Promiscuidade corrói o Congresso

Brasília – O consenso ficou por conta da incompetência do PT e dos erros do governo, que culminaram na eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara dos Deputados. A partir desse ponto, que passa pela discussão da reforma partidária, cientistas políticos analisaram de forma diversa o significado da ascensão de Severino e seu grupo para a política nacional.

O cientista político Marcius Coutinho, da UFRJ, diz que a principal herança dessa eleição será uma mudança no relacionamento entre o Legislativo e o Executivo. Para Octaciano Nogueira, da UnB, entretanto, nada será diferente nesse aspecto: "As relações são promíscuas e promíscuas vão continuar". José Arthur Gianotti, da USP, diz que a eleição de Severino significa que "os interesses dos brasileiros não conseguem se sobrepor aos interesses dos próprios parlamentares", e José Luciano Dias, do Ineb, lembra que há imenso espaço político a ser ocupado.

O modo peculiar de se expressar de Severino não escapou a Bolívar Lamounier, do Idesp. César Romero Jacob, da PUC-RJ, diz que há um clima de chacota no ar e aposta num desgaste da imagem do Parlamento. Para Fernando Limongi, da USP, não se deve tirar conseqüências mais profundas da eleição de Severino.

Bolívar Lamounier, cientista político, fundador e primeiro diretor-presidente do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp): "A eleição do deputado Severino Cavalcanti é um sintoma a mais de um processo que vem ocorrendo há algum tempo no País, de partidos esfarinhados, sem identidade, programa ou consistência. Se o governo não consegue eleger o presidente da Casa num pleito em que ninguém questionou o princípio de que a presidência cabia ao partido de maior bancada, então há uma dificuldade profunda do relacionamento do governo com essas entidades amorfas que são hoje o Congresso e os partidos. É claro que também contribuiu para que isso acontecesse uma incompetência política de proporções impressionantes. A condução pela cúpula do PT foi desastrosa".

Além disso, "ficou evidente que houve um voto de protesto, porque o governo atropela o Congresso a todo momento, inclusive com edição exagerada de MPs, e interfere na vida interna dos partidos, coisa raríssima no Brasil", diz ele. Para César Romero Jacob, cientista político, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ): "A ascensão de Severino Cavalcanti representa um erro de muita gente, da elite parlamentar. A começar pelo PT, que não soube encaminhar bem o processo sucessório. E a desobediência dos líderes põe em pauta a necessidade urgente da retomada da reforma política".

O professor José Arthur Gianotti torce para que o País não esteja à beira do colapso político. "No entanto, parece-me que o jogo político brasileiro bateu em um de seus limites", diz ele. Ele critica o PT por incentivar o troca-troca de partidos, contribuindo para o desmantelamento da malha política. "Foi um retrocesso e um desserviço ao País, porque destruir o processo político partidário é muito fácil e rápido, mas para reconstrui-lo leva-se gerações", afirma. 

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