Garoto dá novas informações sobre o homem que levou sua irmã

O garotinho Diego de Oliveira Lopes, 10 anos, que foi raptado junto com a irmã, Luana de Oliveira Lopes, de 8 anos, no domingo, em Prado Ferreira, foi submetido a uma hipnose regressiva, manhã de ontem, pelo perito Rui Sampaio – único no Brasil a fazer este tipo de trabalho – no Instituto de Criminalística do Paraná, em Curitiba. “O objetivo é descobrir mais detalhes sobre o rapto das crianças, principalmente sobre o caminhão e o criminoso, para que possamos localizá-lo e recuperar a menina”, informou o delegado Edu da Silva Furtado Filho, da Regional de Porecatu – Norte do Paraná -, responsável pelo caso.

De acordo com o policial, Diego foi agredido pelo seqüestrador com chutes no rosto e pauladas na cabeça, o que o deixou traumatizado e fez com que esquecesse alguns detalhes importantes do crime, que poderão ajudar na identificação do criminoso.

A hipnose regressiva durou cerca de duas horas. A polícia acredita ser este o melhor meio de fazer com que o menino colabore com as diligências. “Além disso, contamos com a ajuda da população para localizar a Luana. Quem tiver qualquer pista da menina deve comunicar imediatamente a polícia”, enfatizou o delegado.

Rapto

Mesmo atormentado com o sumiço da irmã, Diego consegue lembrar o que aconteceu no domingo passado. Ele foi buscar leite em um sítio vizinho e para isso teve que atravessar a rodovia que liga Florestópolis a Prado Ferreira. “Ele sempre vai de bicicleta, mas a dele quebrou. Como ia a pé, levou a Luana junto”, contou a mãe das crianças, Neide de Oliveira Lopes, 29 anos. O menino relatou ainda que o ataque do seqüestrador aconteceu quando eles voltavam com o leite e foram atravessar a rodovia. “Vinha um carro e paramos no acostamento para esperar. Foi quando o caminhão encostou”, relatou Diego.

O desconhecido, segundo a vítima, desceu do caminhão e os abordou, oferendo-lhes cobertores velhos. Depois disse que eles poderiam entrar no baú, para escolher os cobertores. Sem suspeitar de nada, as crianças deixaram o leite no acostamento e entraram no baú de alumínio e foram trancados pelo criminoso.

Fuga

O caminhoneiro deixou o local rapidamente. Desesperado, Diego começou a gritar e bater no alumínio do baú. Então o motorista parou o caminhão. “Ele me pegou e amarrou minhas mãos com aquelas cordinhas que tem no mercado. Levou a Luana para a cabina e me deixou trancado”, contou. Depois o seqüestrador pegou uma estrada vicinal, parando o veículo em um matagal. Novamente abriu o baú e agarrou o garotinho. “Eu consegui fugir dele. A Luana só gritava faça o que ele quer, vai te matar”, disse Diego. Segundo ele, o homem gritava: “Tua irmã vai comigo, você eu vou matar”. Apavorado, Diego corria enquanto o criminoso o perseguia com um facão nas mãos. Para sorte do garoto, o homem perdeu a arma em meio a plantação. Mas conseguiu alcançar o menino, derrubá-lo e dar um chute em seu olho. Depois apanhou um pau e deu golpes na cabeça dele, até deixá-lo desacordado. Provavelmente achando que a criança estava morta ele foi embora, levando Luana, por volta do meio-dia do domingo passado.

Mãe

Neide, que além de Luana e Diego é mãe de outras duas meninas, disse que só soube do rapto no final da tarde. Após ser espancado pelo criminoso, em Florestópolis, o menino conseguiu chegar na rodovia e ficou sentado em um banco. Até que passou um casal, prestou socorro e o levou Diego até uma assistente social. Ela tratou de encaminhar Diego para casa.

“Ela chegou e disse: a senhora sabe dos seus filhos. Falei que tinham ido em uma chácara, buscar leite, mas como era domingo deviam ter ficado brincando com as outras crianças”, lembrou Neide. “A mulher do Conselho Tutelar disse que no caminho houve um imprevisto. Pensei que ela tinha morrido atropelada”, relatou.

Neide não tem muita esperança de encontrar a filha viva. “Tem dia que penso que vou voltar a abraçar a Luana. Tem dia que acho que não vai dar. Meu filho ele deixou porque era homem. Agora a Luana é uma menina, sabe lá o que ele queria com ela”, diz a mãe, que chegou a mandar um recado para o criminoso: “Se ainda estiver com a minha filha, não faça nada com ela, manda notícia, entrega a Luana”, pediu desesperada.

Investigações

O delegado Edu informou que as esperanças em localizar a menina são grandes. “Acreditamos que este maníaco seja da região, já que lá tem muitas fábricas de móveis e caminhões- baús são comuns. Além disso, ele entrou em uma estrada vicinal, que só quem mora na região conhece”, adiantou.

Qualquer informação sobre o paradeiro de Luana pode ser dada à Polícia Civil de Porecatu, (43) 623-1010, ao Sicride (41) 224-6822, ou à delegacia mais próxima.

Laboratório de hipnose: único na América Latina

O único lugar da América Latina destinado a resolver crimes com o uso da hipnose regressiva é o do Instituto de Criminalística do Paraná. O laboratório de Hipnose Forense, onde a técnica é aplicada, é chefiado pelo perito Rui Fernando Cruz Sampaio, também médico psiquiatra e psicólogo. Ele já ajudou a solucionar vários dos 600 casos que foram encaminhados ao seu laboratório, por juízes, delegados e promotores do Ministério Público.

Apesar de a hipnose estar sendo empregada desde 1983, só nos últimos cinco anos ela foi reconhecida oficialmente. As informações conseguidas por meio desse procedimento não valem como provas, mas ajudam a polícia nas investigação de crimes com detalhes e retratos-falados mais ricos em características. Em 90% das sessões esses retratos são conseguidos.

Trauma

Sampaio explica que, ao passar por uma experiência traumática, vítima ou testemunhas tendem a desenvolver defesas psicológicas, que impedem a pessoa de lembrar alguns detalhes importantes para a investigação policial. Os principais casos solucionados por Sampaio são relativos a estupros ou acidentes de trânsito. Na primeira situação, a mulher está tão abalada que não consegue descrever o bandido, o que impede a polícia de desenvolver um trabalho mais direcionado.

Regressão dá bom resultado

A sessão de hipnose de Diego de Oliveira Lopes, 10 anos, no Instituo de Criminalística, em Curitiba, teve início às 10h e só foi finalizada às 14h. Segundo o perito Rui Sampaio, o garoto estava bastante ansioso e nervoso, mas ao ser hipnotizado, ele acalmou-se e conseguiu lembrar de detalhes importantes para a investigação.

Nas primeira duas horas, o perito procurou ambientar-se com Diego e a família dele e a aprofundar-se no caso. Depois disso, o garoto passou as outras duas horas em transe. “Ele estava muito ansioso, por isso foi usada uma técnica de relaxamento chamada dissociação. Diego contou o que aconteceu como se estivesse de fora da situação”, explicou Rui.

Detalhes

Além de confirmar o que já havia dito, Diego lembrou mais detalhes sobre o caminhão. A descrição física do seqüestrador também foi melhorada. Um novo retrato-falado foi confeccionado a partir das novas informações. Desta vez, Diego lembrou que o homem tinha uma barba rala na região do queixo, baixo, magro e de pele clara. “É importante frisar que o retrato falado serve para mostrar os traços mais marcantes do rosto da pessoa, como nariz, boca e olhos, e não é uma cópia perfeita de uma foto”, explicou o perito.

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