Fuzilado e jogado no poço

Seqüestrado, assassinado e jogado dentro de um poço. Este foi o fim do ex-presidiário Adilson Teodoro de Oliveira, 49 anos, que há dois meses estava morando em Almirante Tamandaré, vindo de São Paulo. Após cumprir pena por crime de homicídio em um presídio paulista – teria matado um policial – pretendia recomeçar a vida com a ajuda de parentes. Havia, inclusive, arrumado emprego de porteiro em um hotel. No entanto, em uma desavença com o sobrinho Everton Garcia Pereira, 23, foi executado a tiros por ele.

Há duas versões para o caso, que deverão ser apuradas pela polícia. Ontem à tarde, ao se apresentar na delegacia de Tamandaré, acompanhado por advogado, o autor alegou ter agido em legítima defesa, porque estava sendo ameaçado de morte pelo tio. Parentes do morto, no entanto, garantem que a história não é esta. Seria Everton quem estaria provocando Adilson, prejudicando-o em seu trabalho porque queria convencê-lo a retornar ao mundo do crime.

Corpo

O cadáver só foi encontrado após a apresentação do acusado, que concordou em indicar à polícia onde tinha feito a "desova". Ele contou com a ajuda de outro indivíduo – um amigo – cujo nome está sendo mantido em sigilo. "Acreditamos que este rapaz vai se apresentar", informou o investigador Lima, que deu atendimento à ocorrência.

O corpo foi jogado em um poço que durante muito tempo abasteceu de água as residências da localidade de Itajacuru, onde o crime aconteceu – distante 4 quilômetros do centro de Tamandaré. Adilson tinha sido seqüestrado na manhã de quarta-feira, por Everton e o amigo, que o obrigaram a entrar no Kadett pertencente ao acusado.

Capotamento

Everton e o outro suspeito foram até a casa em que Adilson estava morando, no bairro Moinho Velho, por volta das 8h de anteontem. Armado, ele pretendia tirar satisfações com o tio. Numa breve discussão, baleou a vítima na perna. Com o tio rendido e ferido, forçou-o a entrar no carro e seguiu para a região de Itajacuru. Em alta velocidade, capotou o veículo em uma curva da estrada de chão. A partir daí os fatos ficam confusos.

Everton diz que sua intenção era levar o ferido para um hospital. Mas com o capotamento, o tio, mesmo baleado, fugiu. Ele então correu atrás e atirou mais algumas vezes, matando-o, porque estava muito amedrontado com as ameaças que vinha sofrendo. Depois, com a ajuda do amigo, arrastou o corpo pela estrada, passou por baixo de uma cerca de arame farpado e atirou o morto no poço. Ainda em sua defesa, o autor afirma que o tio era usuário de drogas e que queria obrigá-lo a arrumar dinheiro para que pudesse comprar entorpecentes. Casado e trabalhando como promotor de vendas, Everton não tinha antecedentes criminais.

Sobrinho acusado de premeditar crime

Os parentes do morto asseguram que Adilson não queria mais confusão, mostrando-se disposto a trabalhar e esquecer o passado. Segundo eles, o sobrinho passou a lhe propor novas ações criminosas – não disseram de que se trataria, mas possivelmente estelionato. Como a vítima não aceitou, Everton telefonou para o local de trabalho do tio, revelando sua condição de ex-presidiário, o que o fez perder o emprego. Diante disso, os dois teriam brigado e possivelmente trocado ameaças.

Há suspeitas que, a partir de então, Everton tenha premeditado a morte do tio, tanto que "desovou" o corpo em um poço abandonado, no interior de uma chácara, à margem de uma estrada de difícil acesso. "Pelo local, dá pra supor que ele já sabia o que queria fazer", comentou Lima. "O que ele não contava era com o capotamento do carro."

Depois do assassinato, ele e o amigo ficaram escondidos no mato, até que um morador, dirigindo uma Kombi, apareceu. "Eu ví o carro com as rodas para cima e também vi sangue. Estava telefonando para um vizinho, para me ajudar a desbloquear a estrada, quando os dois rapazes apareceram. Disseram que a irmã de um deles tinha ficado bastante ferida no acidente e que um carro da Prefeitura já a tinha levado para o hospital. Nós três desviramos o Kadett e eles foram embora", contou a testemunha, que somente ontem à tarde, ao passar pelo mesmo local, viu o resgate do corpo e tomou conhecimento do crime.

Como o acusado apresentou-se espontaneamente à polícia, foi interrogado, indiciado em inquérito e colocado em liberdade. Posteriormente o Ministério Público deverá se manifestar sobre o pedido ou não da prisão preventiva dele. É aguardada para hoje a apresentação do outro envolvido.

O cadáver foi resgatado do poço com a ajuda do Grupamento de Busca Aquática do Corpo de Bombeiros, com sede em São José dos Pinhais.

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