Comandante da Marinha critica governo ao assumir cargo

O novo comandante da Marinha, o almirante Julio Soares de Moura Neto, criticou nesta quinta-feira (1.º/3) o governo federal pelo contingenciamento dos recursos referentes ao royalties de petróleo que pertencem à Força, durante a cerimônia em que tomou posse do cargo. O almirante advertiu que a Marinha vem "perdendo a sua capacidade operacional" porque não tem recebido a totalidade dos recursos dos royalties para se reequipar e, "caso esta tendência seja mantida", a situação da Força, que classificou como "insustentável" poderá ficar "crítica". Segundo o almirante, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi advertido da precariedade da Força e se mostrou "sensível" ao pleito. Os royalties do petróleo contingenciados pela área econômica somam R$ 2,6 bilhões.

Além da crise na Aeronáutica, o presidente Lula agora tem mais um foco de preocupação. A demonstração da insatisfação da Marinha ficou clara não só no discurso do novo comandante, como também na fala de despedida do almirante Roberto Guimarães de Carvalho, que foi ainda mais incisivo em suas queixas, falando também de salários e orçamento. "A Marinha que estou passado à Vossa Excelência não é a que eu gostaria de passar, mas é a que foi possível manter. Que os ventos lhe sejam mais favoráveis e o estado do mar, mais tranqüilo", desabafou Carvalho, que informou à tropa ainda que, em todas as oportunidades que teve, avisou das necessidades do reequipamento da força aos ministros que passaram pelo cargo e ao presidente, acentuando que, em sua mensagem em dezembro, Lula prometeu o aporte de recursos necessários para o programa de reaparelhamento, que ainda não foram liberados.

Salários

"Mas é preciso que as esperanças se transformem em realidade", disse o ex-comandante, que aproveitou para reclamar também do salário dos militares. Segundo ele, apesar de reajustes concedidos acima da inflação, eles não recuperaram as perdas acumuladas, salientando que, hoje, "os militares são os que têm a menor remuneração média, quando comparados aos integrantes de várias outras carreiras do Estado, o que necessita ser progressivamente corrigido".

O discurso de ambos foi muito aplaudido pelos militares presentes e objeto de comentário no coquetel de confraternização. O ministro da Defesa, Waldir Pires, que ouviu atentamente os dois discursos, primeiro, em sua fala à tropa, declarou: "seremos companheiros destas aspirações". Depois, em entrevista à imprensa, ao lado do novo comandante da Marinha, disse: "serei uma voz dentro do governo favorável à liberação dos recursos. Sou favorável a que nós tenhamos os royalties para podermos fortalecer a proteção do Atlântico Sul".

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