Índice revela aumento da violência contra mulher

De acordo com dados divulgados pela Delegacia da Mulher de Curitiba, as denúncias de lesão corporal na cidade aumentaram 32,6% em relação ao ano passado. Esses números revelam uma realidade que já se tinha conhecimento, mas não era discutida na sociedade brasileira. Em todo o País, diariamente, mulheres sofrem com a violência.

Segundo a delegada responsável pela Delegacia da Mulher de Curitiba, Darli Rafael, esse número ainda não condiz com a realidade. “Muitas mulheres estão tendo coragem e denunciam os maus tratos e a violência. Mas, mesmo com esse aumento, o número de mulheres com medo de denunciar ainda é muito grande em Curitiba. Ao mesmo tempo que as denúncias aumentaram, os casos de agressão também cresceram. Então, as mulheres têm que se conscientizar da importância de ir até a delegacia”, afirma. Além das lesões corporais, outras denúncias registradas pela delegacia são relacionadas a ameaça, estupro, assédio sexual e atentado violento ao pudor.

Outros dados que confirmam a gravidade do problema foram divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A cada 15 segundos, uma mulher é vítima de violência no mundo. E em 80% dos casos o agressor é conhecido da vítima.

Para alertar a população sobre o assunto, o Comitê Nacional Multipartidário de Mulheres no Paraná realizou na manhã de ontem um ato público pela eliminação da violência contra a mulher, na Boca Maldita, em Curitiba. “O tema tem que continuar sendo divulgado e fazer parte da sociedade. Um basta na situação não pode ser apenas um passo dado pelo governo, mas políticas públicas que ajudem a acabar com a violência”, diz Maria Gorete Vidal, uma das organizadoras do Comitê Multipartidário de Mulheres do Paraná. Ações

Segundo a subsecretária especial da Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres, Marlize Maria Fernandes, o governo federal está tomando as medidas cabíveis para combater a violência contra as mulheres. “O governo está criando um acordo com a Secretaria Nacional da Segurança Pública para triplicar o número de delegacias da mulher no País, que no momento é de 339. “O presidente (Luíz Inácio Lula da Silva) deve sancionar nesta semana uma lei que obriga o registro pelas secretarias estaduais e municipais da Saúde da denúncia de violência contra a mulher”, completou Marlize.

Para mudar essa realidade no Paraná, as instituições de mulheres dos partidos políticos e as entidades do movimento organizado de mulheres reivindicam às autoridades políticas públicas mais efetivas e abrangentes. As representantes do comitê entregaram uma carta para a subsecretária, para ser encaminhada para a secretária especial de Políticas Públicas para as Mulheres, Emília Fernandes. Entre os pedidos estão a criação da Secretaria Estadual de Políticas Públicas para as Mulheres; reestruturação de políticas públicas para as mulheres; implementação dos instrumentos de combate às redes nacional e internacional de turismo sexual e de exploração sexual de mulheres, crianças e adolescentes; e implantação do Plano Estratégico de Estruturação da Rede de Atendimento à Mulher Vítima de Violência.

Em Foz do Iguaçu, já são realizadas duas ações da Delegacia da Mulher em conjunto com a Secretaria da Saúde e o hospital da Itaipu. “Como é uma região de fronteira, acontece muita violência contra as mulheres. Para começar a resolver os problemas, a Prefeitura e a delegacia criaram o abrigo da mulher, para aquelas que realizam as denúncias e não podem voltar para casa. Outro caso é o hospital da binacional, que fornece atendimento às vítimas de violência e as encaminha para a delegacia”, diz a diretora-financeira da Itaipu, Gleisi Hoffmann.

Exemplo

Antônia Passos é uma das coordenadoras do comitê e já foi vítima de violência. “Fui casada por dez anos com meu ex-marido. Morava em Apucarana e sofri demais. Ele sofria de alcoolismo. Fiz várias denúncias na delegacia de lá, mas não deu em nada. Tive que vir morar em Curitiba, para conseguir me livrar dele e poder ter uma vida normal”, desabafa. Agora, Antônia faz campanha contra a violência e incentiva as denúncias. “Algo tem que ser feito. Não é possível passar uma vida inteira sofrendo e sendo vítima de violência. Alguma atitude têm que ser tomada. As mulheres tem que tomar coragem para denunciar”, diz.

As várias formas de violência

Violência física

– Agride com socos, tapas, pontapés ou objetos que machucam o corpo ou prejudicam a saúde

– Ameaça ou tenta matar com armas (faca, revólver, tesoura, etc)

– Deixa a vítima sem assistência quando está grávida ou doente

– Impede a vítima de trabalhar e ao mesmo tempo não garante seu sustento e de seus filhos

Violência emocional

– Xinga ou ofende a vítima e sua família

– Acusa a vítima de ter amantes, sem nenhuma razão

– Não respeita seu trabalho e crítica a vítima como mãe e mulher

– Ameaça com palavras, gestos, deixando a vítima com medo

– Fala mal de seu corpo, critica o desempenho sexual ou conta as relações sexuais dele com outras mulheres só para ofender

– Destrói ou esconde os documentos pessoais da vítima, quebra móveis, revira a casa, rouba ou joga suas roupas ou objetos na rua, mata seus animais de estimação.

Violência sexual

– Obriga a vítima a ter relações sexuais quando a vítima não quer ou quando está doente, colocando sua saúde em risco

– Força a vítima a praticar atos sexuais dos quais não gosta

– Obriga a vítima a ter relações sexuais com outra pessoa ou ver outras pessoas fazendo sexo

Violência social

– Paga a vítima um salário menor, mesmo realizando a mesma tarefa que um homem

– Obriga a vítima a provar que não está grávida para conseguir um emprego ou fazer laqueadura para permanecer no emprego

– Proíbe a vítima de amamentar o filho

– Não dá promoção a vítima no emprego por ser mulher

– Discrimina a vítima por sua religião, classe social ou filiação partidária

– Impede a vítima de entrar em algum local, comprar algo ou trabalhar em uma empresa por causa da cor de sua pele ou por questão racial

– Discrimina a vítima por sua idade ou por ser portadora de deficiência física, mental ou ter outras doenças como Aids, etc

Fonte:

Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

A Cada quatro minutos uma mulher é espancada no Brasil:

– 29% são de violência física

– 66% são de violência emocional

Onde a violência contra a mulher acontece:

– Em 78% dos casos atendidos no ano de 1999, o agressor era marido ou companheiro da vítima

– 63% das agressões contra a mulher ocorre dentro da própria família

– As mulheres que sofrem violência são de todas as raças e classes sociais

– Somente 1/3 da violência contra a mulher é denunciado

– Muitas mulheres de classes média e alta não denunciam para preservar seu “status” e por terem medo de escândalos

Fonte:

Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

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