Terrorismo transgênico

Integrantes do Movimento dos Sem-Terra, erroneamente chamados de agricultores ou trabalhadores, invadiram e depredaram uma fazenda de Ponta Grossa, queimando enormes plantações de milho. As hordas alegaram que o milho era transgênico. Felizmente não houve feridos, mas um dos líderes do MST no Paraná, Roberto Baggio, declarou que o ato faz parte de uma nova etapa de luta do movimento: onde houver fazenda com transgênicos (ou com suspeita de), elas passarão a ser invadidas e saqueadas. A ação (quanta ironia!) faz parte, segundo avisa, do programa de reforma agrária.

A fazenda pertence à multinacional Monsanto. Conforme a versão da empresa, o território conflagrado somava vinte hectares. E não tinha só milho, mas, também, soja – da transgênica e da convencional. Parte do milho fazia parte de um estudo de risco ambiental. O prejuízo, portanto, não é apenas econômico, mas, também, científico: as pesquisas sofrem atraso de um ano.

O triste ato coincide com o anúncio, pela organização não-governamental Greenpeace, da divulgação de uma lista com centenas de produtos considerados transgênicos. Sem base científica alguma, a entidade realizou a classificação – conforme se divulga – com base numa resposta solicitada aos fabricantes. Quem não respondeu, automaticamente passou para a coluna vermelha. “A empresa que adota prática de controle não teria por que omitir isso do consumidor”, raciocina Tatiana Carvalho, intitulada assessora da campanha antitrangênicos do Greenpeace. Ela admite que a lista (a única do gênero existente no País) é organizada com base em questionários porque a entidade não tem capacidade para testar os produtos.

Em nome de uma duvidosa segurança alimentar, está-se praticando um novo tipo de terrorismo. A soja incendiada pelo MST foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), o único órgão do governo que poderia estar fornecendo com alguma seriedade uma lista de advertência aos consumidores. Soja e milho transgênicos já são consumidos em larga escala há mais de cinco anos em diversos países do planeta. Ademais, entidades como a Royal Society (academia de ciências britânica) acabam de emitir relatório garantindo que os alimentos transgênicos não apenas não fazem mal aos humanos, como são tão seguros quanto os convencionais.

“Examinamos os resultados de pesquisas publicadas e não encontramos nenhum indício de que alimentos geneticamente modificados sejam inerentemente inseguros”, disse Patrick Bateson, vice-presidente e secretário de biologia da vetusta e respeitável entidade britânica, enquanto, aqui, Baggio liderava o incêndio dos Campos Gerais.

Para que não prosperem a pilhéria e a barbárie, a nosso ver, o governo precisa sair de cima do muro nessa questão. Já existiriam bases científicas suficientes para retirar o assunto da área da ideologia e inscrevê-lo naquela da ciência. Se não faz mal e é seguro, o alimento transgênico não pode ser objeto dessa guerra que ora o MST encampa em sua estratégia de guerrilhas pela reforma agrária, que em Brasília é anunciada como pacífica. Mais que isso, o papel do governo (que inclusive liberou provisoriamente os transgênicos para colheita, exportação e consumo) seria aquele de garantir segurança a todos quantos plantam, sejam multinacionais ou tupiniquins, que não podem ficar à mercê da ação de vândalos travestidos de agentes ecológicos.

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