Relação entre Fazenda e BC volta a atrair atenção do mercado

Londres – As declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, publicadas no fim de semana, de que não haverá conflito entre a Fazenda e o Banco Central (BC) desde que as taxas de juros continuem caindo, elevaram em alguns investidores o grau de incerteza em relação à trajetória da política monetária nos próximos meses.

Uma avaliação é que a fala do ministro poderá ter um efeito oposto. Ou seja, para reafirmar mais uma vez sua independência, o BC poderia reduzir o ritmo dos cortes. Outra tese especula que o BC poderia tornar mais gradual o relaxamento monetário, evitando pausas na redução da Selic e afastando atritos mais sérios com o ministro da Fazenda, pelo menos até as eleições de outubro.

Mas analistas consultados pela Agência Estado não acreditam que o BC será influenciado pelas declarações de Mantega, mas alertam que elas servem para manter viva a insegurança em torno dos compromissos do ministério da Fazenda.

Nuno Camara, economista sênior do Dresdner Kleinwort Wasserstein um dos poucos que prevê um corte de 75 pontos-base na Selic neste mês ante a aposta majoritária em 50 pontos não tem dúvidas de que o BC continuará pautando suas decisões por fatores puramente técnicos. "Como já vimos no passado, críticas ou comentários como esse não terão impacto no Copom", disse Camara. Ele observou, no entanto, que esse tipo de comentário causa um desgaste desnecessário. "O valor agregado é zero", disse.

Camara aposta num corte de 75 pontos pois considera que essa foi a mensagem contida na ata da última reunião do Copom. "A maioria no mercado interpretou que a ata sinaliza um corte de 50 pontos, mas entendo que ela aponta para uma redução de 75 pontos e os últimos indicadores mostram que há espaço para isso."

Henry Stipp, economista do fundo Threadneedle, também não crê que as declarações de Mantega terão impacto sobre as decisões do BC. "O Copom vai continuar seguindo sua cartilha técnica", disse Stipp. "Um fator importante a ser monitorado pela equipe monetária será o impacto da injeção de liquidez na economia causada pela queda dos juros em curso."

O analista observa, no entanto, que qualquer potencial atrito entre a Fazenda e o BC injeta incerteza nos mercados. "Declarações como essa do Mantega dão fôlego às especulações de curto prazo que eventualmente podem até ter um impacto nas expectativas e, conseqüentemente, nas decisões do B ."

Apesar de terem superado o susto inicial com a recente troca no ministério da Fazenda, as notórias diferenças de visões entre Mantega e Meirelles são fonte de um permanente monitoramento dos mercados. "Qualquer sinal de que há um estresse mais pronunciado entre o BC e a Fazenda tem o potencial de enervar os investidores mais inseguros", alertou um estrategista de um banco espanhol.

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