Leão fecha a boca dos jogadores

Polêmica, bate-boca via imprensa e confusão são itens vetados na cartilha do “professor” Émerson Leão. Em semana de decisão, o treinador deu uma aula de bons modos a seus alunos na manhã de ontem. E um dos que mais tiveram de prestar a atenção foi Diego, que andou se desentendendo com o corintiano Renato.

O técnico santista, em vantagem contra o Corinthians, proibiu seus atletas de falar do adversário, principalmente quando se tratar de tema polêmico. Não quer dar margem a discussões. E reduziu bastante o contato com os jornalistas. Pela manhã, por exemplo, ninguém pôde atender à imprensa. O rigoroso comandante tomou a decisão depois de ter lido algumas reportagens em jornais e visto outras em canais de televisão. Ficou especialmente irritado com a exploração, pela mídia, do caso Diego-Renato – o meia do Corinthians acusou o santista de ser racista.

E, a partir de agora, quem desobedecer suas ordens pode ficar de castigo. “Pela manhã eles ainda não estão muito espertos, podem responder errado e dar margem a interpretações equivocadas”, declarou Leão, justificando a lei do silêncio que impôs após o treino da manhã. À tarde, liberou-os para abrir a boca. Todos, porém, estavam bem instruídos e procuraram se esquivar de qualquer tema que pudesse provocar interpretação duvidosa.

A comissão técnica vai ficar atenta, também, à alimentação dos atletas. Como vão treinar menos, também terão de comer menos. E qualquer brincadeira perigosa está vetada. Embora os jogadores tenham liberdade para se divertir nas horas de folga, foi pedido a todos que tenham precaução durante os dias em que ficarão na Estância Santa Filomena, em Jarinu. O grupo só deixará o local no início da tarde de sábado.

Nada abala o astral dos meninos

Os garotos do Santos preparam-se para o jogo mais importante de suas carreiras como se fosse mais um, mais uma traquinagem que esperam aprontar para cima do Corinthians. Há um ambiente de total camaradagem e muitas brincadeiras, como se fosse um desafio qualquer o que vem por aí. Todos disfarçam, mas está claro que ninguém acredita na possibilidade de o título escapar. Na finalíssima do Brasileiro, domingo, o time pode até perder por um gol de diferença.

Leão tem uma explicação para a maturidade mostrada pelos jogadores. “Alguém mais velho, que já passou por muita coisa na carreira, pode ter medo dessas coisas. O time do Santos, não. Eles estão conhecendo coisas novas a cada jogo, estão aprendendo e não vão temer. Jogam com muita vontade, com uma alegria que muitos já esqueceram.”

Michel ou Maurinho? A dúvida maior para a partida é tratada com tranqüilidade, não há expectativa entre os jogadores sobre a presença de um ou de outro. “Se eu entrar, quero repetir a grande partida que o Michel fez contra o Corinthians”, diz Maurinho.

Se não jogar, se perder a chance de sair na foto da última partida, vai encarar com naturalidade. É Leão quem manda. E todos obedecem.

Querendo ser menino também – Maurinho bem que poderia estar vivendo com muita ansiedade os dias que faltam para o jogo. Com 24 anos, curte o grande momento de sua carreira. Quando chegou à Vila Belmiro, no segundo semestre, era um ilustre desconhecido lateral do Etti de Jundiaí e agora decide um título brasileiro. Ele pede para ser chamado também de Menino da Vila. “Sou um pouco mais velho do que os outros que estão aqui, mas também nunca venci um título desse nível, como a grande maioria daqui. Quero vibrar como eles.”

Maurinho foi descoberto por outro ‘menino da Vila’, este da turma de 1978, quando o Santos venceu o Paulista com um time de garotos. Juari era o centroavante que depois se transformou em técnico. Em 1996, dirigia o Fernandópolis e lançou Maurinho na meia direita.

“Aprendi muito com ele. Depois, fui para a lateral e fiquei me revezando nestas duas posições”, diz Maurinho, que conta que uma de suas jogadas características – ir ao fundo e cortar para o meio, antes de chutar em gol – foi aperfeiçoada por Juari. “Como tenho essa característica de meia, ele dizia que eu nem precisava ir ao fundo do campo para fazer o cruzamento, podia cruzar dali mesmo.”

Os jogadores do Santos, Léo à frente, gostam de espalhar a predileção de Maurinho por uma cama. Dizem que ele dorme pelo menos 15 horas por dia, o que ele desmente sem muita convicção. “O Léo fica jogando videogame e eu prefiro dormir, essa é a diferença.”

Em campo, ao contrário, Maurinho tem muita velocidade, é hiperativo – uma característica que garante saber dominar. “Contra o Corinthians, por exemplo, não dá para atacar muito. Tem o Kléber e o Gil por ali e a gente precisa se cuidar. Eu sei jogar mais atrás, tenho condições de fazer isso. É só o Leão me escalar.”

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