Tumulto e tensão na eleição da Câmara

Brasília – Um clima de tumulto e muita confusão, com centenas de cabos eleitorais pagos espalhados pelos corredores do Congresso, tomou conta ontem da eleição para a presidência da Câmara. Ao contrário do Senado, onde Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito presidente da Casa em apenas 12 minutos, a previsão era de que eleição para escolher o sucessor de João Paulo Cunha (PT-SP) se arrastasse noite adentro em uma votação secreta, manual, em que cada um dos 513 deputados é chamado nominalmente ao microfone para ir até a cabine votar em um dos cinco candidatos à presidência da Câmara e nos deputados que disputam seis cargos da mesa diretora, além de quatro suplências.

Até o deputado André Luiz (PMDB-RJ), acusado de tentar comprar votos de deputados na Assembléia Legislativa do Rio, apareceu para votar, depois de mais de três meses de sumiço da Câmara. Com uma água de coco na mão com o logotipo do candidato dissidente à presidência, Virgílio Guimarães, André Luiz fez mistério em quem ia votar. "Ainda estou pensando", disse. Segundo ele, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) e Virgílio lhe telefonaram pedindo voto. "O Greenhalgh não me ligou", afirmou André Luiz, que é do grupo político do ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PMDB).

O governo passou o dia de ontem tentando articular a eleição do candidato oficial do PT à presidência no primeiro turno. Os operadores do Palácio do Planalto desembarcaram na Câmara e ficaram cabalando votos para Luiz Eduardo Greenhalgh, além de acompanhar as reuniões dos partidos aliados e de oposição à espera do apoio ao candidato oficial do PT. Os aliados se comprometeram a votar no petista, mas observaram que o voto secreto poderia trazer surpresas. "Tem gente que está mentindo pra burro", observou o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE). "Em 27 anos que estou na Câmara, nunca vi o governo perder eleição para presidência. Mas também nunca vi o partido do governo ter dois candidatos", disse Corrêa, referindo-se ao fato de o PT ter dois candidatos na disputa: Virgílio Guimarães (MG), que lançou-se na corrida pela presidência da Câmara à revelia do partido, e Greenhalgh.

A expectativa do governo ontem à noite era ganhar votos junto aos oposicionistas, principalmente dos deputados tucanos. Apesar de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ter defendido junto ao PSDB o voto no candidato do PFL à presidência, José Carlos Aleluia (PFL-BA), o governo contava com cerca de 35 do total de 52 votos dos tucanos. O motivo era de que a tese do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não teve receptividade junto à bancada e foi vencida na reunião do PSDB, que decidiu votar no candidato petista.

A campanha para eleger o futuro presidente da Câmara acabou sujando os corredores do Congresso com centenas de cartazes. Além disso, três dos cinco candidatos à presidência da Câmara contrataram cabos eleitorais para fazer campanha junto aos deputados. "Isso tudo é ridículo", afirmou o presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ao condenar o excesso de propaganda, com cartazes e painéis, e os cabos eleitorais pagos. Até o fechamento desta edição, os votos não haviam sido apurados.

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