Segunda fase

Da parcela do povo mais instruída e politizada é natural que se espere uma análise mais aprofundada sobre o novo governo. Da massa em geral, a mais sofrida e ansiosa por mudanças, se capta o persistente sentimento de esperança instilado pelas promessas de campanha de Lula e pelo justo desejo de mudanças, já que o Brasil sofre de males crônicos por gerações. Não se nega que ocorreram melhoras. Mas não efetivas mudanças e estas são o que se espera do governo atual de Lula, um operário que chegou à Presidência num país que sempre foi governado por representantes de oligarquias, coronelato e militares. Aliás, fenômeno comum na América Latina.

Assim, temos hoje, ao quase completar-se o quinto mês de governo Lula, a esperança ainda viva das massas e o começo do questionamento da parcela mais instruída e politizada da população, que é minoria, mas forma opinião.

Diz o governo que agora, com a última reunião do ministério, no último final de semana, começou sua segunda fase. Qual seria a primeira? A primeira é constituída somente de propostas. Propostas de reforma previdenciária, tributária e agora a promessa do projeto do primeiro emprego, que surge do Ministério do Trabalho. As duas primeiras estão devidamente formuladas e levadas ao Congresso, onde começam a tramitar. A última está mais no discurso e no papel que na ação.

A apresentação das reformas, mesmo que contestadas em pontos essenciais até mesmo por parlamentares e membros eminentes do próprio governo, é um passo essencial, mas não completa a primeira fase. Apenas a inicia. A segunda seria a preparação para o desenvolvimento econômico, através da feitura do Plano Plurianual de Investimentos. Necessário, mas ainda não elaborado. Portanto, temos em gestação tanto a primeira quanto a segunda fases, o que significa, sem ser crítica, que o governo ainda não fez nada. Para não se dizer que não fez nada, na verdade definiu na área financeira a trilha a seguir. E a está seguindo sem tergiversações.

A Fundação Perseu Abramo, centro de estudos políticos mantido pelo PT e que reúne membros moderados do partido, em seu boletim de maio, diz que o ministro Antônio Palocci Filho, da Fazenda, não está praticando uma política de mero continuísmo daquela de Pedro Malan. Está aprofundando a política de Malan. Um bom exemplo é que Malan, sob os protestos do PT que era oposição, elevou o superávit para fazer caixa e pagar ou rolar as dívidas brasileiras a 3,75% do Produto Interno Bruto. O argumento contra essa elevada taxa de poupança era que desviava para os credores dinheiro que poderia estar servindo para o desenvolvimento do Brasil e criação de empregos. Palocci, ao invés de reduzir esse nível de superávit, como pregavam os petistas, o elevou para 4,35%. No campo dos tributos, taxas e contribuições, o governo Lula, que combatia a fome fiscal do governo FHC, está aumentando a carga tributária.

O que seria esse projeto de governo do PT? O de FHC ainda aprofundado?

Sim! É isso mesmo. Mas a razão, segundo a Fundação Perseu Abramo, é que Lula quer deixar o País mais livre dos empréstimos. Economizar agora, mesmo que com imensos sacrifícios, para depois promover o crescimento econômico sustentado. Isso explicaria por que o governo Lula faz tudo o que combatia e repete o governo FHC e Palocci copia, com lente de aumento, a política econômico-financeira de Malan.

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