Quase 20% de armas apreendidas no Rio de Janeiro foram da polícia

Uma em cada cinco armas apreendidas no Rio de Janeiro pertenceu ao poder público antes de chegar nas mãos de criminosos. O rastreamento de 10.549 armas apreendidas entre 1998 e 2003 no Estado mostra que 1.928 (18,3%) pertenciam principalmente à Polícia Militar ou eram de uso particular de policiais militares. Os dados estão em sub-relatório apresentado nesta segunda-feira (27) pelo deputado Raul Jungmann (PPS-PE) à CPI do Tráfico de Armas. Para Jungmann, além dos casos de roubos e furtos, é provável que policiais vendam para bandidos suas armas pessoais.

O deputado identificou o que considera a raiz desse comércio ilegal entre policiais e criminosos: o fato de que, a cada dois anos, PMs e militares das Forças Armadas podem comprar três armas para uso pessoal, além de milhares de cartuchos e munições. Policiais civis podem comprar uma arma a cada dois anos. "O fato de uma em cada cinco armas presas com bandidos vir do poder público e de 59% dessas armas terem pertencido à Polícia Militar ou a policiais militares é um detalhe aterrador. Diante de uma tropa com problemas de orçamento, vocês podem imaginar o que acontece. Acredito que (a facilidade dos militares na compra de armas) é um fator para incrementar esse tipo de crime (o comércio clandestino de armas. Veja que a cada oito anos cada oficial, sub-oficial e sargento da PM ou das Forças Armadas terá acumulado 12 armas e 21 mil munições", afirmou Jungmann ao apresentar o sub-relatório.

Fabricação Nacional

Jungmann disse que, com o sub-relatório, que será acrescentado ao relatório final apresentado há uma semana pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS), pretende acabar com o "mito" de que as armas clandestinas vêm do exterior. Os dados apresentados pelo deputado mostram que 85% das armas apreendidas em São Paulo nos últimos três anos e meio eram de fabricação nacional. As estrangeiras tinham fabricação principalmente americana. No caso do Rio de Janeiro, 78% de 78.011 armas apreendidas entre 1998 e 2003 foram fabricadas no Brasil. No Distrito Federal, eram de fabricação nacional 87% das 25.446 armas apreendiddas desde 2003. Nos três levantamentos, os casos referem-se a armas apreendidas pelas polícias estaduais.

"Mania de brasileiro é botar a culpa nos outros, nos outros países, como forma de fugir à responsabilidade", diz o sub-relatório. "Embora o contrabando de armas e munições exista e deva ser combatido, o maior problema está aqui dentro", diz o documento, que atribui os desvios "à falta de controle dentro do território nacional".

Responsável pela fiscalização nos 17 mil quilômetros de fronteira no País, o delegado federal Mauro Spósito disse nesta segunda-feira que sua grande preocupação é com a entrada de armamento pesado, fabricado do exterior, especialmente fuzis modelo AK-47. "Esse armamento pesado é o emblema da violência e entra principalmente pelo Paraguai. O fluxo constante das armas ilegais é o Paraguai" disse o delegado. Segundo Spósito, a meta da Polícia Federal é aumentar o efetivo destacado para a fiscalização da fronteira de 1.700 para 2.400 policiais federais até 2008. Segundo o policial no entanto, o mais importante será a implementação dos Centros Federais de Fiscalização Integrada, que reunirão, além da Polícia Federal, a Receita Federal, o Ibama e outros órgãos federais.

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