Restaurante com preço popular atrai torcedores no Rio

A grana é curta e os preços, altos. Mas a vontade de viajar, de conhecer o Rio e de acompanhar a seleção na Copa do Mundo é muito maior. Com hospedagem grátis no Terreirão do Samba, no centro, latino-americanos agora encontraram no Restaurante Popular Betinho, na Central do Brasil, um local bom e barato para as refeições. Lá, o café da manhã custa R$ 0,35 e é servido das 6h às 9h. O almoço sai por R$ 1 e é servido entre 10h e 15h. Nesta segunda, o cardápio incluía linguiça de frango cozida, carne moída, espaguete ao alho e óleo, salada de acelga e cenoura, além do tradicional arroz com feijão preto. Para acompanhar, suco de goiaba e laranja de sobremesa. O local é frequentado por trabalhadores dos arredores e moradores de rua.

Com apenas 1 ano, o pequeno Luca faz sua primeira viagem internacional com os pais. A família saiu de Buenos Aires e está no Rio há cinco dias, depois de viajar de carona. Aqui, dormiram em uma barraca em Copacabana e acordavam às 5h para desmontar o abrigo e não terem problemas com a Guarda Municipal. No sábado, mudaram-se para o Terreirão, onde receberam a dica do restaurante popular. “A comida é muito boa e econômica”, disse Joaquim González, de 27 anos, acrescentando que gastava R$ 5 por refeição na praia. “Aqui não tem nada frito, o que é bom para o Luca porque ele pode comer de tudo”, avaliou a mãe, Rossio Climarey, de 30, que ficou feliz ao saber que os pratos eram preparados por nutricionistas.

A simpatia dos brasileiros chamou a atenção do casal. “Todos são muito hospitaleiros e, quando veem que estamos com o bebê, nos tratam melhor ainda”, afirmou Rossio, pouco depois de ganhar duas laranjas de dois homens que estavam sentados perto da família.

FARTURA – Também argentino, Carlos Maroa, de 53 anos, já passou por alguns “perrengues” com hospedagem – ele dormiu por dez dias na rodoviária e está há duas semanas no Terreirão. Agora, acha as refeições no restaurante Betinho um luxo. “A comida aqui é tão boa quanto outras pelas quais pagamos R$ 10, R$ 12.” Ele contou que a primeira refeição do dia é farta: pão, café com leite e fruta. Por isso, a presença dele pela manhã é certa.

Há uma semana, os amigos Carol Cubilla e Stevaro Moreno, ambos de 23 anos, têm feito o máximo possível de refeições no restaurante popular. O jantar, eles dizem, “depende do dinheiro”. Apesar de gostarem da comida, estranharam o fato de estar tudo no mesmo prato. “A comida brasileira vem toda misturada, o que para nós é muito diferente. Mas é gostosa e abundante. Ficamos muito satisfeitos”, explicou Carol.

O colombiano Rafael Eduardo Torres, de 25 anos, ficou impressionado com os preços cobrados no País. “Aqui é tudo muito caro. Vocês que moram no Rio são todos ricos, só pode. O que paguei em comida em dois dias desde que cheguei ao Brasil poderia comer por um mês aqui (no restaurante).”

DIVIDIR O PÃO – Acostumados a viajar pela América Latina e conhecer os problemas sociais dos países, os colombianos Jaime Andrés Silva, de 25 anos, e Felipe Pedraza, de 24, estavam satisfeitos “em dividir (a comida) com o povo brasileiro, com moradores de rua que costumam vir aqui”. “Há muita comida e muito desperdício na Colômbia e no Brasil. Me parece muito bom que aqui se aproveite a comida que tem demais para alimentar seu povo”, analisou Silva.

As refeições do restaurante popular são subsidiadas pelo governo estadual, que paga R$ 1,44 pelo café da manhã (o público gasta R$ 0,35) e R$ 5,49 pelo almoço (o público paga R$ 1). Diariamente, 3,5 mil pessoas almoçam no local e, pelos cálculos da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, ao menos 150 gringos fazem a principal refeição do dia ali. O secretário João Carlos Mariano frisou que, apesar da surpresa pela procura dos estrangeiros, não houve adaptações no cardápio.

Frequentador do restaurante Betinho, o brasileiro Roberto Gomes, de 63 anos, está gostando da invasão gringa durante a Copa. “Sempre converso com eles. Já até entendo um pouco de espanhol e eles, de português, tanto que até já brinquei com eles sobre futebol.”