Acolhimento é principal demanda do público GLBT na área de saúde

A falta de acolhimento é o principal problema enfrentado por gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBT) na área de saúde. A informação é de Carmem Lúcia Luiz, enfermeira ligada à Liga Brasileira de Lésbicas e representante do movimento GLBT no Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Segundo ela, cada um dos cinco segmentos do movimento GLBT tem demandas específicas, já que possuem características distintas (veja definições abaixo), mas a melhoria do acolhimento nos serviços de saúde é uma demanda comum a todos eles, pois a identificação equivocada das pessoas nos serviços de saúde é o primeiro dos entraves para o seu atendimento adequado.

?As pessoas têm dificuldade de dizer que têm orientação sexual diferente da heterossexualidade por conta da discriminação e do preconceito, e os profissionais de saúde também não fazem essa pergunta, então acaba que eles não atendem as necessidades específicas dessa população?, avaliou Carmem.

Ela destacou a necessidade de capacitar os profissionais que atendem no Sistema Único de Saúde (SUS) para que possam compreender melhor as características da população GLBT, já que normalmente há dúvidas até mesmo sobre as diferenças existentes entre os segmentos.

Além disso, a representante afirmou que é preciso fortalecer as pessoas pertencentes a esse grupo para que busquem o atendimento de saúde, muitas vezes evitado por medo da discriminação ou pelo descrédito na obtenção de que atendam às suas necessidades. ?Tem que trabalhar com os dois pólos: os gestores e usuários do SUS?.

Para Carmem, a dificuldade em compreender o universo GLBT, não só por parte dos gestores e profissionais de saúde, mas por toda a sociedade, é uma decorrência da limitação dos conceitos binários atuais para dar conta da diversidade.

?Hoje em dia, a binariedade de gênero, ser homem ou mulher, ser masculino ou feminino, não atende mais a diversidade sexual. A diversidade não cabe mais dentro da binaridade, está além dela?, disse.

De acordo com Carmem, no caso dos gays, o maior desafio na área de saúde é superar a limitação do atendimento específico que prioriza apenas doenças sexualmente transmissíveis (DST) e aids, incorporando a atenção a problemas urológicos, como o câncer de próstata e de pênis, que geralmente são deixados de lado, tanto pelos serviços quanto pelos próprios usuários.

Para as lésbicas, a maior demanda é a fertilização assistida para que possam ter filhos sem a necessidade de uma relação sexual indesejada com homens.

As duas categorias de homossexuais querem que suas características sejam levadas em conta no momento do atendimento, evitando por exemplo o questionamento sobre práticas sexuais que não são as suas, orientações para uso de métodos contraceptivos e ou insumos de prevenção a DST que estão fora de sua realidade.

Os travestis buscam o direito de serem identificados pelo seu nome social (escolhido por eles ao adotar a nova condição de gênero) e não o nome civil nos serviços de saúde e pleiteiam também assistência médica para uma modelação segura do corpo com silicone.

Os transexuais reivindicam que o SUS passe a oferecer a eles as cirurgias para mudança de sexo. Os cinco segmentos do movimento GLBT, segundo definições da conselheira do CNS, são:

Gays – homens que assumem identidade de gênero masculina mas que se relacionam afetivamente com homens (orientação homossexual).

Lésbicas – mulheres que assumem identidade de gênero feminina mas se relacionam com pessoas do mesmo sexo (orientação homossexual)

Bissexuais – pessoas com orientação afetiva-sexual para homens e mulheres.

Travestis – os ou as travestis, normalmente denominados as porque o mais comum são homens que travestem de mulheres. Assumem identidade de gênero diferente daquela com a qual nasceram . (Nem sempre são homossexuais, pois no caso de homens com identidade feminina que se relacionam com homens, por exemplo, seriam considerados heterossexuais).

Transexuais – pessoas cuja identidade não condiz com o sexo biológico. Ou mulheres que se entendem homens ou homens que se entendem mulheres e querem fazer a adequação biológica, uma mudança no corpo físico para se adequar ao sexo ao qual se identificam. (Podem ser tanto homossexuais, quanto heterossexuais, quanto bissexuais, dependendo para onde orientem seu desejo).

De acordo com Carmem Lúcia Luiz, o termo transgênero não é adotado pelo movimento GBLT por ser ainda uma identidade em construção.

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