Ninguém pode perder o clássico de hoje na Vila Capanema

O jogo desta noite – às 20h30, no Durival Britto – é um tira-teima para Paraná Clube e Atlético. As trajetórias recentes dos clubes aumentaram a rivalidade entre tricolores e rubro-negros e o duelo desta noite promete. Já houve choradeira por conta da arbitragem, julgamento ?quente? por conta de incidentes no clássico disputado no Joaquim Américo e um clima de ?tudo ou nada? em torno desta partida. Há um pensamento comum, porém, nos bastidores da Vila Capanema e da Baixada: ?é proibido perder?.

O Atlético, com apenas três pontos, pode ficar virtualmente alijado das semifinais em caso de derrota. Principalmente se o Engenheiro Beltrão, à tarde, vencer o Iraty, no João Cavalcante de Menezes. Já o Paraná, que teve sua ascensão interrompida pelo Beltrão, se perder passa a ter sua vaga na outra fase seriamente ameaçada. Ingredientes que dão maior dramaticidade ao encontro, que tem tudo para ser tenso e disputado de forma acirrada, do jeito que um clássico merece.

Uma extensão do que já ocorreu nos dois jogos disputados nessa temporada, com uma vitória para cada lado. Na fase classificatória, o então embalado Atlético, fez 2×1, jogando em casa, e seguiu firme até a queda do seu recorde de vitórias seguidas em um Paranaense. Já em queda, após a perda de peças-chave, o Rubro-Negro perdeu – também na Arena – o primeiro jogo desta segunda fase: 1×0 para o Paraná Clube. O resultado pôs fim à longa invencibilidade do time em seus domínios, que vinha desde a chegada do técnico Ney Franco.

E, se o assunto é treinador, o Paraná Clube também conta com um estrategista. Paulo Bonamigo chegou para mudar os rumos do Tricolor na temporada e – exceção feita aos dois tropeços para o Engenheiro Beltrão – segue um caminho de bons resultados, de olho na classificação às semifinais. Entende que uma vitória praticamente coloca seu time na outra fase e vai atrás desse objetivo, contando com o apoio da torcida. A expectativa dos tricolores é de ?casa cheia?, sendo que 16 mil ingressos foram disponibilizados, sendo 1.600 para a torcida atleticana.

A comissão de arbitragem, diante da importância do jogo, decidiu não dar ouvidos a eventuais vetos e o sorteio indicou Héber Roberto Lopes para mediar o confronto. Uma decisão que gerou descontentamento a rubro-negros e aprovação a tricolores. Divergências à parte, o jogo tem tudo para ser um dos mais disputados dos últimos anos entre os clubes. Senão na técnica, pelo menos na força e no espírito de luta dos atletas. Uma decisão antecipada num campeonato tão carente de emoções.

CAMPEONATO PARANAENSE

2ª FASE – 4ª RODADA

PARANÁ CLUBE x ATLÉTICO

PARANÁ

Fabiano Heves; Daniel Marques, João Paulo e Luís Henrique (Nem); Araújo, Goiano, Jumar, Giuliano e Éverton; Cristian e Joelson (Fábio Luís).

Técnico: Paulo Bonamigo.

ATLÉTICO

Vinícius; Rhodolfo, Antônio Carlos e Danilo; Nei, Valencia, Alan Bahia, Netinho e Piauí; Gabriel Pimba e Marcelo Ramos.

Técnico: Ney Franco.

SÚMULA

Local: Durival Britto (Curitiba).

Horário: 20h30.

Árbitro: Heber Roberto Lopes.

Assistentes: Roberto Braatz e Aparecido Donizetti Santana.

Receita de Cristian é entrar de cabeça fria

?Nada de bala. Agora tem que ser na base do canhão, de fora da área?, disse o bem-humorado Cristian. O jogador teve presença confirmada após ser absolvido no TJD da acusação de simulação no clássico do primeiro turno desta fase.

Mesmo prevendo um jogo tenso, Cristian prega a necessidade do Paraná entrar em campo com a cabeça fria. ?Perdemos a tranqüilidade na última partida e nos demos mal?, disse Cristian, lembrando a expulsão de Léo, frente ao Engenheiro Beltrão. O meia acredita que agora está num nível físico muito melhor e espera fazer um grande clássico. ?Precisamos disso. De um grande jogo, para provar que estamos numa ascendente e que o deslize na última rodada nada mais foi do que isso, um deslize?, comentou.

Com a presença de Cristian, o Paraná ganhou mobilidade, aproveitando as características do trio de meias, formado por ele, Giuliano e Éverton. ?Não será fácil, mas em casa temos que fazer a nossa parte. Em clássicos, o que define a sorte do jogo é a aplicação, a concentração?, afirmou. ?Temos que manter nosso estilo de jogo, marcando forte, com um time bem arrumado, e saindo em velocidade?, assegurou.

Proibido errar

Nem deve começar jogando, pois Luís Henrique torceu o tornozelo no treino de ontem e virou dúvida.

Menos de doze horas após comemorar a liberação de Cristian – absolvido no julgamento de terça-feira à noite -, o técnico Paulo Bonamigo passou a conviver com novo problema. No final do treino de ontem, o zagueiro Luís Henrique sofreu uma entorse no tornozelo esquerdo e dificilmente estará em campo hoje à noite. A contusão do capitão fez a comissão técnica do Paraná Clube chamar Ricardo Ehle para a concentração e Nem, ao que tudo indica, será escalado como líbero frente ao Atlético.

?Vamos esperar a reação do Luís Henrique. Mas, não é um quadro animador?, admitiu o médico Júnio Chequim logo após examinar o atleta. ?Iniciamos tratamento intensivo e o jogador tem muita força de vontade. É esperar?, disse. Independente da presença do capitão, é certo que o Tricolor vai iniciar o clássico com três zagueiros. Foi com essa formatação tática que o time de Paulo Bonamigo atingiu estabilidade na competição. ?Há um entrosamento muito bom. Até porque, atuamos com alas bem avançados?, explicou o zagueiro João Paulo.

Após ficar no banco de reservas frente ao Engenheiro Beltrão – por opção do treinador – ele reaparece como titular. E evitou polêmica. ?Não tenho do que me queixar. Estou sempre pronto para ajudar. O Bonamigo fez aquilo que achava melhor para o time e encaro isso com muita naturalidade?, disse João Paulo. Para o zagueiro, o revés já é parte do passado, numa tarde infeliz, mas sem culpados. ?O que interessa é o clássico, jogamos em casa e temos que fazer o resultado?, afirmou. Na sua visão, será um jogo muito pegado, onde é proibido errar.

Para não perder o sentido de marcação, Paulo Bonamigo confirmou a entrada de Goiano na vaga de Léo, suspenso, mantendo assim uma dupla de volantes. A partir dessa estrutura defensiva, o Paraná pretende novamente explorar as alas, em especial a esquerda, onde Éverton mais uma vez atuará improvisado. No início da semana, o técnico chegou a trabalhar com Daniel Cruz no setor, mas voltou atrás e mais uma vez vai utilizar o meia deslocado pelo lado do campo. ?O Éverton vem bem nessa função e com ele a gente ganha qualidade?, justificou Bonamigo.

A outra indefinição está no ataque. Joelson até treinou ontem, mas a comissão técnica vai aguardar a sua reação ao esforço. Se Joelson não estiver 100%, o Paraná terá Fábio Luís, um centroavante de ofício, no comando do seu ataque. ?Precisamos da reabilitação e contamos com o nosso torcedor?, finalizou Joelson.

É pra derrubar a gralha

Clewerson Bregenski

Matar um leão por dia. O velho ditado representa o que tem sido o cotidiano do Atlético desde o péssimo início de segunda fase do Estadual quando a cada jogo tem que demonstrar muita superação em campo. E para o clássico de logo mais às 20h30, na Vila Capanema, não será diferente, apenas mudará o animal a ser abatido. Hoje à noite o objetivo do Furacão é derrubar a Gralha Azul, mascote do Paraná Clube, do alto da tabela e assim manter-se vivo na disputa por uma das vagas à semifinal do Estadual.

Para tanto, o Atlético aposta na mesma formação que venceu o Iraty, no domingo passado, e que devolveu a esperança de classificação no CT do Caju. As novidades estão no banco e são boas opções para mudar o panorama do jogo. Os reforços Zé Antônio, Léo Medeiros e Rogerinho dão mais qualidade ao técnico Ney Franco para mexer na equipe.

Revanche

O clássico é uma revanche e ganha muito mais importância do que se possa imaginar. Em caso de vitória, o Atlético ganha a posição do Paraná, no saldo de gols, e volta, inclusive, a sonhar com o primeiro lugar do grupo. Uma derrota cairia como um balde de água fria e praticamente limitaria o Furacão a depender de outras combinações para respirar na competição.

Sobre a revanche, o meia Netinho disse que é ?coisa do futebol? e é salutar desde que fique restrita ao gramado. ?Perdemos em casa então tem um gostinho de vingança, mas dentro de campo. Jogando bom futebol. O nosso objetivo é conseguir a vitória e devolver o resultado para o Paraná. Ficamos muito chateados com a derrota dentro da Arena e do jeito que aconteceu?, explicou o meia.

Raça

O ala Piauí não quis levar para o lado explícito do revanchismo, mas em suas palavras fica clara a conotação. ?Não da pra falar em revanche para não motivar o outro lado. Temos que pensar é no Atlético que precisa da vitória. Mas clássico tem aquele gostinho?, disse. O jogador ressaltou a necessidade de o time demonstrar muita garra pois a partida pode definir o futuro do Rubro-Negro no campeonato. ?Cada um tem que se empenhar e lutar até o final. Jogar com raça para mostrar a verdadeira cara do Atlético?, finalizou.

Atlético precisa vencer pra seguir respirando

Foto: Allan Costa Pinto

O lateral Piauí diz que o time precisa se empenhar e lutar até o final.

A vitória é o único resultado que interessa e, por isso, arriscar em busca dos três pontos é o que se espera do Rubro-Negro. Ney Franco garante que o momento é de ter tranqüilidade e apostar na qualidade do trabalho que está sendo desenvolvido. ?Nossa equipe está sempre arriscando. Avalio que estamos colocando em campo a melhor equipe. Quem está treinando melhor?, afirmou Franco.

Sobre a pressão de conseguir os três pontos, o treinador credita a um fator natural do futebol. ?Em algum momento, jogadores e treinador vão ter que passar por isso. Precisamos da vitória para dependermos somente de nossas próprias forças. Já estamos acostumados com esse tipo de pressão?, comentou.

Para Franco, o clássico será mais um jogo difícil do Campeonato Paranaense e que merece atenção pelo bom rendimento do adversário sob o comando de Bonamigo. ?Apesar do resultado negativo (diante do Engenheiro Beltrão), o Paraná vem com uma seqüência boa de resultados e ganhou da gente dentro da nossa própria casa. É uma equipe difícil de ser batida e vamos ter que jogar muito para vencer?, analisou o comandante rubro-negro.

Petraglia vai recorrer

Carlos Simon

O Atlético vai recorrer da suspensão de 30 dias aplicada pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR) contra o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mário Celso Petraglia. O clube recebeu com tranqüilidade a suspensão, uma vez que a maior preocupação era a possibilidade de perda de mando de campo por causa da bala atirada contra o meia Cristian, no clássico com o Paraná, no dia 16. No intervalo do mesmo jogo, microfones de rádio captaram Petraglia xingando o árbitro Maurício Batista dos Santos. A pena, porém, tem poucos efeitos práticos. O cartola não poderá assinar documentos em nome do clube nem ficar no espaço reservado a dirigente em jogos do Estadual.

Rivalidade à flor da pele

Eles concentram 70% dos títulos estaduais das duas últimas décadas. Protagonizam clássico com retrospecto bastante equilibrado. E cada vez se suportam menos. Paraná e Atlético fazem esta noite mais uma partida decisiva, o que vem se tornando constante neste século.

Desde a fundação do Tricolor, em dezembro de 1989, houve 18 edições do Estadual – sete delas vencidas pelos paranistas e seis pelos atleticanos. O Coritiba, outro grande da capital, teve apenas três conquistas neste período. A estatística dos duelos pelo Campeonato Paranaense reforça a equiparidade: 15 vitórias do Atlético e 14 do Paraná.

No cômputo geral dos clássicos, o Atlético tem vantagem maior: 27 triunfos contra 21 do vizinho. Mas, se excluídas as quatro vitórias rubro-negras em jogos de pequena importância (duas pela Copa Sesquicentenário, em 2003, uma pela Copa 100 Anos, em 2006, e outra num amistoso em 2000), a superioridade ?real? cai para apenas duas vitórias.

Se nos primeiros 10 anos de confrontos houve poucos jogos decisivos, o panorama mudou a partir de 2001. Naquele ano, o Furacão conquistou o Estadual com três empates na final contra o Tricolor. Em 2002, nova decisão, com duas goleadas: 6 x 1 para o Atlético e 4 x 1 para o Paraná, e o Rubro-Negro era tricampeão paranaense. Em 2006 fizeram o primeiro clássico paranaense em competição internacional, e o Furacão novamente despachou o adversário, pela Copa Sul-Americana. No ano passado, pela semifinal do Estadual, uma inédita vitória na Arena colocou o Paraná na decisão.

Além dos mata-matas, uma série de duelos memoráveis marcou os últimos anos do clássico. E nem sempre o mais badalado venceu. Os paranistas enlouqueceram quando o desacreditado time de 2003 enfiou 3 x 0 no rival, com direito a pênalti perdido por Marquinhos, pelo Brasileirão. Os rubro-negros se orgulham da aula de futebol nos 4 x 0, com direito a gol de placa de Denis Marques, no mesmo Brasileiro em que o Paraná chegou à Libertadores, em 2006.

Paralelamente, várias provocações, divergências políticas e polêmicas extracampo que tiveram como último capítulo a bala na cabeça de Cristian, há duas rodadas só reforçaram a crescente rivalidade entre os clubes dos extremos da Rua Engenheiros Rebouças.

Voltar ao topo