Em 20 anos de crise, País duplica o número de ricos

São Paulo – A economia brasileira, que enfrentou recessão, moratória e sucessivos planos econômicos, conseguiu dobrar o número de ricos em 20 anos e aumentar ainda mais a concentração de renda.

Estudo divulgado ontem mostra que em 2000 existia 1,162 milhão de famílias ricas no País, o correspondente a 2,4% da população brasileira. Vinte anos antes, havia 507 mil famílias ricas – 1,8% da população na época. Na pesquisa, ricos são as pessoas integrantes de famílias com renda mensal acima de R$ 10.982 (valores de setembro de 2003). Os dados foram reunidos pelo economista Márcio Pochmann no livro “Atlas da Riqueza no Brasil”, que será lançado pela Cortez na Bienal do Livro.

Segundo o economista, o estudo mostra que nesses 20 anos uma pequena parcela da classe média ficou rica. Mas uma outra parte ainda maior dessa mesma classe média ficou pobre. “E a base da pirâmide social [os pobres] ficou ainda maior com o esvaziamento da classe média”, disse.

O estudo mostrou ainda que esse 1,162 milhão de famílias ricas detém 75% do PIB brasileiro, o equivalente a R$ 1,13 trilhão, segundo estimativa do economista. Desse total, 5 mil famílias sozinhas são donas de 45% do PIB nacional, o equivalente a R$ 691 bilhões. Segundo Pochmann, o aumento da população rica ampliou a desigualdade no País. Prova disso é que em 1980, afirmou o economista, a população rica tinha uma renda média equivalente a dez vezes a da população em geral. Hoje, os ricos ganham 14 vezes mais que a média do País.

Segundo o “Atlas da Riqueza no Brasil”, os 2,4% mais ricos do P aís têm uma renda média mensal de R$ 22.487. Na comparação com a renda das famílias que estão abaixo da linha da pobreza, os mais ricos ganham 80 vezes mais.

O livro mostra que graças a atividades ligadas ao setor financeiro uma pequena parte da classe média enriqueceu num período de fraco desempenho da economia.

Ele explica que grande parte dos “novos ricos” surgiu de atividades não-produtivas, geralmente ligadas a ganhos de capital por meio de valorizações financeiras. “A partir dos anos 90, o que se viu foi o crescimento e o estabelecimento de um modelo selvagem de acumulação de riqueza. Selvagem porque por meio da dívida pública, dos juros altos e do superávit primário o Estado transfere recursos oriundos de toda a população para as camadas mais ricas do País”, diz o livro.

Pochmann utilizou dados do Censo 2000 e da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2001 para desenhar o perfil das famílias 1% mais ricas do País.

Curitiba tem 20.872 famílias ricas

São Paulo

– No livro, ricos são as pessoas integrantes de famílias com renda mensal acima de R$ 10.982 (valores de setembro de 2003). Essa renda pode ser composta por vários integrantes da mesma família ou uma única pessoa.

Veja quais são as cidades com o maior número de ricos do país: 1) São Paulo: 443.462 famílias; 2) Rio de Janeiro: 76.317 famílias; 3) Brasília: 34.994 famílias; 4) Belo Horizonte: 27.526 famílias; 5) São Bernardo do Campo: 23.394 famílias; 6) Porto Alegre: 23.224 famílias; 7) Curitiba: 20.872 famílias; 8) Santo André: 20.475 famílias; 9) Guarulhos: 17.094 famílias; 10) Salvador: 15.182 famílias; 11) Campinas: 13.487 famílias; 12) Osasco: 12.879 famílias; 13) Fortaleza: 12.735 famílias; 14) Recife: 12.615 famílias; 15) Goiânia: 11.117 famílias; 16) Niterói: 10.394 famílias; 17) São Caetano do Sul: 9.505 famílias; 18) Mogi das Cruzes: 7.139 famílias; 19) Belém: 6.619 famílias e 20) Santos: 6.450 famílias.

Devido a natureza financeira da riqueza, os novos ricos passaram a se concentrar principalmente nos centros financeiros do Brasil: São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Brasília. O percentual de famílias ricas em relação ao total de famílias chegou a crescer 100% de 1980 a 2000 no Estado de São Paulo. No País, o aumento foi de 30%, em média. No lado contrário, este percentual caiu no Rio de Janeiro (32%) e Bahia (28,8%).

SP tem o maior número de ricos

São Paulo

– O Estado de São Paulo é o que concentra a maior parte dos ricos do País. O Estado respondeu sozinho por 58% das pessoas integrantes de famílias com renda mensal superior a R$ 10.982, segundo valores de setembro de 2003. Os dados fazem parte do livro “Atlas da Riqueza no Brasil”, do economista Márcio Pochmann. O livro mostra também que 73,5% das famílias ricas estão localizadas na região Sudeste. Outras 10% estão na região Sul e as demais estão localizadas no Nordeste (7,7%), Centro-Oeste (6,4%) e Norte (2,4%).

Segundo o livro, 50% do total das famílias ricas do País está concentradas em quatro cidades: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG). Quanto à distribuição das famílias ricas por municípios, observa-se que 38% estão localizadas na capital paulista. As dez cidades mais ricas do País reúnem 60% dos ricos do Brasil. Considerando as 100 cidades mais ricas do país, verifica-se que 84% dos ricos estão concentrados nestes municípios.

No ranking das 100 cidades com maior número de ricos do País, o Estado de São Paulo aparece com 47 cidades. Em seguida está o Rio Grande do Sul, com sete cidades. O Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná têm seis cidades cada no ranking. Santa Catarina aparece com quatro cidades e Pernambuco com três. Os estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás e Paraíba têm duas cidades no ranking das 100 mais ricas do País.

O número de ricos do País cresceu nos últimos 20 anos. O livro mostra que o percentual de ricos do Brasil subiu de 1,8% em 1980 para 2,4% em 2000. Em São Paulo, o percentual de famílias ricas em relação ao total de famílias chegou a crescer 100% nesse período. No País, o aumento foi de 30%, em média. O Sudeste, puxado por São Paulo, possuía 67,2% das famílias ricas em 1980. Vinte anos depois, o percentual da região subiu para 73,5%. No mesmo período, o percentual de ricos da região Sul caiu de 13,7% para 10%. No Nordeste, a participação dos ricos caiu de 9,4% para 7,7% de 1980 a 2000.

Enquanto São Paulo elevou a sua participação no conjunto das famílias mais ricas, de 37,8% (1980) para 58% (2000), no Rio de Janeiro houve uma diminuição da participação de 19,3% para 8,7%.

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