Reféns do medo em Pinhais

O aviso de que haveria toque de recolher no município de Pinhais, e que na noite de segunda-feira iria ocorrer confronto entre gangues rivais, alastrou-se como fogo em pólvora e deixou moradores em pânico. Pais desesperados proibiram seus filhos de ir ao colégio; o comércio baixou as portas às 18h; alguns diretores de escolas suspenderam as aulas e o policiamento foi reforçado. Entretanto, a noite foi calma e todos perceberam que o terror disseminado foi fruto de um boato.

Desde a semana passada a informação era de que gangues do Jardim Holandês, em Piraquara, e da Vila Maria Antonieta, em Pinhais, iriam ?duelar?. Por isso, um toque de recolher teria sido ordenado pelos marginais, sob a conseqüência de que quem passasse pelas ruas do município, na noite de segunda-feira, seria assassinado. O aviso teria sido deixado nas caixas de correios de algumas casas. Para aumentar o pânico, estaria circulando pelo município uma lista com o nome de mais de 20 pessoas juradas de morte. Entre os prometidos estariam alunos de colégios da Vila Maria Antonieta.

A conseqüência da onda de fofocas foi prejuízo aos moradores. Segundo Cinéia Freitas de Assis, vice-diretora da Escola Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato, no Jardim Tarumã, ontem, as crianças perderam aula e pais ficaram muito nervosos. ?Chegaram a dizer que as gangues iriam invadir a escola com metralhadora. Pais vieram buscar os filhos chorando. É um absurdo. Quem propaga esses boatos deve pagar pelas conseqüências?, disse.

Vivian Cecatto, diretora da escola Leocádia Braga Ramos, na Vila Maria Antonieta, disse que os 350 alunos do período noturno faltaram na segunda-feira, e que as aulas terão que ser repostas. ?Recebi telefonemas o dia inteiro de pais desesperados. À noite, as ruas estavam vazias e nada aconteceu. É um boato sem fundamento, pois nenhuma lista ou bilhete até agora foi encontrada. Hoje (ontem) todo mundo está mais tranqüilo?, comentou.

Policiamento reforçado

De acordo com o coronel Carlos Alexandre Sheremeta, comandante do 17.º Batalhão de Polícia Militar, desde a semana passada, quando o boato surgiu, o policiamento foi reforçado no município. ?Colocamos mais policiais na região, porque é nosso dever averiguar todas as situações. Entretanto, esse boato só ganhou contornos de verdade pelo despreparo de alguns diretores que dispensaram os alunos e comerciantes que, com medo, abaixaram as portas. Não houve um telefonema ameaçador ou alguma ação entre marginais que indicasse que o boato era verdadeiro?, disse ele.

Apesar de nenhum bilhete ou lista com nomes de pessoas juradas de morte terem sido encontrados, o coronel afirmou que, com apoio do delegado do município, Gutemberg Ribeiro, a polícia investiga o caso. ?Até agora ninguém viu essa lista, mas, se ela realmente existir, vamos descobrir quem está por trás disso e porque propagou esse pânico?, disse ele.

Círculo

O coronel afirmou ainda que há tráfico de drogas no município e que existe rixa de gangues, mas afirma que essa disputa por pontos de drogas é algo que acontece no ?círculo dos traficante? e que é exagero dizer que essa briga migrará para a porta das escolas e para as ruas da cidade.

Segundo o delegado Gutemberg, nos últimos dias houve um triplo homicídio e outro assassinato. Os dois casos já estão praticamente solucionados e um dos autores já está preso. ?São casos distintos. Certamente há envolvimento com o tráfico de drogas, mas não foi fruto da briga de gangues. Reforçamos o combate ao tráfico de drogas e, nos próximos dias, serão desencadeadas operações especiais?, finalizou o delegado.

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