Dirceu sai. E governo Lula vai mudar

José Cruz / ABr

José Dirceu em sua despedida: "Saio
de cabeça erguida do Ministério".

Brasília – O ministro da Casa Civil, José Dirceu, anunciou no final da tarde de ontem a sua saída do governo. Num discurso de despedida, no Palácio do Planalto, disse que voltará para a Câmara para rebater as acusações que pesam contra ele: "Eu não me envergonho de nada que fiz no governo. Tenho as mãos limpas, o coração sem amargura. Saio de cabeça erguida do Ministério", disse Dirceu, que foi eleito deputado federal por São Paulo em 2002.

José Dirceu disse que voltará à direção do PT, ao lado do presidente do partido, José Genoino, para enfrentar seus opositores e defender o patrimônio ético do partido. "Vou mobilizar o PT para dar combate àqueles que querem romper o processo democrático e desestabilizar o governo do presidente Lula. Deixo aqui parte da minha alma, do meu coração, mas não deixo a minha alma. Continuo no governo como deputado", afirmou.

Na hora do anúncio, Dirceu recebeu a solidariedade de parlamentares petistas e de todos os ministros do PT, entre eles estavam os ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Os dois são cotados para assumir a Casa Civil. Lula também analisa nomes como os do governador do Acre, Jorge Viana, e do prefeito de Aracaju, Marcelo Déda.

Antes de fazer o anúncio de sua saída, o ministro passou cerca de uma hora reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida, o ministro voltou a seu gabinete, no quarto andar, e comunicou a seus auxiliares a decisão de deixar o governo. Estuda-se ainda a possibilidade de os ministros parlamentares Aldo Rebelo, Eduardo Campos e Ricardo Berzoini saírem no pacote maior da reforma ministerial que Lula pretende anunciar na semana que vem, para reforçar a defesa do Planalto no Legislativo.

O presidente também discute a natureza das mudanças que fará: se será uma reforma mais política, com base nos partidos, ou se montará um Ministério incorporando nomes da sociedade civil. Interinamente, o substituto de Dirceu na Casa Civil será o secretário-executivo Swedenberger Barbosa. O nome do novo ministro dependerá do perfil que o presidente imprimirá ao governo depois das mudanças.

A saída de Dirceu do governo ganhou força nos últimos dias, com o depoimento do presidente do PTB, Roberto Jefferson, à Comissão de Ética da Câmara. O ministro foi o principal alvo dos ataques do petebista. Segundo ele, Dirceu não só sabia do mensalão como também do acerto para transferência de R$ 20 milhões do PT para financiar campanhas do PTB. E teria homologado esse acordo. "Zé (José Dirceu) saia rápido, senão vai fazer réu um homem bom (o presidente Lula)", disse Jefferson.

A situação do ministro ficou ainda mais complicada com o depoimento nesta quinta do ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI) José Fortuna Neves à Polícia Federal. Fortuna disse que a Casa Civil está por trás da atuação da Agência Brasileira de Informações (Abin) nos Correios. Foi a divulgação da gravação de um flagrante de corrupção nos Correios, no mês passado, que detonou a crise. Lula deve fazer um pronunciamento nesta sexta-feira em cadeia de rádio e televisão. 

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