Chuvas que castigam o País elevam incidência de doenças tropicais

Os reflexos negativos das chuvas de Verão, que elevaram o nível das águas de rios e córregos provocando enchentes em diversos municípios brasileiros, ainda são constatados. Estatísticas da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais mostram uma elevação no número de casos de algumas doenças endêmicas.

Para se ter uma idéia, nos primeiros 40 dias deste ano foram notificados 99 casos de leptospirose (12 confirmados) e 760 casos de dengue (25 confirmados), a maioria nas últimas semanas. Com as últimas pancadas de chuvas desta semana, a ocorrência de novos casos não está descartada.
Segundo dados do Ministério da Saúde, considerando as últimas notificações estaduais, a leptospirose mantém sua posição como uma das doenças que mais ameaçam a população no período das chuvas. Causada pela bactéria leptospira, é transmitida ao homem pela urina do rato.

Afinal, quando chove muito, as águas das enchentes invadem as tocas dos roedores e contaminam a água nas residências e nas vias públicas.

Conforme dados do Ministério, no mês de janeiro deste ano houve 518 notificações de casos de leptospirose, com 38 confirmados e a suspeita de dez mortes. O Espírito Santo é o estado campeão de notificações. Vale ressaltar que a geografia é um fator importante na disseminação da leptospirose. Cidades com declives, como Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife, Vitória e Vila Velha, tendem a acumular maior quantidade de água e apresentar mais casos.

Minas Gerais está em segundo lugar com 75 notificações de casos suspeitos de leptospirose, sendo três confirmados, com uma morte.

O surgimento de doenças, a exemplo da febre tifóide, hepatite A, meningite, esquistossomose e leptospirose preocupa a classe médica por se constituir como um problema de saúde pública.

Também vale ressaltar que o acúmulo de água em recipientes continua favorecendo o surgimento do dengue. “O controle de doenças endêmicas enfrenta dificuldades, pois depende de operacionalidade governamental e muitas vezes da cultura da população”, ressalta a médica Luciana Barros Santana, especialista em Doenças Infecto-Parasitária. “É preciso controlar o vetor, no caso da malária, dengue, febre amarela e da necessidade de saneamento básico, quase inexistente em áreas periféricas de muitos municípios. No caso da leptospirose, dengue e hepatite a ocorrência pode ser reduzida ou evitada com medidas simples por parte da população, como andar calçado, lavar os alimentos, lavar as mãos após usar o sanitário, evitar vasos abertos com água e manter a caixa d”água com tampa”, salienta Luciana.

Segundo ela, todos sabem que, anualmente, durante o período das chuvas, algumas regiões são passíveis de enchentes e se faz necessária a adoção de medidas para evitar ou minimizar a ocorrência dessas doenças. “Por isso, os médicos trabalham muito com profilaxia, através da vigilância epidemiológica. Deve-se promover a manutenção do saneamento básico, da educação da população, evitando que joguem lixos nos canais de escoamento de água e esgotos e que se entre em contato com a água das enchentes”, ressalta.

Congresso

Com o objetivo de discutir todas as questões relacionadas a esse tipo de controle, diagnóstico e tratamento dessas doenças, cerca de dois mil médicos do Brasil e de vários países participarão do XL Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, em Aracaju, de 7 a 11 de março. Uma das novidades a ser anunciada deverá ser a vacina contra leptospirose, em estudo.

O tema desse evento científico “Endemias: sob o olhar dos Sertões” será debatido em 280 palestras de especialistas dos Estados Unidos, Bélgica, Cuba, Inglaterra e Peru, além de brasileiros. Além disso, ainda serão expostos 860 trabalhos de pesquisadores de países como Cuba, da Líbia, do Brasil e do Peru.

Durante o congresso, especialistas debaterão doenças como dengue, febre amarela, leptospirose, leishmanioses, esquistossomoses, doença de Chagas, malária, tuberculose, parasitoses, hanseníase, DSTs/Aids, hepatites, infecção hospitalar, uso de antimicrobianos, saúde da família, meningites e doenças infecciosas transfusionais. Os interessados em participar do congresso podem se inscrever pelo site (www.exitoeventos.com.br/medicinatropical).

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