João Gilberto faz show no Theatro NET

Gilberto Gil ainda olha para o sujeito que o acompanha há seis décadas como um misterioso objeto de seis cordas. Presente do imigrante italiano Romeo Di Giorgio, feito especialmente para o encaixe de seus dedos longos e arqueados, o violão de Gil tem trabalhado mais desde que seu dono resolveu dar uma passada pela escola de João Gilberto. Gil estudou e reestudou harmonias para fazer Gilbertos Samba, o disco que dedica à obra do pai da bossa nova. Agora, ele faz shows em São Paulo – um fechado, nesta quarta-feira, 16, e outros abertos ao público a partir de sexta, 18, no novo Theatro NET.

Gil fala ao jornal O Estado de S.Paulo, por telefone, de como a visita à obra de João o faz inaugurar um novo momento em sua carreira, tanto com relação ao seu instrumento, historicamente mais percussivo do que harmônico, quanto com relação à sua voz, cada vez mais delicada com o passar dos anos. Aos 72, diz o que viu e sentiu ao assistir a 12 jogos da Copa do Mundo nos estádios, incluindo o Massacre do Mineirão que esfriou sua alma. De quem foi a culpa do fracasso? “Eu achava o tempo todo que eu era o culpado.” Mais Gil, impossível.

Quando ao ser questionado sobre quando ao tocar desafinado, ouve-se um ruído quase experimental na guitarra do Pedro Sá e ser produzido por jovens como Moreno Veloso e Bem Gil ser algo que moderniza sua linguagem. Ele diz que “eu tenho 72 anos, comecei a fazer música há mais de 50 e de lá pra cá tanta coisa surgiu, experimentalismos, elementos da música de concerto, da música eletroacústica, das experiências de Beatles com George Martin. Quando chamo Bem e Moreno para produzir, isso tudo está em perspectiva também. Embora eu pudesse ficar satisfeito só com o meu violão, tocado no sofá de casa, e com a reprodução do espírito de João na minha emissão mais simples, tento incorporar esses panoramas que esses meninos foram trazendo ao longo do tempo”.

Gil foi questionado também sobre sempre ser visto como um filho direto de Luiz Gonzaga e Caetano como um dos herdeiros de João Gilberto. E se quando visita Gonzaga, é o filho indo ver o pai. Agora, na casa de João, seria o sobrinho visitando um tio? “É, mas a gente não pode se esquecer de que João é isso também. João é de Juazeiro, a película da célula de João é toda nordestina. Ele é como eu, sertanejo. Passei a infância no sertão da Bahia, envolvido pela sanfona, pelos folguedos juninos, por essa música nordestina. João é isso também, embora ele tenha se expressado através de uma suavidade diferente que vem do cool jazz”.

Gil contou também que quando sai desse campo seguro “já necessito de tonalidades mais baixas, da emissão mais suave, deixar um pouco o rock e o pop. E, aí sim, encontro exatamente no João uma certa comodidade, uma possibilidade de continuar emitindo com beleza”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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