Vamos abrir a caixa-preta!

A necessidade de o governo estadual tomar uma providência contra as administradoras privadas de rodovias no Paraná já está mais do que na hora. Pagar caro para rodar poucos quilômetros e receber um serviço de baixa qualidade não é mais admissível. O maior exemplo disso se chama “Ecovia”, trecho da BR-277, que liga Curitiba até Paranaguá. Buracos, remendos, rachaduras, desnível e sinalização precária numa estrada que deveria ser exemplo daquilo que se apregoou para que ela fosse privatizada.

Será que a possibilidade de encampação brecou os planos das concessionárias e os investimentos não estão sendo mais feitos? A pergunta fica no ar, já que o que se nota quando se passa pela rodovia das praias são várias marcações para mais remendos, mas não se vê nenhuma movimentação efetiva para que as obras de recuperação possam ser, efetivamente, iniciadas. Será que vão deixar para recapear o asfalto quando o verão chegar e o número de veículos com destino ao sossego praiano se multiplicar? Será que os R$ 6,10 (só de ida) não são suficientes para pagar as despesas e um novo aumento esteja sendo reivindicado?

São muitas perguntas para serem respondidas por aqueles que cantaram em verso e prosa as maravilhas de uma rodovia privada. Governo (anterior, no caso) e concessionários têm muitas explicações para dar à população. E o pior é que essas explicações nunca aparecem. O que aparece são essas eternas querelas políticas, que trafegam de um lado para outro, sem que o problema tenha uma solução. Concessionárias berram de um lado, governo de outro, e no meio está o pobre do usuário, pagando por um serviço que não tem. Pagando por algo que não pagava durante anos, porque se sabe que as estradas foram construídas com dinheiro público, para servir o povo.

Como é que pode a BR-376 não ter sido privatizada (apesar de projetos nesse sentido) e estar em melhor condição de tráfego? Quem vai para Guaratuba ou Santa Catarina não tem do que reclamar das condições da rodovia gratuita. E olha que também tem serra, tem curva à vontade e tem a perigosa neblina. Os números de acidentes são equivalentes e mesmo não tendo placas que exaltam os bichinhos do lugar nem a grife ecológica, o usuário viaja mais tranqüilo.

Alguma coisa está errada. Pegar o bem público, no caso a estrada, arrecadar dinheiro e não investir, não é privatização. Isso tem outro nome: usurpação, espoliação, exploração, apropriação, mas, nunca, privatização. Então por que a 277 é pior se é paga? A resposta está na caixa-preta que as concessionárias relutam em abrir e que o governo estadual precisa atacar com firmeza.

Esse assunto foi bandeira de campanha do governador Roberto Requião e não pode morrer de uma hora para outra. Os responsáveis precisam agir logo e trazer soluções para este problema, que dificulta uma simples viagem à praia, o transporte de carga para os portos da região e até o desenvolvimento de uma cidade como Paranaguá, isolada da capital pelas cancelas arrecadatórias de uma concessionária de pedágio.

Rodrigo Sell  (esportes1@parana-online.com.br) é repórter de Esportes em O Estado.

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