Lágrimas abrasileiradas

Os elogios ao texto de Marcos Lazarini chegam a ser lugar-comum entre os atores de Os Ricos Também Choram, que se reuniram na semana passada em São Paulo para o primeiro encontro com a imprensa. Entra novela, sai novela no SBT, os discursos não são muito diferentes. Mas, trabalho que o autor vem fazendo à frente da trama é realmente inédito na emissora. Pela primeira vez, um texto da mexicana Televisa foi completamente transformado mudaram a época, o local, o contexto e vários personagens foram acrescentados.

E não é só isso. O contexto político-econômico-social de São Paulo da década de 30 do século passado é tema central da história, que passa pela crise do café, pela Revolução de 1930, pela Revolução Constitucionalista e pelo Estado Novo. "Gosto de pensar que estou me apropriando da história. O original já existe, foi sucesso mundial. A minha novela ainda vai estrear e espero que seja bem-aceita", valoriza Lazarini, que já trabalhou no SBT, onde fez durante dois meses a adaptação de Seus Olhos.

 Naquela época, no entanto, a liberdade de criação era bem mais restrita. Desta vez, mesmo os personagens centrais sofreram alterações. É o caso da protagonista, Mariana, que, depois de ganhar outro amor além do "bon-vivant" Luiz Alberto, vê o mocinho desaparecer ao se engajar nas fileiras da Revolução de 32. "Ela é ótima não só por ser protagonista, mas porque tem inúmeros conflitos", ressalta Taís Fersoza. Depois de julgar que Luiz Alberto está morto, Mariana aceita o pedido de casamento de seu outro pretendente, Bernardo. O rapaz, interpretado por Felipe Folgosi, é ninguém menos que irmão de Luiz Alberto e não existia na versão original. "Estou surpreso principalmente com o teor cômico do texto. Apesar do drama, há muitos momentos engraçados", destaca Felipe.

Comicidade

 De fato, entre os muitos personagens criados por Lazarini, a grande maioria tem tom cômico. Há desde um barbeiro estabanado, que marca o rosto dos clientes a navalhadas, até um locutor de rádio que se julga o homem mais feio da cidade mas conquista todas as mocinhas com sua voz encantadora. Desde comunistas que inventam um grupo de orações para poder realizar as reuniões do partido na pensão onde vivem até uma dupla de contraventores travestida de mulher. Para Lazarini, o mais difícil não foi criar os personagens, nem contextualizar a trama no Brasil da década de 30. "A dificuldade é lidar com o passado quase mítico de uma novela tão importante. É uma grife comparável a Escrava Isaura, exagera.

 Para criar a fictícia Ouro Verde, na qual se passa a história, a equipe do SBT promoveu uma grande reforma na cidade cenográfica da emissora e gravou as externas em Amparo, no interior de São Paulo. Pela primeira vez fora da Globo, Márcio Kieling, que vive Luiz Alberto, gravou até agora apenas as externas e ainda não se impressionou com o tão falado ritmo frenético das gravações no SBT. "Acho que ainda vai intensificar, mas tudo bem. O importante é poder conhecer uma nova emissora", valoriza. Já Flávia Monteiro está mais que acostumada à emissora, onde liderou o elenco de Chiquititas. Depois de quatro anos longe da tevê, a atriz volta na pele de Olga, uma das filhas de uma viúva que as mantém intocadas em casa. "Ela é sisuda, calada, mas vai conseguir se alistar como voluntária durante a Revolução Constitucionalista e se apaixona pelo Luiz Alberto", define Flávia.

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