Esse negócio de serial killer é uma coisa muito complicada

Ubirajara Martelo quis ser serial killer quando a galera do bairro deu cacete no Júnior e o piá ficou chateado. Menino bom de doze anos e os marmanjos de 20 anos pra cima. Como havia alguns com pais importantes e outros barras-pesadas, Martelo achou que a coisa só ia funcionar na base do serial killer. Um por um, sem deixar pistas. Foi o que planejou com ódio no olhar. A coisa começou a desandar na primeira tentativa com Sholeide, marmanjo de metro e oitenta e com mais tatuagem no corpo que mapa de pirata.

Martelo sabia que o cara passava às 7 horas na ciclovia e ficou de tocaia. Botou peruca ruiva para não ser reconhecido e empunhou berro que parecia um canhão. Ninguém sabia se ele era assassino ou drag queen da terceira idade. Na hora de despachar Sholeide, Martelo escorregou e caiu e costas no rio. Na água fria e fedida. Sholeide com cara de chapado nem viu e foi para o fim da fila. Então Martelo tentou pegar Zé Borracha, que além de não ser importante, andava de moto.

Ele pensou no golpe do atropelamento. Na hora de atropelar, o sujeito desviou e Martelo acertou a traseira do carro da mulher do juiz. Além do prejuízo, levou esculacho. Na vez de Tavorense, ele pagou grana para o sujeito do bar colocar arsênico na cerveja do cara, que distraiu na conversa, a cerveja ficou quente e ele jogou fora com veneno e tudo. Depois desta tentativa, Martelo começou a achar que um anjo da guarda estava sacaneando ele.

O raciocínio era o seguinte: matar, além de crime é pecado. E o anjo da guarda não queria que ele pagasse pena alta no inferno. Era só um raciocínio, mas alguma coisa acontecia. Ele deixou Tavorense de lado e tentou pegar Lagartixa. Que era torcedor do Paraná. Martelo ficou sabendo que no jogo contra o Santa Cruz em Recife, um sujeito jogou um vaso sanitário num torcedor e o cara morreu. Crime perfeito. Ele nunca pensou neste tipo de arma, mas o que interessava era o resultado.

O golpe do vaso sanitário não deu certo, porque quando ele tentou arrancar o vaso do banheiro da Vila Capanema, acabou preso, embora ninguém entendesse o que ele queria com aquele vaso sujo, feio e fedorento. Pensaram que era maluco e esqueceram o caso. Martelo desistiu de ser serial killer. Achou que era tão incompetente que não merecia viver. E tentou se matar tomando dois vidros da prateleira do banheiro. Pensou que fosse Estricnina. Era laxante. Passou a noite gemendo e chorando. E concluiu que morrer é mais complicado que viver. E esse negócio de serial killer, era mais complicado ainda.