Gionédis mantém o treinador, apesar da pressão da galera

Vaias. Gritos. Notas brandidas com raiva. Era este o cenário da noite de terça no Couto Pereira, após a derrota do Coritiba para o Goiás – resultado que diminui muito as chances de tentar uma vaga na Copa Sul-Americana, mesmo com um jogo a menos que vários clubes. O jogo com o vice-líder do Campeonato Brasileiro era decisivo para as pretensões alviverdes na competição. Mas acabou se transformando em veículo da reafirmação do planejamento da diretoria.

O presidente Giovani Gionédis garante que a irritação do torcedor é a mesma do dirigente. ?Diria até que eu estou mais chateado?, confessa. Mesmo assim, ele não aceita sequer pensar em mudar o trabalho. ?Não há porque. Penso que um treinador só pode sair do clube se ele não trabalhar. E o Cuca trabalha bastante, se dedica totalmente ao Coritiba. Por isso confiamos nele para agora e para a próxima temporada?, afirma, ressaltando o contrato do técnico, que vai até dezembro de 2006.

Com a força dada a Cuca, Gionédis mantém um de seus preceitos – dificilmente ele demite um treinador. Desde que assumiu o clube, em 2002, apenas Joel Santana (quatro meses) não ficou mais de um ano no comando. Depois vieram Paulo Bonamigo (um ano e oito meses) e Antônio Lopes (um ano e cinco meses). Ficando até o final de seu contrato, Cuca fecharia os mesmos vinte meses de Bonamigo. ?Ainda tenho muito a dar. E não vou descansar enquanto o Coritiba não chegar ao lugar que merece?, afirma o técnico.

Cuca foi o mais questionado após a derrota para o Goiás, mas não foi o único. Os jogadores, vaiados pela torcida, receberam a defesa do treinador. ?Não vou dizer agora, depois de perder para o vice-líder do Brasileiro, jogando com cinco garotos, que o elenco é fraco. Não é. Aqui tem qualidade e isso logo vai aparecer?, diz. Os garotos citados pelo técnico foram os menos cobrados pelos torcedores, que criticaram os ?veteranos? Jackson e Renaldo.

O comando do futebol também foi alvo de críticas, devido à política de contratações. Mas Giovani Gionédis é claro quando fala do gerente Oscar Yamato e do coordenador técnico Sérgio Ramirez. ?São pessoas de minha confiança, que trouxemos para o clube pela capacidade que têm. Ninguém falou deles quando o Coritiba foi bicampeão paranaense?, reclama o presidente, que aponta outro fato abonador para Yamato e Ramirez. ?Não posso cobrar de um diretor que trabalha com orçamento e não pode sair dele. A direção de futebol tem um valor fixo para a temporada, que é o nosso limite?.

Para o presidente, o futebol terá que se sustentar com um orçamento apertado – isso para que não haja problemas administrativos. ?Para quem não sabe, o Coritiba está com os impostos em dia e ainda teve condições de quitar algumas dívidas. Não vamos mais fazer como no passado, quando se gastava o que não tinha e o patrimônio era esquecido. Por conta disso, tomaram o CT do Coritiba e somente agora pudemos recuperá-lo?, finaliza Gionédis.

Ilan ainda dá lucro ao Cori e ao Paraná

Mais uma vez clubes da capital recebem dinheiro pela formação de um atleta. Ontem, Paraná Clube e Coritiba foram beneficiados por uma decisão da Fifa e ganharão pelo chamado ?mecanismo de solidariedade? valores referentes à negociação de Ilan do Atlético para o Sochaux (ano passado), que foi de três milhões de euros -R$ 8.151.382,50, pela cotação de ontem.

Ilan começou a jogar futebol no Coritiba e tempos depois foi para o Paraná. Lá ele ?apareceu?. Seu primeiro grande jogo foi uma goleada no próprio Coxa por 6×2, jogo no qual marcou três gols. O atacante foi profissional tricolor por duas temporadas e em 2001 foi para o Atlético, em uma parceria entre os dois clubes.

Mais tarde, o Furacão adquiriu a totalidade dos direitos federativos do jogador, que ficou na Baixada até a metade do ano passado, quando foi negociado com o Sochaux. Na França, ele é o artilheiro e principal jogador da equipe. Só que, na transferência, não foi contado o mecanismo de solidariedade, que obriga aos clubes que adquirem os direitos desportivos de um atleta em uma transferência internacional, a distribuírem 5% do valor pago aos times que formaram o jogador dos 12 aos 23 anos.

Assim, foi contratado o escritório Carlezzo Advogados Associados, que já auxiliou o Cori num caso semelhante – a participação do clube na venda do atacante Robert do Atlas (México) para o PSV Eindhoven. Assim como na situação de Robert, a Fifa acatou o pedido. ?Ainda está havendo contestação por parte de muitos clubes estrangeiros quanto o pagamento do mecanismo de solidariedade, de forma que os processos estão se estendendo, como foi o caso do Paraná Clube e Coritiba. Felizmente, temos obtido êxito nestas ações, fazendo valer o direito dos clubes brasileiros?, afirmou o advogado Eduardo Carlezzo.

Com a vitória judicial, Coxa e Tricolor terão direito a pouco mais de R$ 400 mil. Para os coxas, é mais um incremento no cofre, que pode ser usado nas reformas do Couto Pereira. Para os paranistas, pode ser o dinheiro necessário para fechar as contas de 2005 e evitar definitivamente as possibilidades de jogar partidas longe do Pinheirão neste Campeonato Brasileiro.

?Nunca fui tão xingado em minha vida?

Alexi Stival, curitibano, de Santa Felicidade, certamente não esperava por aquilo. Ao descer para o vestiário do Alto da Glória, após a derrota do Coritiba, ele ouviu de tudo – e nada podia fazer. Os torcedores cobravam, xingavam, pediam a sua saída do comando técnico, e ele nada podia fazer. A reação irada acabou reforçando seu desejo, o de fazer sucesso no Coxa, não decepcionar em sua cidade.

?Eu tenho a obrigação de fazer um bom trabalho. Fracassar na minha casa seria terrível?, afirma Cuca, que confessou ainda no vestiário do Couto Pereira ?nunca ter sido tão xingado na carreira?. A vinda para o Coritiba deu uma segunda chance ao técnico, que teve uma rápida e bem-sucedida passagem pelo Paraná Clube em 2003. Da Vila Capanema, seguiu para Goiás, São Paulo, Grêmio e Flamengo até voltar para casa.

Agora, Cuca se vê na posição mais difícil desde que assumiu o Cori. A crise técnica da equipe é computada como mais um dos percalços de um clube que teve que se desfazer de vários titulares – durante o Brasileiro saíram Fernando, Miranda, Rafinha e Alexandre. ?Não vou ficar aqui discutindo a ação da diretoria. Quando fui contratado, sabia que as coisas seriam assim e mesmo assim acredito na qualidade dos que permaneceram?, diz.

Para piorar, ele perdeu os principais jogadores que ficaram – terça, não jogaram Reginaldo Nascimento, Ricardinho, Maia (suspensos), Luís Carlos Capixaba, Allan, Flávio, Márcio Egídio e Marquinhos (lesionados). Além da resposta negativa de alguns reforços, notadamente Rubens Júnior (que acabou afastado) e Renaldo. Mesmo assim, ele não foge da responsabilidade. ?Eu não sou de fugir da briga, eu tenho que colocar minha cara para bater?, reconhece.

E Cuca não esconde que certas soluções táticas não estão funcionando. O problema crônico no lado direito, por exemplo. ?Vocês (jornalistas) são testemunhas do que a gente trabalha. Eu fiz cinco treinos com o Souza pelo setor e ele estava voando?, lamenta.

Apesar de tudo isso, ele não desiste. E quer provar para todos que Cuca – e o Coritiba -ainda podem chegar mais longe, neste Brasileiro ou na próxima temporada. ?Eu nunca fracassei na minha vida, tanto como jogador quanto como técnico. Nunca fui demitido, só saí do Flamengo porque tive problemas com um dirigente. Tenho coragem e vou reerguer o Coxa. Juro pela minha família?, afirma o técnico alviverde.

Não dá pra contestar números

Alguns números podem explicar o porquê da instabilidade do Coritiba no Campeonato Brasileiro e a ?estabilidade? na tabela – desde a 11.ª rodada o time não sai da ?zona morta?. O Coxa não aparece com destaque em nenhuma das estatísticas da competição, ficando com um posto intermediário ou mesmo entre os piores. Após um primeiro turno apenas regular, o time caiu sensivelmente de produção.

Com nove rodadas neste segundo turno, o Cori teve apenas duas vitórias, empatando três vezes e perdendo quatro partidas – aproveitamento de 33,33%. Além disso, o time tem o pior ataque na segunda parte do Brasileiro (ao lado de Flamengo, Brasiliense e São Caetano), tendo marcado oito gols, o que não dá a média de um por jogo. Atuando no Couto Pereira, o Coritiba tem a 14.ª campanha entre os 22 participantes. Em quinze partidas, foram sete vitórias, três empates e cinco derrotas (rendimento de 53,33%).

A soma destes números faz com que a conta coxa seja ruim. Em todo o Brasileiro, o aproveitamento é de parcos 43,68% (38 pontos em 87 possíveis). O ataque coxa segue sendo um dos piores da competição – 37 gols, à frente apenas de Flamengo, Brasiliense e Figueirense, e empatado com o São Caetano. A única virtude alviverde no campeonato é a defesa, que sofreu 40 gols, e é a sexta melhor até agora.

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