A saída é o aeroporto

Um hoteleiro de Paris, recebendo um dos nossos repórteres em seu estabelecimento, dizia-lhe não entender porque muitos brasileiros tanto sonham em morar na Europa ou nos Estados Unidos. Referindo-se à Europa, e em particular à França, disse que lá tudo já está feito e ocupado. Não há mais lugar nem para novos trabalhadores nem para novos empreendimentos.

O lugar para empreender, na opinião dele, é o Brasil, um país de oportunidades, onde ainda há muito verde, espaços físicos e de trabalho vazios, coisas a fazer. Ele disse que sonhava em um dia poder emigrar para o nosso País.

Em Colônia, na Alemanha, um grupo de jovens recolhia moedas de passantes tocando uma harpa e cantando uma canção paraguaia. Abordados, disseram que imaginavam o Paraguai como um paraíso onde era possível construir uma nova vida, ao contrário de seu país e da Europa, já velhos, lotados e esgotados em possibilidades de progresso para seus habitantes, notadamente os jovens.

O que expressou o francês corresponde a um quase sentimento geral sobre o nosso País no exterior, em razão de seu imenso território, agradável clima, povo hospitaleiro e, paradoxalmente, o nosso subdesenvolvimento. Nada diferente sobre o Paraguai. Se não podemos ainda afirmar que somos desenvolvidos, é porque aqui ainda há muito o que fazer. E terão futuro aqueles que estiverem dispostos e preparados para aventurar, realizar, empreender, construir um país melhor. Mas funcionam como pontos negativos os nossos altos índices de desemprego e violência, que entre nós já ultrapassa todos os limites imagináveis.

Em um bom trabalho de reportagem divulgado pela Folha Online, o jornalista Sérgio Ricardo fala em um estudo do Itamaraty, ainda inédito, que revela que mais de cem mil brasileiros deixam o Brasil por ano. E que há a tendência de aumento desse número, que, nos últimos cinco anos, cresceu nada menos de 33%. As principais causas desse êxodo são as persistentes crises no mercado de trabalho e a violência. Temos visto o espetáculo entristecedor, senão aterrador, de milhares de pessoas, no Rio de Janeiro, atropelando-se em mal-organizadas filas, suportando empurrões e ainda a ação violenta, talvez necessária, porém constrangedora, da polícia, para inscrever-se para uma possível futura vaga de gari. Será um concurso que não garantirá emprego (nem um salário condigno), mas apenas listará os habilitados que serão chamados na medida das necessidades. Entre os desempregados que formam essa massa de trabalhadores está gente com habilitação específica. Alguns deles até com curso superior.

Os brasileiros que emigram procuram fugir da instabilidade do nosso mercado de trabalho, da violência e buscam ganhos melhores. E para conseguirem, aceitam entrar em países mais desenvolvidos e até em países em desenvolvimento de forma clandestina, correndo riscos enormes. Isso tudo para trocar, às vezes, um diploma de curso superior aqui obtido por uma vaga de faxineiro, lavador de pratos, empregada doméstica e outros empregos menores, porém melhor remunerados que no Brasil.

Vivemos, a cada quatro anos, com a eleição de um novo presidente ou reeleição do que no cargo já estava e parecia poder acertar, um soluço novo de esperanças. Às vezes, um soluço de desenvolvimento que não demora para acabar. Estamos esperando o soluço desta vez, antes que mais gente se convença que a saída é o aeroporto.

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