A dor interfere na rotina das pessoas

Todo mundo já sentiu (ou continua sentindo) dor em alguma parte do corpo, em algum dia de sua vida.

Dor de cabeça, nas costas, nas articulações, provocada por lesões. Dor aguda, crônica, leve, moderada ou intensa. Essa dolorosa constatação causa grande impacto na rotina das pessoas.

A dor é um dos sintomas mais frequentes relatados na procura aos serviços de saúde, representando a principal causa de falta ao trabalho ou à escola, licença médica, aposentadoria precoce, indenizações trabalhistas e comprometimento da produtividade.

Conforme os especialistas, a dor é a percepção de uma experiência sensorial nociva, com implicações emocionais desagradáveis. Em outras palavras, é uma sensação ruim, que atinge o físico e o psicológico.

Apesar disso, é importante para manutenção da vida, já que faz soar o alarme de que algo não vai bem: tanto pode ser um fator de proteção para evitar perigos – a dor ao se colocar a mão no fogo, por exemplo, avisa sobre uma provável queimadura -, como servir de mecanismo de alerta para que se investiguem prováveis doenças. Também pode manifestar-se na forma aguda (súbita, de duração limitada) ou crônica (que persiste ou recorre por tempo prolongado).

A importância da dor é tão grande, a ponto de ser considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o quinto sinal vital, ao lado de temperatura, pulso, respiração e pressão arterial.

Pela fisiopatologia, estudo do mecanismo fisiológico que leva ao aparecimento de doenças, permitindo a elaboração de estratégias de prevenção e tratamento das mesmas -, a dor pode ainda ser classificada em nociceptiva, inflamatória, neuropática ou funcional.

Dor de cabeça

A pesquisa Dor no Brasil, realizada pela Pfizer e conduzida pelo Ibope, com 1,4 mil participantes de nove regiões metropolitanas do País (Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), revelou que 51% das pessoas sofreram alguma ocorrência do gênero na semana anterior à entrevista.

Entre elas, as mulheres são maioria (58%). Com relação à idade, os adultos com mais de 50 anos revelaram-se os principais atingidos, representando 58% desse grupo.

Questionadas sobre quais as dores que sentiram na vida, as pessoas que participaram do levantamento apontaram como campeãs as de cabeça (81%) e nas costas (40%).

As cefaléias e as lombalgias também aparecem no topo do ranking das mais comuns. 92% dos brasileiros já tiveram cefaléias e 64% deles sofreram com dores nas costas.

Entre os que relataram ter passado por quadros dolorosos, a dor na coluna foi considerada a mais incômoda (53%) e a mais grave (56%).

Esse “tipo” de dor ainda acumulou outros títulos: a mais prejudicial à atividade profissional (42%) e a segunda que mais tira o sono (43%), perdendo apenas para a cólica renal com (44%).

Convivência

Entre as mulheres, as cefaleias são as comuns. No entanto, para o neurologista Deusvenir de Souza Carvalho, “um dos males mais difíceis de definir”. O médico explica que suas possíveis causas são tantas e tão variadas que, muitas vezes, fica difícil determinar com exatidão qual o mecanismo que está levando um paciente a senti-la.

“A dor de cabeça é assunto sério e assim deve ser tratada, notadamente aquelas que são mais frequentes e intensas, que afetam o dia a dia da das pessoas”, observa.

O médico explica, porém, que é importante diferenciar a dor esporádica – que pode ser aliviada com um analgésico – de uma dor constante, como a enxaqueca, por exemplo, que precisa de uma avaliação e tratamento mais minucioso.

“Para cada uma, é preciso dedicar um tratamento diferente”, observa Carvalho. O especialista faz um parêntesis para diferenciar a dor do tipo tensional – o tipo mais comum – da enxaqueca, que pede e,special atenção da mulher que sofre com seus sintomas.

Na pesquisa Dor do Brasil, foi revelado que 69% das pessoas só procuram os médicos quando apresentam dores de nível moderado a intenso. Os especialistas afirmam que é utópico pensar em um mundo sem dor.

“Mas isso não quer dizer que tenhamos que conviver – e pior, sofrer – com ela”, esclarece o especialista. Assim, da mesma forma com que o homem sempre padeceu desse incômodo, também sempre tentou dominá-lo.

Maneiras diferentes de sentir dor

Nociceptiva – É vital para a sobrevivência do organismo. Corresponde ao reconhecimento de um estímulo nocivo identificado por um sistema sensorial.

Como forma de prevenir danos aos tecidos, aprendemos a associar certos estímulos com sua periculosidade, levando-nos a nos afastar, assim que possível. Exemplos: traumatismos e ferimentos.

Inflamatória – Quando acontece dano tecidual. Organismo reage com o objetivo de reparar ou cicatrizar a região lesada.

A tolerância à dor é reduzida, aumentando-se a sensibilidade dos tecidos afetados a estímulos que normalmente não causariam incômodo. Exemplos: dor pós-operatória e doença reumatóide.

Neuropática – É a dor iniciada ou causada por uma lesão primária ou disfunção no sistema nervoso, tendo como característica principal a dor em forma de queimação, pontadas ou formigamento. Exemplos: neuropatia diabética e esclerose múltipla.

Funcional – Trata-se de um problema sensorial. A dor está associada a alguma falha no processo de identificação, comunicação e reação dos sinais recebidos pelo sistema nervoso central. Exemplos: fibromialgia, dor miofascial e cefaléia tensional.

Doloroso caminho

A dor necessita de órgãos especiais para a detecção do estímulo e a informação ao Sistema Nervoso Central. Conheça como funciona esse processo:

O córtex cerebral desempenha papel primordial na percepção e interpretação da dor, ao passo que o sistema límbico, pensa-se, está implicado no processamento emocional da dor.

Assim que ocorre uma ameaça – um traumatismo, uma lesão, uma inflamação, uma infecção -, os estímulos dolorosos são detectados pelos receptores da dor (distribuídos pelo corpo inteiro) nos nervos periféricos.

Os impulsos viajam pelas fibras nervosas (que se assemelham a uma fiação elétrica) e são transmitidos aos nervos espinhais. Na medula espinhal, eles são intensificados ou inibidos.

O estímulo é, então, transmitido aos neurônios (células nervosas) e levado até diferentes regiões do cérebro. No tálamo, os impulsos elétricos são filtrados e é definida a intensidade da dor.

Esse mecanismo tem ainda sua atividade regulada por um conjunto de substâncias produzidas no sistema nervoso, que constitui o chamado sistema modulador de dor.

Algumas dessas substâncias, como a serotonina e as endorfinas, agem sobre o sistema de transmissão da dor, aumentando ou diminuindo a sensação dolorosa. A intensidade percebida da dor produzida por uma lesão pode diferir sensivelmente de uma pessoa a outra.

Inclusive em um mesmo indivíduo, a experiência dolorosa pode variar em circunstâncias diferentes. Isso porque o cérebro interpreta os impulsos da dor em um contexto de múltiplos fatores psicológicos, comportamentais e emocionais.

Para se ter uma ideia da velocidade de transmissão do impulso elétrico, é só pensar no tempo decorrido entre encostarmos a mão no fogo e nos afastarmos dele.

Missão para um detetive

É preciso investigar e identificar o agente causador, a origem, a intensidade e a influência de fatores psicológicos e sociais sobre a dor, visando encontrar o método mais adequado de tratamento. O médico precisa descobrir:

* A causa – algum fato que tenha provocado o surgimento do problema
* Sua duração – há quanto tempo ,o incômodo é sentindo
* A intensidade – se é forte, fraca, moderada
* A extensão – localizada ou generalizada
* Como se apresenta – uma queimação, uma facada, um latejamento
* Seus agravantes e atenuantes – o que piora e o que melhora o quadro, os horários de maior e menor intensidade
* Quais doenças o paciente tem ou teve
* Que medicamentos toma
* Outros sintomas que acompanham o estado doloroso

Voltar ao topo