Lula afirma que mantém mesma visão política

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em encontro com jornalistas estrangeiros, no Palácio do Planalto, que mantém as mesmas visões políticas e ideológicas de antes de assumir o poder, mas que precisou se adaptar às exigências da vida. “Eu não mudei ideologicamente, a vida é que muda”, teria afirmado, segundo relato dos participantes.

“Quando você casa, fica tudo dependendo da esposa. Se a esposa não gosta dos seus amigos, você acaba não vendo eles”, exemplificou. Ao comentar a situação econômica do País, Lula voltou a defender a taxa básica de juros. “Ele disse que não adiantava baixar agora e ter de subir novamente”, relatou o jornalista Juan Arias, do jornal El País, da Espanha. O presidente, segundo Arias, argumentou que, se reduzisse um ponto percentual da taxa, haveria apenas um efeito “psicológico”. Ele contou que Lula criticou a imprensa em relação ao noticiário da semana passada, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 26,5%. O presidente teria dito que não pode governar seguindo as manchetes de jornais.

O presidente disse ainda que o governo está empenhado em combater o crime organizado, mas se posicionou contra a ação do Exército nas ruas do Rio de Janeiro. “Um recruta de 20 anos não está preparado para ir às ruas.” Ao defender o Plano de Segurança Nacional, coordenado pelo Ministério da Justiça, ele disse “que a polícia foi criada para tratar de ladrão e não de crime organizado”.

Imagem internacional

Lula, segundo relato dos repórteres estrangeiros, estava curioso para saber se o Brasil era bem visto no exterior. Ao obter resposta afirmativa, segundo os participantes da entrevista, ele afirmou que acorda todos os dias otimista e que conseguirá realizar todos os projetos, sem pressa.

O presidente reafirmou que a integração da América do Sul é a prioridade da administração federal brasileira. Segundo o repórter japonês Keiichi Homma, do jornal Yomiuri Shimbun, o presidente teria comentado que apresentará neste fim de semana no encontro do G-8, em Evian, na França, a proposta de criação de um fundo internacional de combate à pobreza. Lula, segundo os correspondentes estrangeiros, disse ainda que o sucesso da gestão terá repercussão positiva para toda a América Latina. “Se não for agora, só teremos uma nova chance em 50 anos”, teria dito o presidente. Tanto Homma como o jornalista do El País disseram ter ficado impressionados com Lula. “Em 40 anos de jornalismo, posso dizer que ele me passou sinceridade”, disse Arias. Também participaram da audiência os repórteres Jean-Jacques Sevilha (Le Monde), Larry Rohter (The New York Times), Raymond Colitt (Financial Times), Rainer Marx (Weltam Sonntag) e Carlos Fino (Rádio e Televisão Portuguesa).

Desejo de negociação em bloco

Brasília – Depois de almoçar com o presidente do Equador, Lúcio Gutierrez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil quer uma negociação em bloco dos países da América Latina junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e no processo de discussão da Alca.

Lula afirmou ainda que levará a Evian, na França, na reunião ampliada do G-8, propostas que interessam a todos os países da região. Ele disse que é preciso acelerar a criação de uma zona de livre comércio entre o Mercosul e a Comunidade Andina e que, enquanto isso não ocorrer, o Mercosul vai negociar em separado com o Equador, como já vem fazendo com o Peru, por exemplo. “Vamos buscar coordenar posições com os demais países da região junto à OMC e no processo da Alca”, disse Lula.

O presidente também agradeceu o apoio do Equador à candidatura do Brasil a vaga de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. “Nesse encontro discutimos a necessidade de reformar a ONU, em particular o Conselho de Segurança. Agradecemos o apoio do Equador e o que for bom para o Brasil será bom para o Equador.” A manifestação equatoriana soma-se aos apoios já formalizados pelos governos da Argentina, da Colômbia, da Bolívia, da Venezuela, do Uruguai e do Peru; da França, da Alemanha, da Rússia e da Austrália; além dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné Bissau, Portugal e Timor Leste.

Débora Xavier

Já o presidente equatoriano afirmou que o povo de seu país começa a sonhar porque reitera a esperança na qualidade de Lula como líder na América Latina e no seu sentimento para resolver problemas sociais. Gutierrez revelou que quer criar no Equador um programa semelhante ao Fome Zero.

EUA não querem discussões com Mercosul

Brasília

– Os Estados Unidos não têm a intenção de partir para negociações bilaterais (4 +1) com o Mercosul. O posicionamento do país co-presidente ao lado do Brasil para as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ficou claro nas declarações do represente norte-americano para o comércio, Robert Zoellick, que esteve na tarde de ontem com o ministro Antônio Palocci (Fazenda).

Ele evitou responder diretamente ao ser questionado sobre a sinalização do governo brasileiro de que pretende uma negociação bilateral (Mercosul e EUA) para acesso a mercados. Segundo Zoellick, o foco da sua visita ao Brasil, e na série de reuniões que terá nos próximos dias, será a Alca. Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o governo está com o discurso afinado para os encontros com Zoellick, e deu a entender que a negociação Mercosul/EUA poderia ser interessante para o Brasil.

Ao argumentar que como co-presidente das negociações, o Brasil teria interesse em fomentar o processo de formação da Alca, Zoellick também deixou claro que não pretende falar agora em um possível adiamento do prazo para que a Alca esteja implantada, previsto para janeiro de 2005. Ele admitiu, no entanto, que processos de negociação são sempre difíceis, e por isso, não consideraria “atípico” se os prazos tiverem que ser alterados. O negociador americano lembrou, porém, que 2005 foi um compromisso acertado pelos 34 países democráticos envolvidos no processo.

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