Vinhos Míticos e Místicos…

Quem segue a coluna, já observou que por vezes cito o termo mítico, e até mesmo místico em referência a alguns vinhos.  

Na minha humilde conceituação, o vinho mítico estaria em um primeiro plano, sendo considerado um mito em razão do nome, do produtor, da história por trás do rótulo e da sua relativa acessibilidade.

Já em se tratando de um vinho místico, avocando uma breve explicação, diria que seria um vinho realmente raro, que ultrapassou a linha tênue que o separa do “mito”, acrescentando a ele seu lado “místico”, ou seja, à beira do sagrado – que é a base da terminologia da palavra -, seja pela trilha insana que percorreu sozinho, deixando os demais rótulos para trás, através de um avanço algumas vezes ilógico e derradeiro, explodindo em mídias, em meio a produtores, sommeliers e comércio mundial de vinhos. Além desse caminho enigmático, soma-se a tudo isso as características de um mito, de um grande vinho, pela dificuldade em encontrá-lo e também pelo altíssimo preço exercido.

Nessa teoria, poderíamos citar alguns mitos americanos famosos, como o Insígnia, da Joseph Phelps, e o Opus One, da Mondavi e Baron Phillipe de Rothschild. Avançando para o conceito místico, teríamos algumas opções, como os singulares Quilceda Creek, Screaming Eagle ou Colgin IX, sendo todos bons alicerces para exemplificar a ideologia. Na verdade, faço um parênteses aqui para esclarecer que cada vinho faz história conforme sua região. Seria desarrazoado comparar vinhos Peruanos, por exemplo, com Franceses. A história sobre cada um, sua visibilidade mundial e seus valores afora são completamente incomparáveis. Ainda assim, caminham fazendo histórias e criando seus vinhos míticos e místicos, dentro de suas realidades, é claro.

Nessa senda, alguns leitores mais atenciosos poderiam pensar que não seria razoável citar vinhos místicos elaborados nos Estados Unidos. Fundamentado na minha explicação anterior, afirmaria que os citados aqui são reconhecidos lá como tal, e em alguns outros países também, mas não em todos. Os bem aceitos e inquestionáveis ao redor do mundo são sempre os Franceses, pela própria história mística que os toldam.

Essa caracterização dos vinhos é um tanto pessoal, pelo menos na minha visão. O que é mítico ou místico para mim, pode não ser para você. Por exemplo, aqui na América do sul, pela predileção que o brasileiro tem pelos vinhos mais robustos e amadeirados, tendo seu paladar mais preparado para este tipo de vinho, a discussão se tornaria turbulenta e infinita. Há muitas opções e muitos vinhos de pequenos produtores que se tornam místicos, como o Antiyal, do famoso enólogo chileno Alvaro Espinoza, raro, sempre muito bem pontuado por diversos sommeliers e revistas, como Robert Parker e Wine Spectator. Uma vinícola que, mesmo com GPS e mapas marcados, será deveras complicado de localizar… afirmo isso por experiência própria.

Falando em Chile, uma linguagem mais comum por aqui, eu mesmo indicaria, só para ilustrar, um vinho mais conhecido, como o Clos Apalta, da Lapostolle, na qualidade de mítico, e o Domus Aurea, da Quebrada de Macul, como místico… embora o Clos Apalta seja mais caro, tendo um publicidade maior, o Domus é mais raro e menos conhecido. Sempre esclarecendo que estamos tratando de um único terroir, ok?

Por fim, posso confessar que tive alguns bons momentos nesse mundo gratificante do vinho e acesso a alguns desses vinhos místicos de reconhecimento inquestionável. Alguns foram marcantes, pelos fatos que se sucederam, não pelos valores ou safras de notas máximas. Lá mesmo em Beaune, França, foi um Richebourg 1979, além dos demais Domaine de La Romanée-Conti. Pisei nas videiras, cautelosamente, é claro, para registrar o momento.
    
Vinhos como o Petrus, 1973, Chateau Latour 1990 (WS 100) e Chateau Margaux 1995 (RP 100), Chateau D’Yquem 1983, e outras safras, o Chateau Mouton 1973, ano em que foi elevado à condição de 1er Cru Classé e brindado com um rótulo pintado por Picasso (que faleceu no mesmo ano, marcando essa ilustração como a última criada pelo artista) fora os demais 1er Crus Classés, os quais tivemos a satisfação de testá-los em suas vinícolas, em sua sublime safra 2005, junto aos enólogo e diretamente da barrica.  
    
Para você que vive e aprecia um bom vinho, sugiro reservar um momento agradável em sua vida para abrir um vinho desses na companhia mais agradável possível, e apreciar um bom vinho, seja ele mítico ou místico.

Até semana que vem!

Cheers!

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