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Após estrondo de vendas com pandemia, tradicional bicicletaria de Curitiba planeja nova loja

Jaime Silveira fundou e emprestou o nome à bicicletaria em 1956. Porém, devido à idade, 83 anos, não atua mais no front. Loja hoje é tocada pelo sócio e filho, Jaime Nunes da Silveira Filho. Foto: Arquivo/Albari Rosa/Gazeta do Povo.

Uma mudança de comportamento por causa da pandemia da Covid-19 levou a loja mais tradicional de ciclismo de Curitiba a ganhar um novo fôlego. Após anos de crise, a Cicles Jaime viu suas vendas aumentarem 50% nos últimos meses, uma alta causada pela maior busca por meios de transporte mais seguros (pelo menos em relação aos ônibus) e por formas de se exercitar sem causar aglomeração. Com o bom resultado, a loja já planeja abrir uma segunda unidade.

Atuando no atacado, varejo e na manutenção de bicicletas, a Cicles Jaime vinha amargando resultados ruins na última década. “O setor como um todo vinha perdendo [faturamento] desde 2010. Nosso ramo foi sustentado, pelo menos é o caso da nossa empresa, graças a anos de economia de capital. Fomos reinvestindo esse dinheiro guardado. No ano passado, precisamos cortar algumas negociações para ter uma estabilidade [nas contas]”, revela Jaime Nunes da Silveira Filho, um dos sócios da empresa. Seu pai fundou e emprestou o nome à bicicletaria em 1956, mas, devido à idade, 83 anos, não atua mais no front.

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Quando a pandemia desacelerou a cidade, em março, os ventos começaram a mudar para este ícone curitibano. Em abril, a loja recebeu autorização da prefeitura para reabrir – foi enquadrada no rol de serviços importantes, já que fazia a manutenção nas bicicletas de entregadores. “Percebemos muitas pessoas procurando serviços de manutenção. Gente que não queria andar de ônibus e preferia a bicicleta”, diz.

No mês seguinte, veio o “estrondo de vendas”. “O pessoal notou que não tinha outra opção para fazer exercício a não ser andar de bicicleta. As academias fecharam. Tem também a questão de ser [uma atividade] ao ar livre, que é mais seguro para evitar o contágio”, sustenta. “Além disso, muita gente estava em casa e começou a olhar sua garagem, ver as coisas paradas, e reencontrou sua bicicleta. Aí a pessoa pensa: ‘opa, olha a minha bicicleta encostada, vou fazer uma revisão… começar a andar novamente’. Estamos vendo modelos que não víamos há mais de dez anos”, conta.

Pai e filho, fundador e sócio da tradicional bicicletaria de Curitiba, a Cicles Jaime. Foto: Arquivo/Albari Rosa/Gazeta do Povo.

A alta foi tão inesperada que há falta de peças e bicicletas no mercado, explica o empresário. Com a incerteza econômica, temendo estoques parados, muitos fornecedores seguraram sua produção. Aconteceu justamente o contrário. “Até retomar o fornecimento houve um colapso. Vai até o fim do ano para a indústria solucionar o problema”, aponta o empresário.

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De fato, a Associação Brasileira do Setor de Bicicleta indica aumento nas vendas em todo o pais. De maio e junho, foi de 20% em relação ao mesmo período de 2019. Entre junho e julho, o aumento bateu 118%.

Jaime compara esse atual momento apenas a 1994, quando a loja viu suas vendas explodirem após uma mudança de legislação municipal. “O prefeito na época, Jaime Lerner, permitiu que empregadores dessem o vale-transporte de uma maneira que fosse possível trocar por bicicleta. Ele queria que 30% dos usuários do transporte coletivo usassem os pedais. Aí teve um boom. Tinha fila para montar bicicletas. Esse foi o maior movimento que já encarei atrás do balcão”, relembra o empresário.

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Com a alta inesperada, Jaime já faz planos de abrir uma nova unidade, resgatando um pouco de tempos dourados para o ciclismo na capital. “Estamos pensando em um novo ponto de venda. Tivemos um bicicletário no Passeio Público [além da loja atual, na Rua João Negrão]. Queremos recuperar isso [uma segunda unidade]. Abrir uma loja em um bairro afastado”, diz, sem revelar mais detalhes desse planejamento.

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