Personagem que bate na mulher provoca repulsa e medo entre o público

O convite para fazer Mulheres Apaixonadas pegou Dan Stulbach de surpresa. Recém-saído de Esperança, onde interpretou o advogado André, ele não imaginava que fosse voltar às novelas tão cedo. Mas voltou, a pedido de Manoel Carlos. O autor gostou tanto da atuação de Dan na peça Novas Diretrizes em Tempos de Paz, como imigrante polonês que luta para entrar no Brasil, que criou um personagem para ele na novela das oito: o marido ciumento e possessivo de Raquel, interpretada por Helena Ranaldi. “Eu nunca classificaria o Marcos como um vilão. Ele não é o mocinho, mas também não é o vilão da história. No fundo, ele é um pouco dos dois. Como todos nós…”, salienta.

Para tentar compreender o temperamento de Marcos -que chega a agredir Raquel com uma raquete de tênis e a passar de carro por cima da bicicleta de Fred, personagem de Pedro Furtado -, Dan recorre ao pai da psicanálise, Sigmund Freud: “Num casal, você ama muito mais os defeitos do outro do que as suas qualidades…”. Mas tão obscuro quanto os motivos que levam Marcos a se tornar o algoz da mulher só mesmo o comportamento do público, que lança olhares de soslaio nas ruas. Em sua segunda novela na Globo, Dan ainda se espanta quando algum telespectador pede para ele deixar Raquel em paz. “Não tenho medo de apanhar na rua. As pessoas é que parecem ter um certo medo de mim”, diverte-se.

Aos 34 anos, Dan torce para seu personagem repetir o sucesso do de Giulia Gam, Heloísa. Segundo ele, muitos casos de violência doméstica não chegam ao conhecimento das autoridades porque as mulheres têm medo de denunciar os companheiros. “Se souber que meu trabalho está fazendo bem às pessoas, vou me sentir realizado. Caso contrário, vira ego, vaidade…”, desdenha. Bem-humorado, Dan só aparenta desconforto quando insistem em compará-lo com Tom Hanks. Além de não se achar parecido com o astro de Forrest Gump, ele teme que alguém se apresse em classificá-lo como o “Tom Hanks brasileiro”. “As pessoas acham que eu tinha de ficar feliz só por ele ser um grande ator”, minimiza.

P – A atriz Regiane Alves já levou umas “guarda-chuvadas” do público por causa da Dóris. Você não teme passar por alguma situação parecida nas ruas?

R – Antes de eu entrar na novela, o pessoal já me prevenia do alvoroço que estava por vir. Eu chegava no teatro e logo alguém comentava: “Olha, Dan, você aparece amanhã na novela, hein… Se prepare!”. Mas eu preferi viver num mundo de ilusão. Eu tentava me convencer de que estava tudo bem, tudo em ordem. Por via das dúvidas, antes de eu aparecer na novela, fui ao shopping para me despedir… Mas a resposta do público está cada vez mais intensa. Quando ando na rua, tem sempre alguém que tece um comentário qualquer. Ontem mesmo, fui ao cinema e foi difícil à beça. As pessoas elogiam o meu trabalho, mas cobram menos violência. “Pare de bater na Raquel!”, pedem. Guarda-chuvada, por enquanto, ainda não levei. As pessoas têm um pouquinho de medo de mim…

P – Você chegou a fazer algum tipo de “laboratório”? Qual?

R – Conversei com um psicanalista que trabalha com um grupo de homens agressores. E conversei também com alguns homens que passaram por isso e com algumas mulheres agredidas também. Li muitos livros sobre o assunto e usei a minha intuição também. No Rio, visitei o Instituto NOOS, que atende justamente a homens agressores. Volto a dizer: minha maior preocupação foi criar um ser humano ambíguo, como cada um de nós. E queria também que essa ambigüidade tornasse ele humano, crível… Na verdade, não procurei entender a psiquê do Marcos, mas as atitudes dele. Como telespectador, posso não entender ou concordar com as atitudes dele. Pessoalmente, não concordo. Mas tenho de entender o porquê de ele fazer o que faz. Não aceito, nem concordo, mas tento compreender a dor desse cara…

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