Todo mundo quer a CPI dos Correios

Brasília – Os líderes do PFL e do PSDB traçaram ontem a estratégia da coleta de assinaturas para a instalação de uma CPI sobre as denúncias de corrupção nos Correios. Para o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, a situação atual se compara ao período da CPI do Orçamento, em 1993, quando descobriu-se um esquema de propinas entre empreiteiras e parlamentares. "Quem não assinar o pedido de CPI vai acabar levando pedrada na rua. Não há como segurar essa investigação", afirmou Bornhausen.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recomendou calma e defendeu que só depois de encerradas as investigações o Legislativo pode decidir se esse é um caso para CPI ou não. "Claro que esse assunto tem mobilizado o país, tem constrangido, repugnado a nação. Precisam dizer também se é uma rede de corrupção ou se é apenas um funcionário corrupto, fanfarrão,  para tomar mais dinheiro da vítima", ressaltou.

O líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), não concorda com a CPI. Segundo ele, as denúncias têm que ser investigadas a fundo, mas sem comissão parlamentar de inquérito. O presidente do PT, José Genoino, disse que o governo está realizando uma investigação rigorosa, "com total transparência" e vai demitir as pessoas envolvidas em corrupção nos Correios.

Mas a favor da CPI está o vice-presidente da República, José Alencar, que é também ministro da Defesa. Ontem, ele repetiu que cabe ao Congresso decidir se é preciso ou não abrir uma CPI, mas afirmou que, se ainda fosse senador, assinaria o requerimento. Os deputados que compõem a ala de esquerda do PT também decidiram ontem pela manhã apoiar a criação da CPI. O grupo, de acordo com o deputado Chico Alencar (RJ), daria 13 assinaturas ao requerimento apresentado pela oposição.

Defesa

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, defendeu-se das denúncias de corrupção nos Correios dizendo que tudo partiu de empresas do setor de informática que tiveram interesses contrariados em licitações de R$ 35 milhões na ECT. Durante discurso no plenário da Câmara, na tarde de ontem, o deputado federal apresentou uma carta na qual o ex-chefe de Departamento de Contratação da ECT Maurício Marinho, que aparece num vídeo gravado envolvendo o nome de Jefferson no esquema, admite que usou o nome do petebista indevidamente. "Ele mentiu, foi leviano, foi ambicioso, tentou se dar uma importância que não tem", afirmou.

No final, o parlamentar garantiu que vai assinar a CPI pedida pela oposição porque não teme ser investigado e colocou à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva todos os cargos que o PTB tem no governo. Jefferson usou grande parte do discurso para dizer que mudou: "Há um preconceito contra mim que eu nunca consegui mudar. Eu confesso que fazia aquela imagem de troglodita sim. Usei revólver na cintura e pratiquei tiro ao alvo a minha vida inteira. Isso mudou. Hoje eu canto ao invés de dar tiros".

Mas o seu discurso não convenceu a oposição nem petistas como Walter Pinheiro (BA). Segundo o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), Jefferson não apresentou nenhuma informação nova e seu discurso só reforçou a necessidade de instalação de uma CPI. Walter Pinheiro, que já assinou o requerimento da CPI, disse que o discurso não convenceu.

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