CPI dos Bingos espera concluir relatório até junho

Brasília – A CPI dos Bingos perde fôlego e seu presidente, o senador Efraim Morais (PFL-PB), admitiu hoje que dificilmente a comissão vai conseguir aprovar a convocação do ex-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF) Jorge Mattoso para esclarecer a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Num sinal de que não espera muito mais da CPI, Efraim anunciou que vai pôr em votação na semana que vem todos os requerimentos polêmicos ainda pendentes de aprovação, mesmo que isso represente a derrota da oposição e o arquivamento dos pedidos. O relatório final da comissão deverá ser concluído na última semana de maio ou na primeira semana de junho.

"Temos a história dele (Mattoso) na palma da mão. Temos o depoimento dele na Polícia Federal que integrará o relatório final da CPI. Ou seja: não precisa ouvir o Mattoso novamente", minimizou Efraim. Mattoso, de fato, já prestou depoimento à CPI, mas sobre outro assunto, a renovação de contratos firmados pela Caixa com a multinacional de jogos Gtech.

"É só juntar os dois depoimentos. O que ele já deu à CPI e o da Polícia Federal", insistiu o senador. Chamada pelos governistas de CPI do Fim do Mundo, a comissão dos Bingos está em funcionamento há quase nove meses e produziu revelações que acabaram levando a queda do ministro Antonio Palocci, da Fazenda "A CPI já concluiu 90% de seu trabalho", resumiu Morais.

Além do caso de Mattoso, estão à espera de votação os requerimentos que prevêem a convocação de dois integrantes do Ministério da Justiça que estiveram com Palocci no dia da violação da conta do caseiro: Cláudio Alencar, chefe de gabinete do ministro Márcio Thomaz Bastos, e Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico.

O presidente da CPI também avisou que vai pôr novamente em votação o requerimento pedindo a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, ex-caixa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não queremos o sigilo do Okamotto para divulgar ou buscar os holofotes. Agora, se o governo busca proteger pessoas, significa que há medo dessa quebra de sigilo", argumentou o presidente da CPI.

Efraim lembrou que está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF) a decisão sobre a quebra do sigilo de Okamotto, que afirma ter pago com recursos próprios uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT. Mas há a suspeita na CPI de que o dinheiro teria outra origem, o que poderia vincular o presidente da República ao uso de caixa dois. Por força de liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Okamotto tem conseguido impedir o acesso a seus dados bancários, cujo sigilo já foi quebrado duas vezes pela CPI.

Na reta final dos trabalhos da comissão, os governistas manobram para tentar substituir o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que é vice-presidente da CPI. "O senador Mozarildo está sendo pressionado pelo próprio partido para não vir à CPI", disse hoje o senador Romeu Tuma (PFL-SP).

Caso consiga substituir Mozarildo, o Palácio do Planalto passará a ter maioria na comissão e poderá, portanto, evitar a aprovação da quebra do sigilo de Okamotto e a convocação de Mattoso e integrantes do Ministério da Justiça. Nessa caso, também tenderá a ser arquivado requerimento do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) com oito perguntas a serem respondidas por Lula sobre as circunstâncias em que soube da participação de autoridades na violação da conta de Francenildo. Sem Mozarildo, ficará também mais fácil para o governo tentar derrubar o relatório final da CPI.

Há obstáculos, porém, para a substituição de Mozarildo. Líder do PTB no Senado, Mozarildo só poderia ser substituído na CPI dos Bingos caso concordasse. Outro caminho para o governo seria conseguir afastar Mozarildo da liderança do partido e fazer o novo líder designar para a CPI um senador mais alinhado com o Planalto.

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