Coritiba em crise: os problemas não nasceram agora

O presidente do Coritiba, Samir Namur. Foto: André Rodrigues/Arquivo

Era um final de temporada, e naqueles tempos os setoristas passavam a tarde na sede administrativa do Coritiba para esperar algum posicionamento dos dirigentes. Internet ainda era uma novidade desconhecida, o celular era caro, e o negócio era mesmo ficar na espreita de algo que poderia acontecer ali mesmo no Couto Pereira. Nisso, saiu o presidente do clube à época e abriu o jogo. “Vamos pagar quem vai continuar. Os outros podem procurar a Justiça”.

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De tanto fazer isso, com aquele e com outros presidentes, o Coritiba chegou a uma situação dramática. Semana passada, pediu à Justiça do Trabalho que lhe concedesse o Ato Trabalhista, alegando que as dívidas vencidas podem inviabilizar o clube. Com o pedido negado, o único reflexo da tentativa alviverde foi escancarar em números o que já se sabia há tempos.

O futebol se considera ‘diferente‘. Estamos vendo aí como os dirigentes se comportam diante da pandemia do novo coronavírus – querem ser tratados com mais condescendência do que outras atividades. Além disso, acha-se normal no futebol agir com homofobia, racismo, machismo, misoginia e violência. E, pra completar, os direitos trabalhistas são muitas vezes deixados para lá.

Fica pra próxima diretoria

O Coritiba, assim como outros clubes, viveu por longo tempo a rotina de ver administrações se sucedendo e deixando cada vez mais esqueletos no armário. Não é que o Coxa não tivesse que fazer contratações e reforçar seu elenco ao passar dos anos. É que, quase sempre forçado pelas circunstâncias, os dirigentes gastavam mais do que poderiam, e a solução encontrada era empurrar o problema (salários de fim de temporada, 13º, férias…) para a diretoria seguinte.

Uma hora essa bola de neve ia ficar grande demais. Foi o que aconteceu no Couto Pereira. Com o acúmulo de ações trabalhistas – havia uma de 1998, do volante Struway -, hoje o Coritiba está quase ingovernável. Colaborou para isto também uma série de decisões desastradas, que também não têm lado político. Todas as correntes políticas alviverdes estiveram no poder nos últimos 25 anos erraram, inclusive a atual. E a banca paga, mas também recebe.

E agora, Coritiba?

Há dois caminhos para o Coritiba. O primeiro é o de criar soluções para gerir o passivo trabalhista. Começando por apresentar uma nova proposta de acordo com a Justiça, mas que não pareça apenas mais uma empurrada com a barriga para a gestão seguinte. Vai ser preciso o presidente Samir Namur dar mais garantias de que o Ato será pra valer.

O segundo é de dar soluções para o time. Uma paralisação de investimentos pode ser fatal – e a própria petição da diretoria do Coritiba mostra o tamanho do prejuízo que seria um rebaixamento. O dinheiro da TV está garantido após o acordo com o Grupo Globo. E os torcedores alviverdes, que em muitos momentos fizeram muito mais do que o clube, novamente serão decisivos, comprando ingressos ou se associando. Tudo por conta da histórica atitude de “deixa procurar a Justiça“.

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