Quando o casamento não tem um final feliz

A relação entre autores e diretores exige jogo de cintura. Tanto que, quando falam no assunto, a maioria deles esquece a criatividade e compara a parceria a um casamento. Há fases de encantamento, de desentendimentos corriqueiros e de problemas mais graves que, crescendo dia após dia, acabam em rompimento como o que viveram Glória Perez e Jayme Monjardim em América. Os dois, responsáveis pela bem-sucedida O Clone, só se manifestaram sobre o fato em comunicados distribuídos à imprensa, nos quais falam em idéias diferentes sobre a condução da trama e seus personagens. Antônio Calmon, autor de Começar de Novo, também substituiu o diretor Carlos Araújo durante a novela e acha que o segredo é cada um se limitar a seu papel. "O autor não deve ver o diretor como seu capataz. E o diretor tem de entender que o autor não é um datilógrafo", sentencia.

Quando vem a separação nesse tipo de casamento, a guarda da novela costuma ficar com os autores. Calmon ressalta, no entanto, que, no caso de Começar de Novo, os problemas não surgiram em função de discordâncias, mas do cansaço do diretor, que vinha da minissérie Um Só Coração. "Ele estava exausto, estafado, só pensava em gravar e gravar, perdeu o controle da novela e de sua própria saúde", ameniza Calmon. De fato, nem sempre o problema está diretamente relacionado à trama em curso. O próprio Jayme Monjardim já se desentendeu com Benedito Ruy Barbosa depois de duas parcerias de excelente repercussão – Pantanal, na extinta Manchete, e Terra Nostra. À época, o autor teria ficado magoado por Jayme se envolver na minissérie Aquarela do Brasil, passada no mesmo período em que ele planejava ambientar a continuação de Terra Nostra. "Foi o único diretor com quem não me dei bem. Assim mesmo, nossos desentendimentos foram posteriores", ressalta Benedito.

Também com anos de estrada, o diretor Herval Rossano, atualmente na Record, garante nunca ter tido problemas com autores, mas lembra ter abandonado a novela Gente Fina, de Luiz Carlos Fusco, depois de dirigir os primeiros capítulos. A idéia original, do José Louzeiro, era boa, mas ele fazia outra coisa. Fui embora, recorda. A mesma atitude teve Marcílio Moraes ao perceber que tinha embarcado em canoa furada na novela Metamorphoses, produzida pela Casablanca para a Record. Convidado a desenvolver a sinopse da sócia da produtora, Arlette Siaretta, o autor só resistiu 20 dias. "Ali foi um caso de amadorismo simplesmente. Ela queria fazer uma novela sem autor", dispara Marcílio, autor de Essas Mulheres, que a Record estréia nesta segunda, dia 2.

Sejam quais forem os problemas, autores e diretores costumam concordar no que diz respeito às soluções. Se houver risco de prejuízo para o trabalho, o melhor é mesmo a separação. "É um acidente de percurso a que todos estamos expostos. As pessoas devem tentar até não poder mais. Quando não há mais chance, separam-se", avalia Gilberto Braga, que se orgulha de sempre ter afinidade com seus diretores. 

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