Glaucoma é uma doença traiçoeira

O nervo ótico é como um aglomerado de fibras óticas, como aquelas usadas nas linhas telefônicas ou de TV a cabo. Quando envelhecemos, algumas dessas fibras morrem.

Nas pessoas com glaucoma (um aumento da pressão intra-ocular e danos no nervo ótico) eles morrem com mais velocidade do que o normal. À medida que perde essas fibras, a pessoa começa a prejudicar partes do campo visual. Se o glaucoma não for tratado, todas as fibras morrem, levando à cegueira total.

O glaucoma é a maior causa de cegueira irreversível no mundo. Dados da Sociedade Brasileira de Glaucoma revelam que 2% da população apresenta a doença sem saber, o que já é considerado uma estimativa de risco na área oftalmológica. Embora não tenha cura, o distúrbio pode ser controlado se diagnosticado em etapa inicial.

O glaucoma pode ser causado por diferentes doenças e, na maioria dos casos, ocasiona um aumento da pressão intra-ocular. Para entender melhor como o aumento da pressão afeta o olho é importante observar seu olho como um balão. Quando o ar é soprado em excesso para dentro de um balão, a pressão aumenta e atua sobre as partes mais frágeis do olho.

Evolução lenta

A característica principal da doença é a evolução lenta e constante. “O que cada vez mais se recomenda é o controle, a observação do nervo óptico, do campo visual e a avaliação de história familiar”, alerta o oftalmologista Marco Canto. Por essas razões é essencial fazer exames oculares regularmente.

Geralmente a perda de visão é periférica e podem levar anos até que se instale a perda da visão central, que causa a cegueira. “Casos de dor ocular, lacrimejamento, vermelhidão dos olhos, visão embaçada e com halos coloridos podem ser sintomas da doença, mas existe a possibilidade de ser portador e ter perda de visão acentuada sem apresentar nenhum sintoma”, alerta a oftalmologista Letícia Trevisan Tecchio.

Quando não há dor, o paciente muitas vezes nem percebe que está perdendo a visão gradativamente ou nos estágios finais da doença. Com isso, a visão encontra-se prejudicada e o dano, em geral, torna-se irreversível.

Marco Canto explica que o olho normalmente produz um líquido claro que é drenado através de pequenas aberturas microscópicas ao redor da íris (parte colorida do olho).

Por várias razões, essas aberturas podem fechar e então a pressão aumenta dentro do olho, danificando o nervo óptico (o que transmite impulsos nervosos do olho para o cérebro). “Quando conseguirmos medir essa perda de visão, essa condição é chamada glaucoma”, explica.

Exames preventivos

A perda de visão no glaucoma crônico simples, o mais comumente encontrado, é progressiva, difícil de perceber, pois inicialmente ocorre um dano periférico da visão – que compromete as tarefas rotineiras, como andar, comer e vestir-se.

Qualquer perda da visão pelo glaucoma é permanente, por isso exames preventivos são fundamentais.

Hoje, os oftalmologistas diagnosticam o glaucoma de várias maneiras. “Medimos a pressão do olho e também examinamos o nervo óptico, além de realizarmos um exame de campo visual para medir a visão periférica do paciente”, detalha o especialista.

O glaucoma diagnosticado precocemente pode ser controlado com o uso contínuo de medicamentos ou por meio de tratamento cirúrgico a laser ou cirurgia convencional. Entretanto, salienta Canto, mesmo após procedimentos cirúrgicos deve-se manter o uso de medicamentos. “Os exames deverão continuar sendo periódicos para que o oftalmologista tenha certeza de que a doença ,está sob controle, a perda da visão poderá ocorrer mesmo com pressão ocular baixa, sendo necessário adequar o tratamento”, completa.

Segundo Letícia Tecchio, ter um diagnóstico precoce e seguir a risca a orientação no uso dos medicamentos é fundamental para o controle da doença. É preciso se consultar regularmente com o oftalmologista, especialmente a partir dos 40 anos, para realização de exames preventivos. “O médico possui ferramentas diagnósticas capaz de determinar se o paciente está ou tem risco para desenvolver a doença”, completa a oftalmologista.

Opções de tratamento

O tratamento varia de acordo com a manifestação do glaucoma. Em geral, o tratamento inicial é clínico e o objetivo é promover a estabilização, retardar ou evitar o surgimento das alterações glaucomatosas por meio da redução da pressão intra-ocular. O conceito de individualização da pressão-alvo é bem difundido.

A determinação depende de uma análise clínica detalhada para promover o estadiamento da doença, idade do paciente e outros fatores de risco. Um bom tratamento repercute inclusive no estilo de vida da pessoa e se relaciona à atividade profissional de muitos pacientes glaucomatosos.

O glaucoma pode ser tratado com colírios, medicamentos por via oral, cirurgia a laser, cirurgias tradicionais convencionais e, uma combinação de alguns desses métodos. A meta é impedir a perda visual e manter a pressão intra-ocular em níveis satisfatórios e devidamente controlados.

Qualquer medida deve ser prescrita e acompanhada por oftalmologistas e seguir rigorosamente as recomendações médicas. Já a cirurgia a laser tornou-se o método intermediário entre as drogas e a cirurgia tradicional.