessem armazenando as amostras do primeiro teste dos pacientes. Mas a estrutura física dos locais não permite guardar amostras por mais de um mês”, informou a infectologista.

Segundo a Marion Burger, o prazo mínimo para uma suspeita de reinfecção é de 90 dias. “A pessoa tem que ter feito o RT-PCR da primeira vez, em laboratório público ou privado, se recuperar da covid-19 e vir a apresentar sintomas novamente. Ela repete o exame sorológico. Se der positivo, as duas amostras devem seguir para análise em laboratório, onde as variantes serão identificadas. Foi o caso da mulher de 39 anos que teve a reinfecção”, explicou. Vale ressaltar que a covid-19 é uma doença de notificação obrigatória, ou seja, os laboratórios avisam os órgãos de saúde sobre as testagens positivas.

Questionada sobre o porquê da prefeitura não apresentar dados sobre reinfecção, a Marion Burger disse que tais casos são monitorados, mas a divulgação de números de pacientes quase nunca ocorre pelas incertezas que ainda se tem no mundo sobre o comportamento do coronavírus. Para a médica, há problemas para cravar um novo contágio. “Pouco se sabe sobre o vírus. Pode ser a mesma variante que estava adormecida. A pessoa pode ter na primeira vez, desenvolver uma carga imunológica baixa, e se contaminar pela mesma variante. É uma investigação complexa”, aponta. 

Ainda de acordo com ela, antes de um pedido de análise detalhado nos laboratórios, há fatores clínico epidemiológicos que são levados em conta. O histórico de contágio, a investigação sobre a gravidade dos sintomas, o prazo que sentiu novos sintomas são alguns parâmetros. “As equipes de saúde realizam esse contato com o paciente”, explica Marion, destacando que quando há a possibilidade dos laboratórios terem a primeira amostra, a análise é solicitada para comparar as duas amostras e verificar se há reinfecção. “É um parâmetro importante para se ter no combate à pandemia. Mas como não há sempre essa possibilidade, trabalhamos com dados científicos compartilhados por pesquisadores em todo o mundo do Brasil. E também com as nossas análises diárias da pandemia em Curitiba”.

Caso confirmado de reinfecção

A primeira reinfectada pela covid-19 confirmada no Paraná, Roberta Freyesleben, teve sintomas característicos do coronavírus, como febre, dores pelo corpo e até a perda do olfato e paladar. Em 14 dias, a maioria dos sintomas reduziu e ela voltou à rotina. A primeira infecção foi em junho de 2020. No caso dela, foi possível comparar as amostras do primeiro com o do segundo contágio. 

Roberta, a primeira reinfectada pela covid-19 no Paraná
Primeira reinfectada pela covid-19 no Paraná identificada pela Sesa, Roberta Freyesleben teve sintomas mais graves na segunda vez. Foto: Arquivo pessoal

No dia 24 de fevereiro de 2021, depois de perceber que, além de espirrar muito, estava com dores de cabeça, de garganta e febre, resolveu refazer o exame sorológico e veio o novo diagnóstico. De acordo com informações da Sesa, as amostras dos dois exames feitos pela Roberta foram enviadas pelo Laboratório Central do Estado (Lacen) para a Fiocruz do Rio de Janeiro, onde foi feito o sequenciamento do genoma do coronavírus.

Os pesquisadores identificaram que, na primeira infecção, Roberta esteve em contato com a linhagem B.1.128, da qual descende a variante P.1, identificada primeiramente em Manaus. Na segunda infecção, a assessora foi infectada pela variante P.2., identificada no Rio de Janeiro.

Além de ainda estar sem sentir gosto ou cheiro desde a primeira infecção, Roberta relata ter tido sintomas mais graves na segunda vez. Dores de cabeça intensas a acompanharam por 10 dias e dores pelo corpo continuam até hoje. “Tenho formigamento de braço e perna e, é até estranho dizer, mas à noite sinto uma coceira nas mãos e nos pés, como se eu perdesse a circulação. As pontas dos meus dedos ficam bem brancas”, relata. Roberta ficou sob observação médica na segunda infecção, mas não precisou ser internada. As duas contaminações foram em Curitiba.

Pesquisa sobre reinfecção

Segundo informações divulgadas, o levantamento da pandemia na Dinamarca foi realizado com mais de 4 milhões de dinamarqueses e, além de chegar ao percentual de reinfecção (0,65%), foi possível concluir que a taxa de reinfecção é maior em pacientes com 65 anos ou mais. No estudo, a imunidade natural durou pelo menos seis meses nos pacientes. 

As amostras analisadas de pacientes que se recuperaram da covid-19, na primeira vez, mostraram que a imunidade se desenvolveu de alguma forma, mas os idosos demonstraram propensão para uma reinfecção.