Câmbio define preços industriais no varejo, mostra Fipe

A despeito da elevação dos volumes físicos das vendas no varejo e da renda do consumidor, os preços nos hipermercados, especialmente os dos alimentos industrializados, vêm despencando segundo os vários indicadores que medem o desempenho deste segmento. De acordo com um levantamento feito pelo professor de Econometria da Universidade de São Paulo e coordenador da Pesquisa de Preços da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Paulo Picchetti, isso não é uma exclusividade do momento atual. Desde 2002 os preços dos produtos da indústria alimentícia vêm se comportando à revelia da compressão da demanda e sim sob a influência dos choques do câmbio.

Daí a verificação da confluência em queda dos resultados vindos dos indicadores de preços ao consumidor e da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) que, segundo divulgou o IBGE na quarta-feira (16) mostrou uma queda de 0,38% em junho do faturamento do setor comparativamente a maio. "Nos hipermercados, as vendas físicas vêm registrando aumentos de volumes ao mesmo tempo em que o faturamento se mostra estável", diz Picchetti.

No acumulado dos últimos 12 meses encerrados em julho, os preços dos alimentos industrializados em São Paulo, área de abrangência da pesquisa da Fipe, encontram-se negativos em 3,58%, queda superior à média do grupo Alimentação como um todo, que para o mesmo período caiu 3,52%. Isso mostra, de acordo com Picchetti, que a variável câmbio exerce mais influência na dinâmica dos preços da indústria da alimentação do que o fator renda.

Conforme mostra o gráfico abaixo, na primeira fase do levantamento, todos os elementos que compõem o estudo da Fipe (câmbio, preços dos alimentos industrializados, massa salarial e faturamento do comércio na PMC) apontavam para uma mesma direção ou seja, encontravam-se em elevação. Na segunda etapa do estudo a massa salarial e as vendas caíam, o que suscitou a expectativa de que os preços também fossem ser reduzidos. A expectativa não se consolidou porque no mesmo período, em 2002, o câmbio encontrava-se em elevação.

Na penúltima fase do estudo, que compreende os anos de 2003 e 2004, o preço do dólar começou a cair, a massa salarial e o volume de vendas subiram, mas os preços dos alimentos industrializados mantiveram-se mais ou menos estáveis, detectou Picchetti. Do ano passado até agora, o estudo confirma o processo de valorização do real e o ganho de renda e mesmo assim os preços dos alimentos industrializados no varejo continuam em queda.

Os segmentos que retratam com maior clareza o efeito do câmbio na formação dos preços são, de acordo com Picchetti, os panificados (-4,42%), massas, farinhas e féculas (-5,79%), condimentos e sopas (-2,13%), óleo de soja (-7,44%) e enlatados e conservas (-4,21%). Estas variações foram reunidas ao longo dos últimos 12 meses.

Para Picchetti, este quadro só deverá ser revertido quando o País interromper os registros de superávits recordes na balança comercial, o que determinará uma entrada menor de dólares no País.

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