Estudante não trocou tiros com policiais militares

Deu negativo o exame de resíduos de chumbo (luva de parafina) realizados no estudante Anderson Froese de Oliveira, 18 anos, morto durante uma abordagem da Polícia Militar, às 2h15 de sábado, na Avenida Marechal Floriano Peixoto, no Parolin, próximo ao viaduto. O resultado e o laudo de necropsia foram entregues ontem à Delegacia de Homicídios. O delegado Sebastião Ramos Santos Neto, responsável pelo caso, informou que o laudo oficial mostra que o tiro disparado pelo soldado Nilton Hasse, 33 anos, foi encostado, ou seja, à queima-roupa, e atingiu próximo a orelha do garoto. “O resultado do exame vem contribuir para que a versão apresentada pelos amigos da vítima seja verdadeira e não a dos policiais, de que houve reação por parte dos estudantes. Pelo laudo aparenta que foi uma armação dos policiais”, salientou Sebastião. Ele disse que o tiro foi disparado de baixo para cima.

O delegado informou que se tratando de homicídio doloso a competência de investigação é da Polícia Civil e se for comprovado, os acusados deverão ser julgados pela Justiça comum. O coronel José Paulo Betes, comandante do 13.º Batalhão, onde os policiais estão lotados, discorda da tese do delegado e acredita que se houve crime é militar, já que os policiais estavam de serviço e a arma que matou Anderson pertence à corporação.

Apesar de as duas polícias estarem apurando o mesmo crime, o delegado adiantou que não pretende usar nenhuma peça do inquérito policial militar, nem depoimentos, nem laudos. “Montamos um planejamento para esta investigação e seguiremos passo a passo. Havendo requisitos legais irei pedir a prisão preventiva à Justiça das pessoas que participaram de alguma forma do homicídio ou da tortura contra o adolescente de 16 anos”, ressaltou Sebastião. Ele pretende ouvir os policiais na próxima semana, quando também será realizada a reconstituição da operação que ocasionou a morte de Anderson.

Os pais de Anderson também são ouvidos

Os pais de Anderson Froese de Oliveira, prestaram depoimento na tarde de ontem na Delegacia de Homicídios. Raymundo Barreto de Oliveira e Agnes Froese de Oliveira repudiaram a versão apresentada pelos policiais militares, de que seu filho estava envolvido em uma tentativa de assalto, que estava armado e reagiu à prisão. “Sei que ele não estava fazendo o certo pichando o muro da empresa, mas também não precisavam matá-lo. Poderiam puni-lo, mas tirar sua vida não é justo”, comentou Raymundo. Ele disse que a família e os amigos do rapaz querem justiça. “Nada irá trazê-lo de volta, mas a justiça divina e terrena serão feitas”, comentou Raymundo.

A mãe disse que Anderson gostava de desenhar e até era contratado para grafitar muros. “Na sexta-feira, ele grifou alguns empregos no jornal e ia ver na segunda-feira. Meu filho era um rapaz bom, só queria ajudar os outros. Naquela sexta-feira ele foi ao colégio e depois ia jogar bola com os amigos. Ficamos abismados quando soubemos que ele havia levado um tiro e estava no Hospital do Trabalhador”, disse Agnes.

Passeata

Para pedir pela paz e justiça, os amigos de Anderson organizaram uma passeata, que sairá às 13h de hoje da Praça Osório e vai até a Praça Santos Andrade. O objetivo é pedir justiça e que as autoridades tomem providências para punir os policiais militares envolvidos na ação que ocasionou a morte do estudante.

Acusados prestam depoimento

O soldado Nilton Hasse, 33 anos, e o cabo Afonso Odair Konkel, 26, que participaram da operação que terminou com a morte do estudante Anderson Froese de Oliviera, prestaram depoimento na tarde de ontem no inquérito policial militar, presidido pelo tenente Selmer. Eles alegaram que Anderson reagiu a tiros a abordagem. O tenente disse que ontem também ouviu outros militares, que socorreram Anderson até o Hospital do Trabalhador. “Há duas versões. Já ouvimos a dos policiais. Também vamos ouvir as testemunhas que prestaram depoimento na Delegacia de Homicídios”, revelou Selmer. Ele disse que as declarações das testemunhas civis serão acompanhadas por um representante, designado pelo Ministério Público. “Para nós é importante, porque dará maior transparência ao inquérito”, salientou.

Defesa

O advogado dos PMs, Peter Amaro de Souza, garante que seus clientes agiram em legítima defesa. “O resultado do exame não quer dizer nada. Isto é contestável porque o disparo foi feito por uma pistola que não deixa resíduos”, argumentou. Ele disse que os policiais, que estão lotados no serviço reservado do 13.º Batalhão, trabalham na área onde há o maior índice de criminalidade de Curitiba. “É uma guerrilha urbana. Eles estão atentos a qualquer reação de marginais. Acho estranho o que estão fazendo, tentando denegrir a imagem da corporação. Eles estão dispostos a colaborar e agiram no exercício legal do direito”, disse o defensor. Ele salientou que Nilton Hasse ingressou na PM há 15 anos e Afonso Odair Konkel há cinco. “A ficha deles mostra que são excelentes policiais e sempre agiram corretamente”, acrescentou o advogado.

Voltar ao topo