"Guerra drivers"

Já viu este adesivo? Amigos do Guerra une mais de 15 mil contra o crime em Curitiba

Adesivo do amigos do Guerra em um carro de app. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná

Em uma pequena sala no bairro Parolin, em Curitiba, com a companhia de duas calopsitas e fotos das filhas, Sérgio Guerra Correa, observa e escuta atentamente o que ocorre em 15 mil carros que circulam na capital e na Região Metropolitana. Em um dos monitores de um computador, os veículos parecem formiguinhas. Esse homem de 44 anos, especialista em Tecnologia da Informação, é o criador de um movimento que tem como missão proteger motoristas de aplicativos de furtos, roubos, acidentes ou mesmo uma troca de pneu.

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Talvez nem todos tenham reparado nas ruas, mas é cada vez mais comum encontrar um veículo com um adesivo redondo no vidro traseiro com a escrita Guerra Drivers, ou carinhosamente conhecida como Amigos do Guerra. Esse grupo surgiu em 2017, quando Sérgio resolveu virar motorista de aplicativo para ficar mais tempo com a família. Nos primeiros dias no novo emprego, percebeu que não adiantava ser um “lobo solitário” diante do perigo da profissão.

Guerra. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

“Na primeira semana, quase fui assaltado na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Cai numa região perigosa e percebi que não poderia andar sozinho. Naquela época teve vários assassinatos, e decidi que era preciso fazer algo para aumentar nossa segurança. Pensei em unir a minha experiência em tecnologia com os motoristas com o uso de aplicativos”, relembra Sérgio.

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Apesar de imaginar que seria fácil agrupar uma boa quantidade de pessoas a fim de se proteger, a primeira reunião contou com apenas nove motoristas. O idealizador contou que estaria criando canais de comunicação que apenas os “associados” poderiam ter acesso e passariam a noticiar o que estava ocorrendo nas viagens com os usuários dos aplicativos de carona como Uber e 99.

“Mostrei a necessidade de estarmos mais protegidos e usando meus conhecimentos de tecnologia, criei dois canais de rádio por aplicativos gratuitos e localização em tempo real. Após a primeira reunião, resgatamos uma motorista que estava sendo sequestrada. Hoje, um passageiro mal intencionado quando vê o adesivo ou escuta o rádio, ele sabe que logo vai ter outro motorista junto. Quase sempre, ele pede para descer antes”, orgulha-se Guerra.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Como funciona?

A estratégia de funcionamento do sistema é explicada pelos voluntários que passam o dia no chamado Quartel General (QG) do Guerra. A Tribuna do Paraná teve acesso com exclusividade ao espaço, e notou que o local é cheio de particularidade relacionada ao mundo dos motoristas de aplicativo. Tem lava-car, food truck, mesa de sinuca, e uma sala maior em que o iniciante no grupo aprende como irá se proteger nas ruas com códigos.

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São pequenas palavras que o motorista deve usar em caso de perigo ou mesmo suspeita que algo de ruim possa ocorrer no trajeto pedido pelo usuário do aplicativo de corridas. “A pessoa vai vir no QG, vamos perguntar se tem a cadastro da Urbs, que é a permissão para rodar, se não tiver iremos fazer de forma gratuita. Fazemos treinamentos, ensinamos desde a baixar o aplicativo de comunicação, orientamos o que deve falar e no que não pode dizer, como agir e como se comportar diante de um suspeito. O único custo dele é R$ 15 no kit adesivo, um item de segurança”, relatou Sérgio.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

A ação dos Amigos do Guerra nas ruas ocorre a partir da entrada do usuário no veículo. O motorista relata o destino da corrida por meio de um aplicativo de celular (Zello é um deles) para uma espécie de base ou Central de Comunicação, onde todos os 15 mil associados podem ter acesso.

Com a corrida sendo feita ou mesmo um assalto em andamento, os Amigos do Guerra iniciam a perseguição ao veículo com o adesivo redondo no vidro traseiro. Em certo momento, vai ocorrer uma abordagem mais pesada, em que o passageiro vai perceber que está rodeado por motoristas, e às vezes, pela polícia.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Socorro aos colegas

“Quando surge um imprevisto, o motorista fala um código no rádio e automaticamente, outros motoristas se dirigem ao motorista que está sendo assaltado, e outros parceiros informam a polícia em tempo real, com a localização da possível vítima. Muitas das vezes, a polícia chega junto. Ocorre também situações que 200 carros nossos agem de maneira segura e prendem o bandido.  Já aconteceu do motorista estar com uma faca no pescoço na Barreirinha com destino a Colombo. Quando o bandido percebeu que existia outros carros de apoio, ele jogou a faca pela janela e fizemos a abordagem. Ele foi preso e estava com mandado de prisão”, comentou Guerra.

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Outra forma de alertar os motoristas do grupo são dispositivos que são instalados em algum lugar próximo do condutor. Esse ponto é tratado com mistério por parte dos envolvidos, pois caso o suspeito venha a retirar o celular do motorista, ele tem outra alternativa de comunicar os colegas. Em média, de 10 a 15 casos são considerados suspeitos atualmente em Curitiba e região.

Sthephany de Miranda, 31 anos, há quatro meses como motorista de aplicativo, precisou de apoio dos Amigos do Guerra. “Peguei uma viagem no Centro com dois homens. Um deles embarcou na frente e já achei estranho, não é comum. Eles eram estrangeiros e não entendia o que falavam. Fiquei incomodada e passei minha localização para o pessoal. Percebi que eles foram ficando mais quieto, estava nervosa e chorei e tudo. Para a mulher é essencial ter esse tipo de alerta”, avisou Sthephany.

Sthephany de Miranda. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Nem sempre o alerta é feito apenas para casos de possíveis assaltos ou furtos. Um problema mecânico, troca de pneu pode ocorrer em lugares mais perigosos, e alguém vai estar à disposição para ajudar. No caso do Willians de Moura, 34 anos, foi em um acidente que precisou recorrer aos Amigos do Guerra. “Eu me envolvi em um acidente com um motoqueiro que furou a preferencial. Fiquei muito nervoso e quando acionei o grupo, em menos de três minutos tinham quatro companheiros. Ajudaram a tirar o carro, e foi muito bom a participação dele. É uma família que entrei e não largo mais”, valorizou Willians.

Expulsão no grupo

De acordo com Guerra, já teve expulsão do grupo. Motoristas precisam mostrar ética e nada de coagir passageiro em uma corrida. “O Grupo Guerra é sério. Já ocorreu do motorista relatar que o passageiro estava prejudicando e não era. Tiramos o adesivo. Se o nosso motorista estiver errado em um acidente, ele precisa assumir. Nós fomos aperfeiçoando o trabalho com o tempo. Em 2017, o motorista falava que tal bairro é perigoso, mas um outro passageiro em um carro diferente escutava aquilo e ficava chateado. Todo bairro tem gente boa e ruim”, comentou o fundador.

Questionado se tem policial dentro do grupo, Sérgio informou que existe várias profissões para quem trabalha como motorista de aplicativo. “Tem motoristas que são policiais, mas a orientação não é reagir ali. Informe para a Central o que está ocorrendo, iremos solicitar apoio juntamente com a polícia”, completou.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Policia Militar e aplicativos

A Polícia Militar (PM) informou que não tem parceria com os Amigos do Guerra, e não houve reunião com o comando para solicitar algum tipo de atividade conjunta. Cada ligação ou denúncia recebida é tratada com seriedade e atenção.

A orientação da PM é não reagir em caso de assalto, principalmente, envolvendo arma de fogo ou objetos cortantes e acionar a Polícia Militar imediatamente via 190.

Já os aplicativos UBER e 99, não responderam o e-mail da reportagem quanto a atividade dos Amigos do Guerra.

Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná

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