A ordem é produzir

Ao retornar de curta viagem à Argentina, onde participou do encontro dos chefes de governo dos países integrantes do Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a noite de terça-feira e parte do dia seguinte em Curitiba a fim de fazer o anúncio oficial do Plano Agrícola e Pecuário 2008/2009.

O Paraná foi escolhido não apenas por ser o maior produtor agropecuário nacional, mas também por estar representado no escalão superior da administração federal pelo deputado Reinhold Stephanes (PMDB), atual ministro da Agricultura e Abastecimento. Aliás, foi também a forma acertada de prestigiar o trabalho realizado pelo ministro e seus auxiliares em favor da expansão do agronegócio, mas acima de tudo, ineludível prova de confiança e do que pensa o governo sobre o estágio altamente desenvolvido da atividade no território paranaense.

Antes de cumprir a agenda oficial que o trouxe a Curitiba, o presidente Lula teve um encontro informal com Ratinho, o conhecido apresentador de televisão, com quem jantou na noite de terça-feira. O jantar, com a presença de Gleisi Hoffmann, candidata do PT à Prefeitura da capital paranaense e quadros locais do partido, selou o apoio do deputado federal Ratinho Júnior e de seu partido (PSC) à campanha da ex-diretora da Itaipu. Se o protocolo valesse alguma coisa, a primeira autoridade estadual a ter contato com o presidente que veio em visita oficial seria o governador Roberto Requião. Todavia, isso foi postergado para o desjejum da manhã seguinte, indicando possível ressentimento entre personalidades até pouco tempo fertilíssimas em rebarbativos e recíprocos elogios.

A preocupação fundamental da União no momento é frenar o ímpeto demonstrado pela inflação dos preços dos alimentos básicos, um terror em ano eleitoral, tanto que o programa deverá destinar R$ 65 bilhões para a agricultura empresarial, ou seja, o setor que garante o abastecimento do mercado interno e o suprimento da pauta de exportações de commodities agrícolas. O esforço do governo prevê a alocação de mais R$ 13 bilhões para continuar amparando a agricultura familiar, também um elo importantíssimo na cadeia da produção de alimentos, sobretudo pela atenção dispensada aos pequenos produtores, que na maioria absoluta dos casos não conseguiriam, assim como jamais conseguiram, contar com o financiamento para continuar na atividade.

Um item relevante do apoio à agricultura familiar está no financiamento de 60 mil tratores agrícolas, precioso equipamento para a ampliação da produtividade das lavouras de extensão reduzida. Com a iniciativa, o governo solidifica a idéia de fazer com que a pequena produção não signifique apenas a subsistência da família do produtor. O próprio Lula arrazoou que ?o plano terá uma palavra de ordem, que é dobrar a produção em cada pequena propriedade?. Não é de hoje que se sonha com isso, já que todos nós sabemos que estão na pequena propriedade as fontes produtoras de feijão, batata, frutas, legumes e hortaliças em geral.

O presidente também se referiu à abertura de uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para custear a recuperação de áreas degradadas, com a finalidade de incorporá-las à produção de cereais. As áreas em questão foram abandonadas após a derrubada indiscriminada de árvores e a implantação de pastagens para alimentar o gado.

Na produção de grande escala os produtos prestigiados com o maior volume de recursos continuarão sendo a soja, milho, arroz, algodão e cana-de-açúcar, figurando o trigo como a principal alternativa para o cultivo de inverno na região Sul. A meta do governo é estimular o crescimento da produção a fim de evitar que haja aumentos desgastantes e injustificáveis no preço da dieta básica, até porque os países industrializados responsabilizam a produção do etanol, que é forte no Brasil, pela alta dos preços da comida. Uma falsa impressão que o presidente Lula está se esforçando para desfazer. 

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