Fernando Morais conta como fez a biografia de Paulo Coelho

Tudo começou no Paraná, em 1969, quando o grupo de amigos de Paulo Coelho foi confundido com um grupo de assaltantes de banco. Eles foram presos por engano no quartel do exército em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, onde foram torturados por um major com um dente de ouro. Essa descrição rendeu o novo livro de Fernando Morais intitulado O mago, lançado esta semana, em Curitiba. O livro conta detalhadamente toda a história do escritor Paulo Coelho.

“Eles estavam indo para Assunción, no Paraguai, assistir a um jogo amistoso da seleção brasileira para a Copa de 1970. A partida era apenas uma boa desculpa para que o grupo pegasse a estrada e se aventurasse estrada a fora”, conta Morais.

Esta e outras histórias de Paulo Coelho estavam sendo decifradas por Morais para a construção do livro, que até então, já estava com duzentas páginas. “Percorri mais de seis semanas ao lado de Paulo na França, depois retornei ao Rio de Janeiro, onde grande parte de sua história se desenrola. Passei mais oito meses vasculhando todas as histórias e gavetas do escritor até que uma hora me deparei com seu testamento, que iria mudar toda a construção do livro”, diz.

Morais conta que um dos itens do testamento o deixou muito curioso. “Fiquei lhe perguntando sobre seu testamento, mais especificamente sobre o item que dizia o ‘meu baú deverá ser incinerado imediatamente após minha morte’. Perguntei-lhe o que tinha no baú, e ele sempre desconversava. Até que um dia me propôs um desafio: encontre o major que nos torturou em Ponta Grossa, que lhe dou a chave do meu baú”, conta.

Capa do livro O mago. Antes de Paulo Coelho se tornar um dos escritores mais lidos do mundo, ele já tentou o suicídio.

Lançado o desafio, Morais buscou de todas as formas encontrar quem era o sujeito que havia torturado Paulo Coelho no Paraná. Lembrou que tinha guardado um contato de um recém-formado jornalista na cidade paranaense, que conseguiu encontrar o major. Paulo Coelho passou a chave de seu baú para Morais, isso mudou toda a história da construção do livro. “Quando abri o baú, descobri um diário com mais de 40 anos narrados diariamente pelo escritor. Achei uma mina de ouro para o livro”, conta.

Depois da descoberta do baú, Morais jogou fora tudo o que já havia apurado e se dedicou mais de três anos para novamente decifrar e realizar entrevistas com todos que tiveram contato com o escritor como grandes amigos e até mesmo inimigos.

Após levantar todos os dados e depois escrever o livro, Morais percebeu como a história de Paulo Coelho é incrível. “É impressionante que Paulo esteja vivo depois de tudo que passou. Ele já nasceu morto, pois durante seu parto, na maternidade de São José, no Rio de Janeiro, foi declarado pelo médico como morto, após ter sua clavícula quebrada e seu pulmão perfurado pela mesma. Quando estava recebendo a extrema unção do padre, ele deu um sinal, estava vivo”, descreve Morais.

De acordo com o autor, esse foi apenas o primeiro desafio vivenciado por Coelho. “Ele já tentou suicídio, sofreu em manicômios, passou por todos os tipos de drogas, experimentou diversas formas de sexo, encontrou-se com o diabo, foi preso pela ditadura, ajudou a revolucionar o rock brasileiro, redescobriu a fé e se transformou em um dos escritores mais lidos do mundo”, conta.

Fernando Morais é jornalista, político e escritor. Nasceu em Mariana, Minas Gerais, no ano de 1946 e descobriu o jornalismo a partir de 1961, tendo passado pelas principais redações do País, entre elas da revista Veja, Jornal da Tarde, Folha de S. Paulo e TV Cultura. O reconhecimento não demorou.

Recebeu trê,s vezes o Prêmio Esso e quatro vezes o Prêmio Abril de Jornalismo. Foi deputado estadual durante oito anos (pelo MDB-SP, e depois pelo PMDB-SP) e Secretário da Cultura (1988-91) e da Educação (1991-93) do Estado de São Paulo.

É autor também de Transamazônica (Brasiliense, 1970, com Ricardo Gontijo e Alfredo Rizutti), Olga (Alfa-Omega, 1985, reeditado pela Companhia das Letras em 1993), Chatô, o rei do Brasil (Companhia das Letras, 1994), Na toca dos leões (Planeta, 2004), Montenegro (Planeta, 2006), entre outros. Sua obra Corações sujos recebeu o Prêmio Jabuti de Livro do Ano de não-ficção em 2001, enquanto Olga foi transformado em filme pelo diretor Jayme Monjardim em 2004. Morais tem livros traduzidos em 19 países.