Têxtis protestam contra impostos, câmbio e importações

Cerca de 200 empresários, trabalhadores e sindicalistas do setor têxtil reuniram-se na manhã desta terça-feira (05) para protestar contra a alta carga tributária, o câmbio valorizado e importações asiáticas ilegais no vão do Masp, em São Paulo. Segundo eles, o setor têxtil já demitiu mais de 260 mil pessoas desde 2002 e continua a sofrer com queda das exportações e aumento das importações. Só o setor de tecelagem demitiu cinco mil pessoas neste ano em São Paulo, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo, Sergio Marquesl.

Dados do Sindicato das Indústrias Têxteis do Estado de São Paulo (Sinditextil-SP) indicam que as exportações do setor em agosto caíram 21% em valores em relação ao mesmo mês de 2005, para US$ 170,5 milhões. Em volume, a queda foi ainda maior (42,5%), para US$ 51,8 mil toneladas. No acumulado do ano, a queda nas exportações foi de 1,1% em valores, para US$ 1,309 bilhão. O volume exportado foi praticamente o mesmo, após a indústria, por cinco anos seguidos, ter alcançado superávits crescentes na balança comercial e dobrado o volume das vendas.

Por outro lado, as importações em agosto foram 35,3% superiores ao registrado no mesmo mês de 2005, chegando a US$ 192,1 milhões enquanto o volume importado teve elevação de 38% (67,6 mil toneladas). No acumulado do ano, as importações somam US$ 1,381 bilhão, alta de 38,8% em relação ao mesmo período de 2005, enquanto o volume cresceu 34,5%, para 507,9 mil toneladas.

Em agosto, o setor registrou déficit pelo quarto mês consecutivo de US$ 21,6 milhões, ante superávit de US$ 73 milhões no mesmo mês de 2005. No acumulado do ano, o saldo negativo soma US$ 72,4 milhões, contra superávit de US$ 255,4 milhões. A expectativa do setor é fechar o ano com um déficit de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões.

O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, Fernando Valente Pimenta, disse que a indústria é competitiva e não quer proteção artificial, mas exige equilíbrio na competição com outros países. "Não podemos permitir que uma indústria duramente construída com a competência e o trabalho de empresários e trabalhadores seja posta em risco, não por uma dificuldade de não saber o que deve ser feito, mas sim por variáveis externas ao funcionamento das empresas.

Pimenta reconheceu que o setor vive um momento difícil, mas disse que a situação pode ser revertida caso algumas medidas sejam tomadas. Ele defendeu acordos internacionais com grandes blocos econômicos, fim das importações ilegais e desoneração da produção para setores empregadores e criticou os altos juros, carga tributária, burocracia e infra-estrutura deficiente. "Nenhum país é 100% competitivo em todas as suas variáveis macroeconômicas. No entanto hoje, no Brasil, temos todas elas contra a produção e a indústria de transformação", disse. "Um país que dobrou suas vendas externas em cinco anos e apresentou superávits crescentes ao longo desse período não pode, de uma hora para outra, dizer que não é competitivo. Alguma coisa de muito grave está acontecendo para que se reverta de forma tão marcante aquilo que foi construído nos últimos anos.

Ele citou que, em 12 anos de circulação do real, a inflação medida pelo IPC-Fipe foi de 166%, enquanto a inflação do vestuário foi de 16%. "Não só o setor investiu como transferiu isso para o consumidor nacional", disse.

O presidente do Sinditextil-SP, Rafael Cervone, disse que o setor representa 30 mil empresas e 1,650 milhão de empregos, 14% da mão-de-obra com carteira assinada no País e 17,5% do PIB da indústria de transformação. É o segundo maior empregador na área de indústria, atrás somente do setor de alimentos e bebidas. Na década de 1990, o setor chegou a empregar três milhões de pessoas. "Precisamos de condições isonômicas de competição. Isso é fundamental para que possamos voltar a gerar emprego. Hoje fazem um tumulto danado porque a Volkswagen vai demitir 1,8 mil pessoas. Nós já demitimos 260 mil pessoas em quatro anos", disse. "Podemos desonerar os encargos trabalhistas sobre a mão-de-obra e folha de pagamento mantendo os salários. Solução existe, nós sabemos exatamente o que deve ser feito. Só precisamos ser ouvidos", disse Cervone.

Para o setor, uma das soluções para combater as importações ilegais seria restringir a importação de têxteis a no máximo cinco portos brasileiros (hoje são mais de 30) e que o desembaraço fosse feito também nesses portos. "Temos hoje 64 portos secos e mais 50 em aprovação", lembrou Cervone. "Uma calça de lã feminina foi importada da China a US$ 1,14 o quilo pelo Brasil. O quilo da lã na Europa custa US$ 8. Isso é indício claro de subfaturamento. As importações ilegais custaram aos cofres públicos mais de R$ 580 milhões em evasão fiscal. Mais de 30 mil empregos perdidos ou que deixaram de ser gerados", finalizou.

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