Jovem seqüestrada em Curitiba é resgatada em favela paulistana

O mais longo seqüestro já investigado pela polícia do Paraná teve fim, na madrugada de sábado, quando policiais de elite que formam o Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial -o conhecido Grupo Tigre, da Polícia Civil – "estouraram" o cativeiro em uma favela da zona leste de São Paulo (SP) e resgataram a refém, uma jovem de 27 anos, filha de um empresário do ramo de produtos alimentícios, que permaneceu em poder dos criminosos durante 50 dias. O resgate não foi pago e três integrantes do bando foram capturados. Com o desfecho feliz do caso, a Polícia Civil manteve a tradição de que este tipo de delito não dá certo para os bandidos no Paraná.

Foram capturados Eduardo Maciel de Souza, 23 anos; Luciano Mendes de Miranda, 29; e André Pereira Gomes, 25. Eles estão recolhidos no Centro de Triagem de Curitiba. A polícia continua atrás de outros envolvidos no seqüestro que aconteceu em novembro, em Curitiba.

Plano

Após três meses de planejamento, descobrindo a rotina de toda a família da vítima, os marginais – que são de São Paulo – resolveram agir. Por volta das 10h do dia 18 de novembro, três homens abordaram a jovem quando ela entrava em seu veículo. Foi levada no próprio carro até um local desconhecido onde houve a primeira troca de carro. Durante o trajeto até a capital paulista ocorreram outras trocas de automóveis.

Horas depois do seqüestro, integrantes da quadrilha entraram em contato com a família que, atendendo às exigências dos bandidos e por decisão própria, não comunicou o caso à polícia. Mesmo diante da negativa da família em cooperar, o Grupo Tigre descobriu o que havia acontecido e passou a investigar o caso.

A falta de colaboração da família atrapalhou o trabalho policial, mas é uma situação "perfeitamente compreensível", conforme analisou o secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari.

Cativeiro

a quadrilha estava bem organizada e com uma grande estrutura, o que também dificultava as investigações, tornando o caso bastante complexo. O primeiro cativeiro pelo qual a moça passou foi em Osasco, cidade da região metropolitana de São Paulo. Lá ela permaneceu quatro dias. Depois ocorreram mais três mudanças de esconderijo, até a vítima ser levada para uma casa na favela das Malvinas, zona leste de São Paulo, considerada a mais perigosa da cidade. "Essas mudanças ocorriam para dificultar o trabalho de investigação", afirmou o delegado do Grupo Tigre, Riad Farhat. Durante os 50 dias do seqüestro todos os 23 integrantes do Grupo Tigre participaram de alguma etapa das diligências. Somente depois de 20 dias é que foi descoberto que o cativeiro era em São Paulo. "Uma equipe ficou permanentemente em São Paulo em busca de informações", revelou o secretário.

Há 15 dias, policiais do grupo tático paranaense descobriram que um dos mentores do seqüestro estava no centro de São Paulo. Eduardo Maciel de Souza foi localizado e preso. A partir dessa prisão e do que foi informado pelo detido, as investigações foram intensificadas. Por volta das 4h de sábado, cinco homens do Grupo Tigre – com o apoio de 13 policiais militares do Grupo Tático Paulista (Gate) "estouraram" o cativeiro. A jovem foi libertada e seu estado de saúde foi considerado bom, sem sinais de maus tratos. Dois integrantes da quadrilha que cuidavam da refém foram presos. Luciano Mendes de Miranda e André Pereira Gomes não esboçaram qualquer reação. No local não foram apreendidas armas. "É uma norma dessa quadrilha que os vigilantes do cativeiro não possuam armas, exatamente para não ter confronto", explicou Riad.

Bronca

O delegado ressaltou a importância da ajuda da Divisão Anti-Seqüestro (DAS) da Polícia Civil de São Paulo e do Grupo Tático da Polícia Militar daquele estado para a elucidação do caso. No entanto, o secretário Delazari fez questão de ressaltar um fato que quase atrapalhou todo o trabalho do Grupo Tigre. No momento de entrar na favela para o resgate da vítima havia a necessidade do apoio de um grupo tático da polícia paulistana, para fazer a retaguarda, já que os policiais até então mobilizados eram em número insuficiente. O Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil de São Paulo foi acionado, mas negou ajuda. Foi então feito contato com o comandante da Polícia Militar (SP) que contribuiu de imediato para o sucesso da operação, através do envio de equipes do Gate. "Esse fato lamentável será comunicado ao secretário da Segurança Pública de São Paulo e também ao governador daquele estado", assegurou Delazari.

Em 2005 ocorreram no Paraná sete seqüestros e todos os casos foram elucidados com a prisão dos seqüestradores e liberação das vítimas. Inclusive casos que ultrapassaram os limites do estado do Paraná, como o dessa jovem e do solucionado em 31 de dezembro, onde foi libertado um empresário de 35 anos, do ramo de transportes de Joinville, mas que era mantido como refém em Curitiba.

Quadrilha organizada e bem preparada

A quadrilha responsável pelo seqüestro de uma jovem em Curitiba é profissional e bem estruturada, segundo avaliação do delegado do Grupo Tigre, Riad Farhat, que comandou todas as investigações. Conforme informações da polícia de São Paulo, o grupo é responsável por mais de 50 seqüestros naquele estado. A quadrilha é dividida em facções e cada uma é responsável por uma etapa da ação criminosa. Há uma facção que levanta informações sobre a vítima, outra realiza o seqüestro, outra ainda faz a negociação e mais uma cuida do cativeiro. "Ela é bem organizada e tem como único objetivo arrecadar dinheiro. Diante disso, o grupo faz investimentos e monta uma grande estrutura para cometer crimes e manter um suporte", revelou o delegado. No sequëstro ocorrido em Curitiba, por exemplo, três homens do bando se hospedaram em diversos hotéis durante três meses somente para fazer o levantamento do dia-a-dia da vítima e seus familiares.

A polícia continua atrás de outros indivíduos envolvidos na ação. A fotografia de três suspeitos foi divulgada ontem pelo Grupo Tigre. Eles foram identificados apenas pelos primeiros nomes: Alexandre, Márcio e Regiane, mas de acordo com o delegado, provavelmente são nomes falsos.

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