Superaremos o Haiti

No ano passado, quando se proclamou que a nossa economia ia bem e os programas sociais davam exemplos positivos ao mundo, o Brasil cresceu, entre os países da América Latina, apenas mais que o Haiti. E o Haiti é o mais pobre dos países desta parte do mundo e um dos mais pobres do globo. Neste ano, o nosso país deve bisar esse feito negativo, mais uma vez superando apenas o Haiti em crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A consultoria Austin Raiting, segundo seu ?ranking?, que abrange 19 países, diz que se em 2006 o Brasil crescer 3%, só o Haiti, um país que continua em guerra civil e recebe ajuda da ONU, comandada pelo Brasil, terá um crescimento menor do que o nosso: 2,3%.

O cenário que se apresenta mostra que vamos empatar com o Equador, país sul-americano que também crescerá 3% e perderá para o Paraguai (3,5%), El Salvador (3,8%), Costa Rica (3,7%) e Bolívia (4,1%). É óbvio que a nossa economia é mais desenvolvida (menos subdesenvolvida) do que esses países companheiros de pobreza. Somos um país continental, com não muito menos de 200 milhões de habitantes. Temos uma indústria moderna e o crescimento tão pífio do PIB não significa, necessariamente, que estamos numa corrida para ver se ficamos na última posição em termos de desenvolvimento econômico. O que significa é que estamos crescendo tão pouco que não seria exagero dizer que estamos em vias de encolhimento. Há um crescimento vegetativo da população brasileira e de suas necessidades e isso faz com que números de crescimento do PIB tão baixos acabem sendo nulos. Ou mesmo evidenciem encolhimento.

Na média, a América Latina deve crescer, neste ano, 4,6%. A Argentina, nossa sócia no Mercosul e que atravessou uma crise econômica bem mais severa do que a que passamos, vai liderar o ?ranking?, com uma alta do PIB de 8%. Já teve uma expansão, no ano passado, de 9,2%. O economista-chefe da Austin Raiting, Alex Agostini, acha que os juros altos ainda são o principal entrave para a economia brasileira. A taxa Selic (taxa básica de juros) é hoje a menor desde o início das reuniões do Copom, que a fixa. Está em 13,75% ao ano. Isso significa juros reais de mais de 9%, os maiores do mundo, devido à queda da inflação para algo em torno de 3%.

Outros problemas, na opinião do especialista, também atrapalham a nossa economia. Referem-se à parada de sete plataformas da Petrobras no segundo trimestre, a greve da Receita Federal, os atentados do PCC e a Copa do Mundo. Mas os juros altos continuam sendo o nosso calcanhar-de-aquiles porque levam à redução dos investimentos públicos e privados, reduzem a cotação do dólar, o que baixa a rentabilidade das exportações.

Acabamos de sair de uma eleição em que reconduzimos o presidente Lula ao poder. Houve um discurso otimista no campo econômico e festejamos os programas sociais, créditos que levaram o presidente a uma vitória esmagadora. Agora é hora de parar com os discursos e olhar para a realidade. Não estamos prontos nem preparados para andar pelas próprias pernas. Não estamos crescendo e é preciso que se aprenda a traduzir os números dessas estatísticas. Os números podem servir para iludir o eleitorado, mas não serão capazes de nos tirar de uma posição humilhante de estagnação, quando se faz necessário um crescimento robusto para que ocupemos a posição ambicionada no conjunto das nações do continente.

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