Tudo dominado

Temos insistido que para a formação dos quadros políticos brasileiros – sejam de âmbito municipal, estadual ou federal – deve haver um sistema de peneira que rejeite os que não assegurem competência e honorabilidade. O mesmo deve-se dizer de autoridades em geral, em especial as polícias, pois sejam as estaduais ou a federal, civil ou militar, a verdade é que em todas elas têm sido descobertas ações criminosas. E criminosos são exatamente os servidores cuja obrigação é combater o crime. Graças aos céus que sejam exceções. A grande, enorme maioria é de gente de bem.

O que aconteceu agora, na Polícia Federal do Rio de Janeiro, é espantoso. Numa ação sem dúvida paciente e competente, a PF prendeu uma quadrilha de traficantes, com comando português e partícipes brasileiros, que mandava cocaína no interior de peças de carne congelada, do Brasil para a Europa. Com a quadrilha foram descobertos cerca de R$ 60 milhões em moeda nacional e estrangeira, dinheiro também apreendido.

Essa vultosa importância foi guardada numa dependência da Polícia Federal carioca, que nada tinha de cofre forte e, para segurança, apenas uma frágil grade fechada com um cadeado adquirido em alguma loja de R$ 1,99. Passaram-se mais de 24 horas e o dinheiro não foi depositado em nenhum estabelecimento bancário, onde certamente estaria mais seguro. O resultado é que foi furtado, pondo em situação vexatória dezenas de policiais federais, inclusive quatro delegados, todos afastados de seus cargos, enquanto policiais de Brasília foram convocados para investigar o ocorrido.

Vê-se, pelo exposto, que não basta a seleção na admissão dos agentes públicos, sejam políticos, policiais ou administrativos. É preciso também que existam normas rigorosas que levem a comportamentos adequados e punições exemplares, seja pela descoberta dos agentes públicos criminosos, seja pela evidência de que há dentre eles desleixados, que não prezam o bom nome das instituições a que servem, permitindo que ocorram casos escabrosos como esse de agora.

Já ocorreu, há não muito tempo, o roubo de narcóticos apreendidos pela polícia. E foram roubados por policiais. Até agora nada foi descoberto.

Uma nação é formada de homens, como de homens se constituem suas instituições. Mas o que dá forma às instituições são a Constituição, leis de menor hierarquia e normas que tornam operacional todo o mecanismo. Este precisa ser um País de leis severas, práticas e praticáveis.

Se não, vai acontecer o que já se está antecipadamente anunciado. Homens como um Severino Cavalcanti, que vai ter de renunciar ao mandato de deputado e ao alto cargo de presidente da Câmara dos Deputados, no ano que vem poderá estar de volta à Câmara, pois a lei é frouxa e permite. E o presidente Lula, mantendo nos cargos de governo os apaniguados e cabos eleitorais de Severino, correligionário de Maluf, está ajudando a que acreditemos que ?está tudo dominado?.

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