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Ciclista de 65 anos dá aulas para quem quer andar de bicicleta

Foi organizando passeios ciclísticos que o bicicleteiro e ciclista José Américo dos Reis Vieira, mais conhecido por Américo, 65 anos, descobriu um dom e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de ampliar o alcance do seu negócio, oferecendo aulas para quem almeja aprender a pedalar. “Foi nos passeios que percebi que muitos participantes deixavam o companheiro ou companheira em casa porque a pessoa não sabia pedalar”, recorda Américo.

E dessa observação começou a ensinar quem o procurava. Em 18 anos, já passaram quase 4 mil alunos de 4 a 82 anos de idade. A experiência revelou a Américo a nobre vocação de ensinar o outro e superar os próprios limites. Em quase duas décadas de ofício, o descendente de índios, ex-menino de rua e que estudou até o ensino médio, transformou-se em uma referência no Brasil e, além dos limites do território nacional, como um mestre dos pedais.

“Não tenho conhecimento de outro professor no País que se dedique a ensinar as pessoas a pedalarem”, conta a aluna Neusa Miranda, 69 anos. Depois de uma vida inteira de realizações, com os filhos criados, ela foi presenteada no seu aniversário, dia 10 de dezembro, com o curso de Américo. “Sempre sonhei em andar de bicicleta, mas venho de uma geração em que as meninas não eram incentivadas a aprender. Comecei no sábado e mesmo durante os dias de festa quero seguir com as aulas”, garante.

O presente foi dado pelos filhos. E o marido tem a apoiado com o almoço, enquanto ela realiza o desejo de menina. “Achava praticamente impossível aprender com a minha idade, mas o professor Américo tem um bom humor e fica sempre ao nosso lado. Não caí nenhuma vez em seis aulas”, celebra. Empenhada no objetivo de aprender para passear e se divertir pelos parques curitibanos, ela sai diariamente do bairro Água Verde para suas aulas no São Lourenço.

Enquanto alguns aprendem a pedalar com duas ou três aulas, outros podem levar alguns meses. O que importa é não desistir, pois no que depender do professor, paciência e dedicação ao aluno não faltarão. “Chegam pessoas com sérios problemas físicos, desde deficiência visual, Síndrome de Down, até gente que só tem uma perna. Vários desses alunos insistiram e conseguiram pedalar livremente. Para mim, o mais difícil do trabalho é quando não encontro um meio de ensinar”, reconhece. Segundo ele, até com os adolescentes que sentem vergonha de tomar aulas para aprender a pedalar, há várias técnicas de aproximação. “Já cheguei a pagar para um jovem que não sabia pedalar para trabalhar comigo e, aos poucos, convenci o garoto a aprender”, atesta.

A bordadeira Mariangela Batista da Luz, 59, confessa que, antes das aulas, acreditava que bordar era muito mais fácil do que andar de bicicleta. “Isso está mudando”. Confiante, ela quer fazer alguns passeios na praia onde passará as férias.

Sócio vitalício

Quem se torna aluno do Américo vira sócio vitalício da loja Bike Tour e isso habilita a emprestar bicicletas do local. O pacote de aulas custa R$ 250 para crianças e R$ 350 para adultos. A quantidade de aulas é ilimitada. “Até a pessoas aprender”, explica o mestre Américo. Com ex-alunos espalhados por todo o Brasil e alguns países, como Portugal, ele coleciona cartas e desenhos recebidos como forma de agradecimento. “Ainda quero fazer um livro com esses relatos de superação”, planeja. Outro objetivo dele é plotar um carro e sair pelo Brasil oferecendo às prefeituras o curso. (MM)

Serviço

Bike Tour – Rua João Guariza, nº 638, bairro São Lourenço. Informações: (41) 3352-2566,.

Gerson Klaina
Mariangela: mais fácil que bordar.
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