Classe média gasta mais e não percebe deflação

Novos gastos e a escalada dos serviços particulares sobrecarregam tanto o bolso da classe média que ela nem percebe direito que tem havido meses de deflação ou inflação baixíssima dos índices de preços. Um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a pedido do jornal O Estado de S.Paulo, mostra que em apenas três anos o peso de 15 itens de consumo avançou de 17% para 21% no bolso da população em geral, taxa que chega a 25% no caso da classe média.

Este grupo de produtos inclui itens que não eram pesquisados (alimentos diet/light, telefone celular e DVD) e outros cujo consumo cresce bastante (alimentação fora, mensalidade de internet, TV por assinatura e serviços pessoais). A comparação foi feita entre as Pesquisas de Orçamento Familiar (POF) de 1999/2000 e 2002/2003. Numa família de classe média com renda de R$ 7 mil, esses gastos somam R$ 1.750,00 ao mês.

Com mais gastos considerados inadiáveis, aumentou a pressão sobre o orçamento e a sensação de que não se ganha o suficiente para comprar o desejado. O coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros, diz que desde o início do Plano Real houve diversificação da oferta de produtos.

O processo prossegue até hoje, com novos itens, como os iPods, e expansão de consumo, via crédito. Mas não é apenas isso. Segundo Quadros, a cesta de consumo de famílias de classe média é diferente da cesta das classes de renda mais baixa. Enquanto famílias de maior rendimento gastam mais com serviços privados e produtos sofisticados, as demais têm peso relativamente mais forte em alimentação e outras necessidades básicas, como vestuário e transporte. Assim, tendem a perceber mais a queda que vem ocorrendo no preço dos alimentos.

O levantamento da FGV indica diferenças. O peso dos gastos com TV por assinatura cresceu de 0,05% para 0,58% na população em geral, mas chega a 1,87% na faixa da classe média. Com base na última POF, os mais endinheirados gastam 5,49% do orçamento em gasolina, 1,12% em serviços de cuidados pessoais e 0,48% em cursos de idiomas. Já os mais pobres destinam bem menos para esses itens, respectivamente 3,32%, 0,83% e 0,28%.

Voltar ao topo